Lies of P foi uma das surpresas mais agradáveis no género soulslike, trazendo uma abordagem única ao inspirar-se na história de Pinóquio e ao criar um mundo sombrio e cativante. A sua primeira expansão, Lies of P: Overture, chega como uma prequela que expande a narrativa e o universo do jogo original, oferecendo cerca de 12 horas de conteúdo adicional. Este DLC não reinventa a fórmula, mas aprofunda-a com novas áreas, inimigos e chefes, mantendo a essência que tornou o jogo base tão especial. Para os fãs que apreciaram a mistura de combate desafiante, história envolvente e estética gótica, Overture é uma adição que reforça o apelo do título. Esta análise explora o que esta expansão tem para oferecer, desde a jogabilidade até à narrativa, passando pelos elementos técnicos que compõem esta experiência.
Jogabilidade
A jogabilidade de Lies of P: Overture mantém-se fiel ao que tornou o jogo base um destaque no género soulslike. O combate continua a ser o cerne da experiência, com uma abordagem que privilegia a precisão, o tempo de reação e a gestão de recursos. A expansão não introduz mudanças drásticas no sistema de combate, o que é simultaneamente uma força e uma limitação. Por um lado, os fãs do jogo original encontrarão exatamente o que esperam: um sistema de combate rígido, inspirado em Bloodborne, que exige domínio de esquivas, bloqueios e contra-ataques. Por outro, aqueles que esperavam inovações significativas podem sentir que Overture joga pelo seguro. Entre as novidades, destaca-se a introdução de algumas armas novas, como garras de mão que favorecem construções baseadas em destreza, e amuletos que permitem personalizar ainda mais o estilo de jogo. Estas adições, embora bem-vindas, não alteram profundamente a dinâmica do combate, funcionando mais como extensões do sistema já existente. A expansão também apresenta uma nova árvore de melhorias que permite ajustar benefícios passivos, como aumento de dano ou maior resistência a ataques. Esta mecânica é interessante, mas sente-se como uma extensão natural do sistema de progressão do jogo base, sem oferecer uma revolução. As secções que precedem os confrontos com chefes continuam a ser mais acessíveis do que os próprios encontros, o que pode criar um contraste notável na dificuldade. Enquanto as áreas de exploração são desafiantes, mas geríveis, os chefes exigem um nível de habilidade e paciência que nem sempre parece equilibrado com o ritmo do resto do jogo. Ainda assim, a familiaridade do sistema de combate é reconfortante, e a diversão de enfrentar novos inimigos e chefes compensa a falta de inovação em mecânicas.

Mundo e história
O mundo de Lies of P: Overture é uma expansão do universo gótico e distópico de Krat, a cidade assolada por marionetas mecânicas e criaturas grotescas. A narrativa da expansão funciona como uma prequela, explorando eventos anteriores à história principal, o que adiciona camadas à lore já rica do jogo base. Com um elenco maioritariamente novo, Overture consegue ser acessível, embora exija algum conhecimento prévio para que as conexões com a história original sejam plenamente apreciadas. A expansão faz um trabalho louvável ao reintroduzir o jogador ao ambiente de Krat, com uma narrativa que mantém o tom sombrio e melancólico característico.
As novas áreas são um dos pontos altos da expansão. Desde um jardim zoológico infestado de animais enlouquecidos até um lago de gelo traiçoeiro onde piratas mecânicos disparam canhões, a variedade de cenários é impressionante. Estas áreas não só oferecem diversidade visual, mas também desafios únicos que mantêm a exploração interessante. No entanto, há momentos em que a expansão revisita territórios familiares, como uma secção de carnaval que ecoa espaços já vistos no jogo base. Esta repetição, embora não detratora, pode ser um pouco dececionante para quem esperava uma experiência completamente nova. A história em si é envolvente, com reviravoltas que preenchem lacunas da narrativa original de forma satisfatória. A expansão não tem medo de abraçar momentos dramáticos e por vezes exagerados, com um tom que por vezes se aproxima do anime, mas que se encaixa perfeitamente no universo do jogo. As respostas a questões deixadas em aberto no jogo base são bem executadas, e a introdução de novos personagens adiciona profundidade à experiência, mesmo que o impacto total dependa do conhecimento prévio da história.
Grafismo
Visualmente, Lies of P: Overture mantém o padrão elevado estabelecido pelo jogo base. A estética gótica de Krat continua a ser um dos pontos fortes, com ambientes detalhados que transmitem uma sensação de decadência e desespero. As novas áreas, como o jardim zoológico e o lago de gelo, são particularmente impressionantes, com designs que equilibram beleza e perigo. A atenção aos detalhes nos cenários, desde os destroços de uma cidade devastada até aos elementos mecânicos das marionetas, reforça a imersão. Os inimigos novos, como peixes mortos-vivos e animais deformados, são visualmente marcantes, embora alguns sejam reciclados do jogo base, o que pode quebrar um pouco a sensação de novidade. Os chefes, no entanto, são um destaque absoluto, com designs que variam entre o grotesco e o imponente. A animação dos combates, especialmente nos confrontos com chefes, é fluida e visualmente gratificante, com ataques que impressionam tanto pela escala como pela criatividade. A direção artística continua a ser um dos pilares da experiência, com uma paleta de cores escuras que reforça o tom sombrio da narrativa. A iluminação e os efeitos visuais, como o reflexo no gelo ou as partículas de poeira em ambientes abandonados, adicionam camadas de realismo ao mundo. Embora não haja grandes avanços técnicos em relação ao jogo base, a consistência visual é mais do que suficiente para manter os jogadores envolvidos.

Som
A componente sonora de Overture complementa perfeitamente a atmosfera do jogo. A banda sonora mantém o tom melancólico e épico do jogo base, com composições que alternam entre momentos de tensão e passagens mais emotivas. A música intensifica-se durante os combates com chefes, criando uma sensação de urgência que eleva a adrenalina. Os efeitos sonoros, desde o clangor das armas até aos rugidos dos inimigos, são bem executados e contribuem para a imersão. O trabalho de voz, embora não seja o foco principal, é competente e ajuda a dar vida às personagens. Os sons ambientais, como o vento a soprar em áreas abertas ou o eco de passos em corredores abandonados, reforçam a sensação de isolamento e perigo. Embora a componente sonora não traga grandes inovações, cumpre o seu papel de forma exemplar, complementando a narrativa e o gameplay sem nunca se tornar intrusiva.
Conclusão
Lies of P: Overture é uma expansão que entrega exatamente o que os fãs do jogo base poderiam esperar: mais do mesmo, mas com qualidade. As novas áreas, inimigos e chefes adicionam variedade a um mundo já rico, enquanto a narrativa preenche lacunas da história original de forma satisfatória. Embora a falta de inovações significativas nas mecânicas de jogabilidade possa desapontar alguns, a força do combate, a direção artística e a atmosfera envolvente compensam essa limitação. Os chefes, em particular, são um ponto alto, oferecendo desafios memoráveis que testam a habilidade do jogador. Para quem adorou Lies of P, Overture é uma adição essencial que reforça o estatuto do jogo como um dos melhores soulslikes disponíveis. Esta expansão é uma prova de que, mesmo sem reinventar a roda, é possível criar uma experiência envolvente e gratificante.