Monaco 2 é a nova entrada na série de jogos de stealth e ação da Pocketwatch Games, publicada pela Humble Games. Esta sequela chega mais de uma década depois do lançamento de Monaco: What’s Yours Is Mine, trazendo consigo várias novidades, incluindo uma mudança drástica na perspetiva visual. Se no primeiro jogo o estilo era 2D com uma apresentação minimalista, Monaco 2 aposta numa abordagem isométrica 3D que dá uma nova vida ao conceito de assaltos com personagens excêntricas. Apesar da mudança estética e de algumas inovações na jogabilidade, a essência mantém-se: infiltrações rápidas, saídas ainda mais velozes e uma boa dose de caos controlado. Agora com mapas gerados proceduralmente e personagens com nomes e personalidades mais marcantes, Monaco 2 tenta refrescar uma fórmula que já era sólida e divertida. Mas será que esta nova abordagem resulta, ou perde-se algo no processo? E será que o jogo é uma boa aposta para quem joga no Steam Deck? Vamos descobrir.
Jogabilidade
O coração de Monaco 2 continua a ser a execução de assaltos com uma equipa de personagens distintas, cada uma com habilidades únicas que podem ser usadas para manipular o ambiente, evitar ou neutralizar inimigos e recolher o máximo de loot possível antes de fugir. A grande novidade está na introdução da geração procedural dos níveis, o que teoricamente aumenta a rejogabilidade, embora na prática os mapas gerados acabem por parecer demasiado semelhantes uns aos outros. Cada personagem tem agora um nome e um conjunto de habilidades que podem ser desbloqueadas ao longo do tempo. Por exemplo, Sake pode fazer um dash rápido entre zonas, enquanto Uma pode atacar diretamente os inimigos, o que muda bastante a forma como se abordam os níveis. Esta variedade incentiva a revisitar níveis anteriores com outras personagens, especialmente para quem quer apanhar todos os diamantes e maximizar a pontuação.
Os níveis estão desenhados para serem jogados com rapidez, e o jogo recompensa movimentos ágeis e decisões espontâneas. Mesmo quando se é detetado por guardas, raramente se sente verdadeiro perigo, pelo menos durante a campanha principal. A dificuldade geral é acessível, o que torna a experiência mais fluida, mas também menos tensa do que o esperado num jogo de stealth. Existem itens como lockpicks, bestas e bombas de fumo para ajudar a ultrapassar obstáculos e facilitar fugas, com destaque para estas últimas, que parecem estar um pouco desequilibradas de tão eficazes que são.
O verdadeiro desafio surge para os jogadores mais competitivos, que tentam otimizar cada nível para obter o máximo de lucro no menor tempo possível. Nesses casos, pequenos erros fazem a diferença e a pressão aumenta consideravelmente. Quando o jogador perde, é obrigado a escolher uma nova personagem para completar a missão e resgatar a anterior, o que adiciona uma camada de estratégia interessante à progressão.

Mundo e história
Tal como o seu antecessor, Monaco 2 não aposta fortemente na narrativa, mas há pequenas melhorias notórias. As personagens agora têm nomes e vozes, e existe algum esforço em lhes dar personalidade através de diálogos e expressões. No entanto, a história continua a ser mais um pano de fundo do que um verdadeiro motor para a ação. Os cenários variam entre hotéis, museus e edifícios altamente vigiados, mas mesmo com estas diferenças temáticas, a sensação geral é que os ambientes se repetem em termos de estrutura e desafios. A ausência de uma narrativa mais envolvente e de missões com objetivos mais variados torna as missões um pouco formulaicas, especialmente após várias horas de jogo. Existe um modo chamado Daily Heists, desbloqueado após completar a campanha principal, que introduz níveis com maior dificuldade e colocações aleatórias de inimigos e objetos. Este modo é bem-vindo para quem procura mais desafio, mas o facto de estar bloqueado até ao final da história principal parece um erro de design. Teria sido mais interessante se cada nível desbloqueasse gradualmente a sua versão diária.
Grafismo
A transição de Monaco 1 para o visual isométrico 3D de Monaco 2 é, sem dúvida, a alteração mais visível. Os novos gráficos são mais ambiciosos, permitindo uma leitura espacial mais rica e uma apresentação mais moderna. No entanto, esta mudança não é isenta de problemas. O estilo visual isométrico dificulta por vezes a leitura de elementos importantes, especialmente em ecrãs pequenos como o do Steam Deck. Guardas, itens e objetos interativos são difíceis de identificar, o que prejudica a experiência, principalmente quando se tenta planear movimentos com precisão. Embora exista a possibilidade de fazer zoom, isso limita a visão do cenário e afeta negativamente a estratégia. Além disso, o desempenho gráfico é inconsistente. No Steam Deck, os fotogramas por segundo variam bastante entre os 25 e os 55 FPS, consoante a ação no ecrã. A melhor forma de mitigar este problema passa por bloquear os FPS a 30, colocar as texturas em médio e desativar o MSAA. Mesmo assim, algumas quedas são inevitáveis e os tempos de carregamento são longos, o que quebra o ritmo do jogo.

Som
O trabalho sonoro de Monaco 2 é sólido, mas não particularmente memorável. As personagens têm agora vozes, o que ajuda a dar-lhes personalidade, e os efeitos sonoros acompanham bem a ação furtiva e o caos que se instala durante as fugas. Desde os sons das fechaduras a serem forçadas até os alarmes a tocar, tudo cumpre a sua função de forma competente. A banda sonora segue uma linha mais discreta, focando-se em temas que acompanham o ritmo da ação sem se tornarem demasiado intrusivos. Não há grandes destaques neste campo, mas também não há falhas evidentes. Funciona bem como pano de fundo para o que acontece no ecrã. Em termos de acessibilidade, o jogo não apresenta opções notáveis. A ausência de ferramentas como redimensionamento de UI ou personalização do tamanho do texto é uma limitação, especialmente para quem joga em dispositivos portáteis. É recomendável jogar em modo docked ou num ecrã maior para evitar frustrações.
Conclusão
Monaco 2 tenta modernizar uma fórmula que já era divertida, com novos visuais, geração procedural e personagens mais desenvolvidas. No entanto, nem todas as mudanças resultam como esperado. A dificuldade acessível e a estrutura repetitiva das missões fazem com que a experiência possa tornar-se monótona mais depressa do que se esperaria. O modo Daily Heists é uma boa adição, mas chega demasiado tarde na progressão. Na Steam Deck, o jogo é tecnicamente jogável, mas longe de estar otimizado. Problemas de performance, dificuldade em distinguir detalhes importantes no ecrã e tempos de carregamento longos tornam a experiência menos satisfatória. É recomendável jogar em ecrã grande e com as definições ajustadas para minimizar frustrações. Ainda assim, Monaco 2 mantém o charme da série e continua a ser uma boa opção para sessões curtas de jogo, especialmente em modo cooperativo, onde a comunicação e coordenação entre jogadores elevam a diversão a outro nível. Para os fãs do primeiro jogo, há aqui conteúdo suficiente para justificar uma visita, mesmo que nem tudo brilhe com a mesma intensidade.