Análise: NOBUNAGA’S AMBITION: Awakening

Há franquias que resistem à passagem do tempo como verdadeiros monumentos da história dos videojogos, e Nobunaga’s Ambition é sem dúvida uma delas. Com mais de quatro décadas de existência, esta série de estratégia japonesa tem oferecido aos jogadores mais dedicados e pacientes um desafio táctico profundo ambientado no Japão feudal. Nobunaga’s Ambition: Awakening é a mais recente entrada nesta série de culto, chegando agora à Nintendo Switch com o objetivo de modernizar a fórmula sem comprometer a sua identidade clássica. No entanto, será que esta complexidade histórica e mecânica ainda encontra espaço no panorama atual, onde muitos procuram acessibilidade imediata? Esta é uma experiência que exige perseverança, atenção ao detalhe e, acima de tudo, uma enorme dose de paciência – ou como diriam os japoneses, gaman. Este não é um título para quem quer vitórias rápidas ou recompensas instantâneas. Awakening é um jogo meticuloso, onde cada decisão importa e onde o erro se paga com horas de jogo perdidas. Para os fãs experientes do género, esta é uma dádiva rara. Para os novatos, uma barreira difícil de transpor. Mas se estás disposto a ultrapassar o muro inicial, há aqui um jogo riquíssimo e envolvente à tua espera, com uma profundidade que poucos simuladores conseguem igualar.

Jogabilidade

Nobunaga’s Ambition: Awakening coloca o jogador no papel de um dos muitos líderes de clã durante o turbulento Período Sengoku do Japão. O objetivo é simples na teoria: conquistar e unificar o país. No entanto, a forma como o fazes está repleta de opções, nuances e decisões estratégicas que vão muito além do comum. Este não é apenas um jogo de batalhas, mas também de gestão de recursos, política, economia e diplomacia. Cada oficial que escolhes, cada ordem que dás e cada território que tomas tem implicações de longo prazo. A jogabilidade assenta numa estrutura complexa de menus e submenus, onde planeamento e análise são essenciais. Antes de sequer iniciares uma campanha, terás de escolher entre dezenas de cenários históricos diferentes, cada um com as suas particularidades, líderes disponíveis e condições iniciais. O número de clãs jogáveis é impressionante, e todos apresentam características únicas – tanto a nível dos seus líderes como dos seus oficiais e recursos territoriais. Esta variedade assegura uma longevidade assinalável, pois dificilmente duas campanhas serão iguais.

Durante o jogo, terás de nomear oficiais para tarefas administrativas, reforçar a economia local, desenvolver infraestruturas, manter a ordem nas cidades, gerir alianças e, claro, preparar-te para a guerra. A logística por detrás de cada movimento militar é tão importante como a batalha em si. Tens de garantir que tens comida suficiente, moral elevada, forças bem posicionadas e oficiais competentes. Falhar num destes pontos pode significar ver o teu império desmoronar rapidamente. Infelizmente, o jogo falha em tornar esta complexidade mais acessível aos iniciantes. O tutorial, embora bem-intencionado, é superficial e salta muitas informações vitais. Conceitos como o impacto real das estatísticas dos personagens ou a forma correcta de travar uma guerra não são devidamente explicados. O resultado é que o jogador é forçado a aprender pela tentativa e erro, num jogo que não perdoa erros. Isto poderá afastar muitos jogadores menos persistentes.

Mundo e história

Awakening é, antes de mais, uma recriação histórica detalhada de uma das eras mais fascinantes do Japão. O Período Sengoku foi um tempo de guerra constante, onde senhores feudais, conhecidos como daimyo, lutavam pelo controlo da nação. O jogo recria este contexto com grande fidelidade, permitindo-te assumir o comando de figuras históricas como Oda Nobunaga, Takeda Shingen ou Tokugawa Ieyasu. A riqueza de detalhes históricos é impressionante: desde as relações entre clãs, aos eventos políticos e até à progressão tecnológica da época, tudo está representado com cuidado e realismo. Este realismo contribui fortemente para a imersão do jogador. A sensação de estar a moldar a história do Japão é constante, e o jogo até permite alterar o curso histórico. Podes, por exemplo, levar Nobunaga à vitória total, algo que na realidade não aconteceu, ou impedir que a dinastia Tokugawa suba ao poder. Cada decisão tem impacto, e as várias campanhas disponíveis oferecem diferentes perspectivas e oportunidades. A narrativa em Awakening é emergente, ou seja, não segue uma história linear, mas sim uma sequência de eventos históricos que podes influenciar com as tuas ações. Através de textos, eventos e diálogos entre personagens, o jogo constrói uma cronologia viva, onde cada jogada tua acrescenta um novo capítulo à história alternativa que estás a criar. Esta abordagem torna cada sessão de jogo numa experiência única e pessoal.

Grafismo

Visualmente, Nobunaga’s Ambition: Awakening apresenta-se de forma funcional e sóbria. Como é típico nos jogos de estratégia da Koei Tecmo, o foco está na clareza da informação e na gestão eficaz dos recursos visuais, mais do que em grandes efeitos visuais ou animações espetaculares. Os menus são numerosos e densos, mas geralmente bem organizados. No entanto, a legibilidade sofre em algumas situações, especialmente no modo portátil da Nintendo Switch, onde o texto é pequeno e difícil de ler. Mesmo na dock, o tipo de letra de baixa resolução prejudica a apresentação geral. Durante as batalhas, o jogo opta por uma perspetiva bastante afastada, o que dificulta a leitura do campo de batalha e pode tornar a ação confusa. Ainda assim, é possível perceber as movimentações e o posicionamento geral das tropas, o que é o mais importante para tomar decisões táticas.

Um dos pontos mais fortes a nível visual está nas ilustrações dos personagens e nas cutscenes que surgem em momentos chave. Tal como em outros títulos históricos da Koei Tecmo, como Nioh ou Wo Long, as artes de personagem são detalhadas, carismáticas e cheias de personalidade. O problema surge na introdução constante de novas figuras, o que torna difícil memorizar quem é quem nas fases iniciais da campanha. Apesar destas limitações, o estilo visual de Awakening serve bem o seu propósito: apresentar um mundo coerente, historicamente consistente e funcional para a estratégia que o jogo exige.

Som

No campo sonoro, Nobunaga’s Ambition: Awakening oferece uma banda sonora adequada ao tom histórico e dramático do jogo. A música acompanha bem os momentos de tensão, de planeamento e de guerra, com temas que utilizam instrumentos tradicionais japoneses misturados com composições orquestrais modernas. A atmosfera é cuidadosamente construída, e apesar de a música ser muitas vezes discreta, contribui para a imersão no cenário do Japão feudal. Os efeitos sonoros são igualmente competentes. Cada clique nos menus, cada ordem militar, cada evento que ocorre é acompanhado por sons distintos que ajudam a manter o jogador informado sem necessidade de olhar para todos os cantos do ecrã. Durante os combates, os sons de marcha, de ataque e de retirada estão presentes, mas sempre com um certo distanciamento, reflectindo o ponto de vista estratégico do jogador e não o da acção no terreno. As vozes estão em japonês, o que contribui significativamente para a autenticidade da experiência. A interpretação dos actores é convincente, mesmo quando o texto apresentado nos menus parece mais seco. A ausência de uma localização total para outras línguas poderá ser um entrave para alguns, mas para os que apreciam a fidelidade ao material histórico, esta escolha é um ponto a favor.

Conclusão

Nobunaga’s Ambition: Awakening é uma obra monumental dentro do género da estratégia. Não é um jogo para todos, mas sim para aqueles que procuram profundidade, desafio e fidelidade histórica acima de tudo. É uma experiência exigente, que não tem medo de castigar o jogador pelos seus erros e que quase parece feita de propósito para recompensar apenas os mais perseverantes. A sua curva de aprendizagem íngreme, os tutoriais insuficientes e a interface algo arcaica podem facilmente desencorajar os iniciantes, mas quem conseguir ultrapassar esses obstáculos encontrará aqui uma das experiências mais ricas e gratificantes que o género tem para oferecer. A apresentação gráfica podia ser mais cuidada, especialmente tendo em conta as limitações da versão Switch, mas as ilustrações de personagens e a direcção artística compensam em parte essas falhas. A componente sonora é eficaz e envolvente, ajudando a construir um ambiente imersivo sem nunca se sobrepor ao foco estratégico do jogo. Em última análise, Awakening é uma celebração da herança da série Nobunaga’s Ambition e do próprio Japão feudal. Oferece um palco onde podes reescrever a história com as tuas próprias mãos, com toda a complexidade e exigência que isso acarreta. Não é fácil, não é acessível, mas é exatamente isso que o torna especial. Para os verdadeiros estrategas, esta é uma batalha que vale a pena travar.

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