The Cecil: The Journey Begins marca a estreia da Genie Interactive Games no mundo dos videojogos, com um título de terror em primeira pessoa que promete levar os jogadores por uma viagem macabra pelas entranhas do famoso e infame Hotel Cecil. Conhecido pelo seu passado recheado de mistério, mortes suspeitas e histórias que parecem saídas de um guião de terror, o local serve como base para uma aventura que mistura puzzles, ambientes opressivos e elementos sobrenaturais. É impossível não traçar paralelos com clássicos do género como Resident Evil, sobretudo nos momentos iniciais em que a atmosfera do jogo nos remete diretamente para o icónico Spencer Mansion. No entanto, ao longo das cerca de oito horas de jogo, The Cecil: The Journey Begins revela-se uma experiência com altos e baixos, alternando entre momentos de tensão bem construídos e outros que parecem existir apenas para alongar artificialmente a duração da campanha.
Jogabilidade
A experiência de jogo assenta em exploração, resolução de puzzles e alguma mecânica de sobrevivência. O protagonista, John, acorda preso numa cela dentro do hotel e, após resolver o primeiro enigma, parte em busca da sua esposa Sarah, explorando o interior labiríntico do edifício. À primeira vista, os puzzles parecem bem integrados no cenário e contribuem para a construção de um ambiente opressivo. No entanto, rapidamente se percebe que grande parte do tempo é consumida por tarefas repetitivas que implicam deslocações constantes entre zonas do hotel para transportar um único item. Esta estrutura transforma a progressão numa espécie de maratona de recados, que começa por ser aceitável mas se torna frustrante com o tempo. A ausência de variedade e a falta de criatividade nos desafios prejudicam significativamente o ritmo do jogo, sobretudo na sua secção intermédia, onde a repetição se torna mais evidente.
Adicionalmente, as opções de personalização são escassas, o que prejudica a experiência, principalmente para jogadores que gostam de ajustar os seus jogos à sua medida. Um exemplo claro é o motion blur, que deve ser desativado manualmente para evitar desconforto visual, mas mesmo esta opção está mal implementada, sem qualquer feedback visual claro.

Mundo e história
The Cecil: The Journey Begins começa com uma premissa interessante. A ideia de explorar um local carregado de histórias sinistras e ligá-lo a uma narrativa pessoal, com a busca de John por Sarah, é promissora. Nos primeiros momentos, o jogo consegue criar uma sensação de mistério eficaz, com ambientes sombrios e situações perturbadoras que nos fazem querer saber mais. Contudo, à medida que a história avança, essa curiosidade esmorece. Muitos locais parecem ter sido criados com o intuito de albergar narrativas ou puzzles que nunca se concretizam. Há áreas que transmitem a sensação de terem sido pensadas para um regresso mais tarde no jogo, mas que acabam por não ter qualquer utilidade. Esta falta de payoff narrativo e a presença de secções que parecem inacabadas ou redundantes sugerem cortes de conteúdo ou ambições que não foram totalmente concretizadas. Apesar disso, há momentos de criatividade, como o quarto 404, que contém uma homenagem aos apoiantes do projeto durante as suas fases iniciais. É um gesto simpático e que mostra uma preocupação em valorizar a comunidade, mesmo num jogo com tantos pontos por melhorar.
Grafismo
A nível visual, The Cecil: The Journey Begins tenta emular o estilo sujo e degradado de outros clássicos do terror. Corredores escuros, paredes com papel rasgado, figuras inquietantes e sombras bem posicionadas criam uma atmosfera inquietante que, por vezes, cumpre bem o seu papel. Há uma clara inspiração em Resident Evil 7 e no seu famoso Baker House, tanto na paleta de cores como na disposição dos cenários. No entanto, o jogo sofre de sérios problemas de desempenho. Mesmo em sistemas muito acima dos requisitos recomendados, a framerate desce abruptamente sem razão aparente, oscilando entre os 30 e os 5 frames por segundo. Esta instabilidade compromete a jogabilidade e retira imersão, sobretudo em zonas mais escuras onde o controlo preciso é essencial. A fraca otimização é um dos maiores obstáculos da experiência, e torna-se difícil recomendar o jogo sem a promessa de correções futuras por parte dos desenvolvedores. A própria interface é minimalista, por vezes até em demasia. As opções gráficas são limitadas, e a ausência de indicações claras sobre as definições aplicadas pode levar a alguma frustração inicial.

Som
O áudio é, sem dúvida, um dos pontos fortes do jogo. A Genie Interactive Games optou por uma abordagem contida e eficaz, com uma banda sonora discreta que surge apenas nos momentos certos, potenciando o impacto de certas cenas. Esta estratégia de menos é mais funciona particularmente bem em jogos de terror, onde o silêncio pode ser tão eficaz como o ruído. Os efeitos sonoros estão bem trabalhados e ajudam a criar tensão, com portas a ranger, passos distantes e ruídos inexplicáveis a contribuírem para um ambiente carregado. O jogo é totalmente dobrado, o que é sempre uma mais-valia num título indie. Embora existam algumas falas menos inspiradas, o trabalho vocal no geral é competente e ajuda a manter o jogador investido na narrativa. É louvável ver um estúdio novo apostar em talento real para dar vida às personagens. Mesmo com um guião que por vezes perde o rumo, as interpretações ajudam a dar corpo ao enredo.
Conclusão
The Cecil: The Journey Begins é um título ambicioso que mostra que a Genie Interactive Games tem potencial, mas ainda tem muito a aprender. A base está lá: um ambiente interessante, uma premissa sólida, um bom design sonoro e alguns momentos de inspiração. No entanto, os problemas de desempenho, a repetitividade da jogabilidade e a narrativa que se perde no próprio labirinto do hotel impedem que o jogo alcance o seu verdadeiro potencial. É um jogo que começa bem, mas que se arrasta até um final que não consegue satisfazer. Mesmo assim, o gancho deixado no final deixa antever uma sequela, e se os desenvolvedores conseguirem aprender com os erros cometidos neste primeiro capítulo, pode muito bem vir aí algo especial. Para já, The Cecil: The Journey Begins é uma experiência interessante para fãs hardcore do género, mas difícil de recomendar a um público mais generalista enquanto não forem corrigidos os problemas técnicos que o afetam.