Análise: Underquest

Underquest é um roguelite de fantasia que mistura combate automático com uma gestão de inventário surpreendentemente profunda. Desenvolvido com uma estrutura simples mas desafiante, o jogo oferece uma experiência focada na criação de builds através da combinação de itens e feitiços, num universo onde cada detalhe do teu equipamento pode fazer a diferença. Numa primeira impressão pode parecer mais um jogo indie entre tantos outros no género, mas basta alguns minutos de jogo para perceber que há aqui uma proposta diferente, especialmente para quem gosta de jogos com ritmo acelerado e decisões constantes. Underquest é também um jogo que desafia a paciência e a organização do jogador, testando não só a capacidade de adaptação, mas também o gosto por microgestão e otimização.

Jogabilidade

O coração de Underquest está na sua jogabilidade híbrida. Apesar do combate ser automático, o jogador tem controlo total sobre o inventário do seu herói, que é onde a magia realmente acontece. Durante os combates, é possível usar poções, lançar feitiços e equipar novas peças de armadura em tempo real, o que acrescenta uma camada táctica muito interessante. A gestão do inventário é constante, com novos itens a aparecerem regularmente. A criação de feitiços é talvez o elemento mais satisfatório. Combinar dois elementos pode originar feitiços únicos e, com o progresso, é possível melhorar ainda mais estes ao fundir cópias do mesmo feitiço. Isto cria um sistema onde a experimentação é recompensada e onde o jogador é incentivado a explorar diferentes combinações até encontrar aquela build perfeita para derrotar os bosses.

As batalhas contra bosses são um verdadeiro teste de tudo o que o jogador aprendeu até ao momento. Há três bosses principais, cada um com estratégias únicas, e as lutas exigem não só preparação como também reflexos rápidos para aproveitar o tempo de pausa do inventário nas dificuldades mais baixas. Já em dificuldades mais altas, não há qualquer abrandamento, o que torna o desafio ainda maior.

Mundo e história

Underquest decorre num mundo subterrâneo, onde os últimos vestígios da civilização tentam sobreviver longe da superfície selada. Embora o jogo não seja particularmente centrado na narrativa, existe um fio condutor que liga as masmorras à taberna subterrânea, onde habitam várias personagens com histórias próprias. Estas personagens são mais do que simples NPCs. Cada uma oferece bónus especiais que podem ser desbloqueados ao longo da aventura. Conhecer as suas histórias, ainda que simples, ajuda a criar um laço com o mundo e torna o regresso à base mais envolvente. A sensação de progresso é reforçada pela melhoria constante do herói e pela descoberta de novos elementos da narrativa à medida que se exploram as masmorras repetidamente. Apesar da simplicidade do enredo, há aqui uma tentativa clara de criar uma mitologia em torno deste mundo fechado, onde os clãs subterrâneos guardam os segredos de um passado misterioso e onde cada masmorra parece esconder pistas sobre o que aconteceu à superfície. Este mistério dá uma camada adicional de interesse ao loop de jogo, mesmo que nunca chegue a ser verdadeiramente desenvolvido em profundidade.

Grafismo

Visualmente, Underquest adota um estilo modesto mas funcional. O grafismo é claramente de inspiração retro, com sprites simples mas eficazes, que transmitem bem as ações e o ambiente sem grande detalhe. Os menus e o inventário são limpos, fáceis de navegar e com um design bastante intuitivo, o que é fundamental num jogo onde a gestão do espaço e a rapidez nas decisões são elementos centrais. As animações são básicas, mas cumprem o seu papel. Os efeitos dos feitiços e das interações entre itens são suficientemente distintos para que o jogador nunca se sinta perdido em combate, mesmo quando a ação se torna mais caótica. Os bosses têm algum carisma visual, cada um com a sua identidade, mas não se espere um espetáculo gráfico. O objetivo aqui é claramente a funcionalidade e a clareza, algo que o jogo cumpre com eficácia.

Som

A componente sonora de Underquest acompanha a simplicidade do seu grafismo. A música é discreta, mas eficaz, criando uma atmosfera coerente com o ambiente subterrâneo e misterioso do jogo. As faixas não são memoráveis, mas ajudam a manter o ritmo do jogo sem se tornarem repetitivas, mesmo após várias horas de jogo. Os efeitos sonoros cumprem a sua função de forma competente. Cada ação no inventário, combinação de itens ou ataque tem o seu som característico, o que facilita a compreensão rápida do que está a acontecer. A ausência de vozes pode ser sentida como uma oportunidade perdida em termos de imersão, mas acaba por não fazer grande falta, tendo em conta o estilo mais minimalista do jogo.

Conclusão

Underquest é um título que surpreende pela forma como junta mecânicas simples e complexas num sistema de jogo coeso e desafiante. Apesar do aspeto algo básico e da ausência de uma narrativa profunda, é na jogabilidade que o jogo brilha, oferecendo uma experiência rica em experimentação, otimização e tomada de decisões rápidas. Não é um jogo para todos. A ausência de combate manual pode afastar quem procura ação direta, enquanto a dificuldade nas dificuldades mais altas pode frustrar jogadores menos pacientes. No entanto, para quem aprecia a mistura de roguelite com gestão de recursos e para quem gosta de testar combinações e construir builds eficientes, Underquest tem muito para oferecer. A presença de conquistas perdíveis, a necessidade de fazer cópias de segurança do progresso e a falta de um sistema de aviso ao iniciar um novo jogo são pontos que ainda precisam de ser melhorados. Mas são detalhes que não retiram mérito ao que está aqui apresentado. Com cerca de 5 a 6 horas para alcançar os 100%, Underquest é uma proposta sólida e cativante no universo indie, que pode facilmente conquistar os fãs do género.

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