Desenvolvido e publicado pelo criador independente Rowye, Darkenstein 3D é uma declaração de amor assumida a Wolfenstein e aos seus congéneres de estética retro, transportando-nos para a Alemanha dos anos 40, num cenário de vingança sangrenta, humor mordaz e um cão raptado que define o tom. A data de lançamento permanece incerta, mas, mesmo na sua fase alfa, este FPS retro já transborda personalidade — do tipo barulhento, visceral e ligeiramente desequilibrado. Darkenstein 3D não é apenas um jogo; é uma experiência que nos agarra e não larga, prometendo caos e diversão em doses generosas.
Jogabilidade
A jogabilidade de Darkenstein 3D é crua e directa, como deve ser num shooter à moda antiga. Não há sistemas de cobertura ou assistência de mira, e isso é intencional. Esquivar-se de projéteis, calcular o momento certo para atacar e gerir a resistência são as chaves para sobreviver. Os níveis são curtos, mas densos em conteúdo para explorar — chaves coloridas para encontrar, objectos destrutíveis que escondem tesouros ou surpresas divertidas e caminhos alternativos que recompensam os mais atentos. Os segredos estão por todo o lado, e os power-ups conquistam-se com curiosidade, sem facilidades.
Disparar é uma experiência visceral e frenética, especialmente quando se passa da pistola inicial para a metralhadora, com granadas que parecem exageradamente poderosas de uma forma deliciosamente adequada. Agachar melhora a precisão, permitindo acertar em inimigos menores, mas não menos perigosos, como soldados zumbificados ou cães alemães agressivos. É absurdo, é gratificante, é divertido. No entanto, o jogo não mostra piedade. Algumas salas lançam uma quantidade avassaladora de inimigos sem aviso, e os checkpoints são o único recurso — não há gravação manual. Além disso, quem quiser descobrir todos os segredos pode ficar frustrado, já que alguns níveis terminam abruptamente ao entrar num túnel, interrompendo a exploração sem qualquer sinal prévio.

Mundo e história
Em Darkenstein 3D, assumimos o papel de Hobo, uma figura que não é bem um soldado, nem propriamente um herói, mas que tem raiva suficiente para disparar primeiro e nunca fazer perguntas. Quando o fiel cão Gunther é raptado numa rusga nazi, a missão é clara: armar-se até aos dentes, invadir bunkers e deixar um rasto de destruição. É uma história clássica de vingança, contada com um piscar de olho e uma chuva de estilhaços. A mistura de absurdo e brutalidade define a identidade do jogo. Num momento, estamos a lamentar a perda de um companheiro; no seguinte, a roubar-lhe as botas e a desfazer caixotes em pedaços. Até a selecção de dificuldade é excêntrica — escolhe-se o nível de desafio ao atravessar um túnel e pressionar um botão que responde com um cacarejo de galinha. Aqui não há espaço para introspecção sombria: apenas carnificina, segredos e cura à base de cerveja.
Grafismo
Visualmente, Darkenstein 3D acerta em cheio na estética retro dos shooters. Sprites robustos, paletas de cores vibrantes e um toque de sujidade visual criam uma atmosfera autêntica e envolvente. A fluidez da taxa de fotogramas é impecável — nada surpreendente, dado os requisitos mínimos do sistema — e, embora alguns glitches da fase alfa revelem partes do mapa que não deveriam ser vistas, nada compromete a experiência. A iluminação tem um papel inesperadamente importante: muitas áreas são completamente escuras sem uma lanterna, e nem todas as armas permitem equipá-la. Isso pode ser frustrante em secções subterrâneas escuras, especialmente quando a lanterna desaparece entre níveis. Ainda assim, é mais uma aresta por limar do que um problema grave. O mesmo se aplica a certas caixas que teimam em não quebrar, mesmo com resistência de sobra. São pormenores típicos de uma versão alfa.

Som
No campo sonoro, a banda sonora de Darkenstein 3D é um verdadeiro destaque. Tambores estrondosos e riffs de guitarra electrizantes acompanham o ritmo frenético do combate, especialmente nas salas de emboscada onde tudo explode e até o nosso companheiro ratazana ataca tornozelos com ferocidade. Sim, há uma ratazana no jogo, e é implacável. A música intensifica a adrenalina, criando uma sinergia perfeita com a acção. Os efeitos sonoros, desde os disparos às explosões, são igualmente satisfatórios, reforçando a sensação de impacto de cada confronto. É um trabalho sonoro que eleva a experiência e faz com que cada batalha pareça ainda mais épica.
Conclusão
Darkenstein 3D, mesmo na sua fase alfa, já deixa uma marca mais forte do que muitos shooters finalizados. É rápido, caótico e repleto de carisma — um jogo que sabe exactamente o que quer ser e não pede desculpas por isso. Claro que tem arestas por polir. Algumas peculiaridades na progressão e problemas com a iluminação precisam de ajustes. No entanto, há algo de irresistível num jogo tão confiante no seu caos. Para quem sente saudades dos tempos em que os shooters se resumiam a uma arma, uma sala cheia de inimigos e pura adrenalina, Darkenstein 3D tem tudo para se tornar uma obsessão. É um título para manter debaixo de olho — e as botas sempre prontas para saquear. Com mais polimento, pode vir a ser um clássico moderno do género retro FPS.