Antevisão: Infinite Onslaught

Os tempos dourados dos salões de arcada, em que se empunhavam pistolas de plástico para eliminar hordas de inimigos pixelizados, parecem pertencer a um passado distante. Vários jogos como Operation Wolf ou Area 51 marcaram gerações, não só pelo frenesim da jogabilidade, mas também pela experiência física de apontar e disparar com uma arma de brincar. Infinite Onslaught, da jovem produtora canadiana Bonkers Builders, tenta precisamente recuperar essa magia, mas sem necessidade de hardware especializado. Em vez disso, a solução encontrada é surpreendente e simples: o teclado.

Estreando a sua chamada tecnologia “Keyboard Basher”, os Bonkers Builders trazem um título que homenageia os clássicos do género, enquanto aposta numa acessibilidade que permite a qualquer jogador sentir-se num autêntico campo de batalha arcade, seja num portátil ou num desktop. Com uma premissa de vingança, acção desmedida e uma direcção artística ousadamente caricatural, Infinite Onslaught é mais do que uma ode ao passado: é uma reinterpretação moderna, criativa e, acima de tudo, divertida de uma fórmula quase esquecida.

Jogabilidade

A proposta de Infinite Onslaught parte de uma premissa inovadora: transformar o teclado num dispositivo de pontaria precisa. A tecnologia “Keyboard Basher”, ainda em fase de patenteamento, mapeia teclas para áreas específicas do ecrã, permitindo ao jogador reagir rapidamente a ameaças ao pressionar a tecla correspondente. A execução surpreende pela precisão e fluidez, tornando possível algo que antes só se associava a periféricos dedicados. Mas esta abordagem não se limita a recriar o que os jogos de pistola já faziam. Pelo contrário, expande o conceito: a possibilidade de alvejar múltiplos inimigos em simultâneo, algo impossível com uma pistola de luz tradicional, oferece novas camadas de complexidade. A curva de aprendizagem é desafiante mas justa – os jogadores mais hábeis conseguem despachar ondas de inimigos com uma fluidez impressionante, quase como se estivessem a tocar um instrumento musical com os dedos. O arsenal é vasto e variado, com armas que não só oferecem estilos de jogo diferentes como também beneficiam de combinações estratégicas. Cada combate é uma dança entre precisão e rapidez, exigindo reacções imediatas, mas também planeamento táctico. É um jogo que recompensa claramente a perícia, com uma dificuldade construída não por frustração artificial, mas sim por exigência de domínio real dos controlos.

Mundo e história

Em Infinite Onslaught, o jogador encarna Matt Johntrix, um veterano de guerra traído numa operação secreta. Motivado pela sede de justiça, Matt parte numa missão de vingança contra um exército de inimigos que se interpõem no seu caminho. A história, embora simples, cumpre bem o seu papel: serve de fio condutor para a acção desenfreada, sem se sobrepor à jogabilidade. A narrativa é apresentada através de cutscenes animadas que reforçam o estilo visual do jogo e ajudam a contextualizar cada missão. Embora não se trate de uma história particularmente complexa ou original, é eficaz no que se propõe: criar uma motivação para o jogador continuar a progredir, enquanto empresta uma camada extra de personalidade à experiência. Há também um certo tom humorístico, quase paródico, em toda a construção narrativa – desde os nomes dos personagens até ao estilo de escrita dos diálogos. É claro que o jogo não se leva demasiado a sério, mas fá-lo com inteligência, usando o exagero como parte da sua identidade.

Grafismo

Visualmente, Infinite Onslaught abraça uma estética cartunesca que mistura ambientes sujos e industriais com explosões exageradas e personagens caricaturais. É um estilo que remete ao passado sem tentar replicá-lo directamente, optando por um visual próprio que combina elementos retro com fluidez moderna. Os cenários são variados e ricos em detalhe, alternando entre bases militares, fábricas abandonadas e zonas de guerra urbanas. Os efeitos visuais são vistosos, com explosões coloridas, impactos viscerais e animações cheias de personalidade. Cada inimigo tem animações únicas de morte, o que contribui para uma sensação constante de frescura nos combates. A paleta de cores é ousada, com muito contraste e saturação, reforçando a natureza frenética do jogo. Há um cuidado claro na direcção de arte, que apesar de optar por um estilo estilizado, nunca descura a legibilidade – algo crucial num jogo onde identificar rapidamente alvos é fundamental.

Som

A componente sonora de Infinite Onslaught acompanha bem o ritmo acelerado da acção. A banda sonora aposta em faixas energéticas com influências electrónicas e industriais, que se adaptam ao desenrolar dos níveis e ajudam a manter a tensão constante. Embora não seja memorável por si só, cumpre perfeitamente o seu papel como pano de fundo sonoro para o caos que se desenrola no ecrã. Os efeitos sonoros são satisfatórios, com sons de armas distintos e potentes, explosões impactantes e um bom uso de feedback auditivo para acções como acertos críticos ou desbloqueio de habilidades. A voz do protagonista e dos vilões é usada com parcimónia, mas reforça o carácter exagerado do jogo, contribuindo para o tom de série B que o título parece abraçar. O design sonoro, no geral, mostra um cuidado em equilibrar clareza com espetáculo. Num jogo onde cada fração de segundo conta, é essencial que o som ajude a informar o jogador, e Infinite Onslaught consegue esse equilíbrio com competência.

Conclusão

Infinite Onslaught é um excelente exemplo de como a inovação pode surgir através da simplicidade. Ao reutilizar uma ferramenta tão banal como o teclado para reinventar um género adormecido, a Bonkers Builders oferece uma experiência única, ao mesmo tempo familiar e refrescante. Não é apenas um exercício de nostalgia – é uma reinterpretação moderna de um estilo de jogo que merece mais reconhecimento nos dias de hoje. Com a sua jogabilidade desafiante, controlos precisos, um visual vibrante e um tom narrativo leve mas eficaz, o jogo marca uma estreia promissora para o estúdio. A decisão de tornar a tecnologia Keyboard Basher disponível em código aberto para projectos sem fins lucrativos é igualmente louvável e pode muito bem inspirar outros criadores a explorarem caminhos semelhantes. O lançamento em formato demo com três níveis é uma forma inteligente de apresentar o conceito, permitindo aos jogadores testar a mecânica antes de se comprometerem. E com versões planeadas para PC e Mac, o jogo aposta claramente na acessibilidade. No fim de contas, Infinite Onslaught é uma carta de amor aos salões de jogos, mas com os dois pés firmemente plantados no presente. Para os veteranos das arcadas e para os curiosos da nova geração, é uma experiência que vale a pena explorar. Se esta é a primeira investida da Bonkers Builders, então o futuro parece bastante promissor.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ComboCaster