Antevisão: Tossdown

Tossdown é um jogo de acção roguelike com uma premissa curiosa: transformar o quotidiano de um estafeta num verdadeiro inferno. Desenvolvido por Fer Factor, um criador independente sediado na Nigéria, este título leva o conceito de bullet hell para um novo patamar, substituindo as balas por meteoros, mísseis, raios laser orbitais e uma multidão de agressores furiosos que parecem querer arruinar a tua entrega a todo o custo. O resultado é uma experiência caótica, onde o jogador se vê constantemente pressionado entre explosões e perigos, tudo em nome de entregar encomendas num cenário urbano em colapso.

Jogabilidade

A estrutura de Tossdown é simples na teoria: recolher pacotes e entregá-los do outro lado do nível. Na prática, essa tarefa torna-se um autêntico teste de resistência, destreza e paciência. Após um pequeno tutorial introdutório, somos lançados directamente para as entregas, e rapidamente percebemos que quase todo o ambiente está contra nós. Não é apenas a presença de inimigos humanos agressivos; o próprio universo parece conspirar contra o nosso avatar, com carros a explodir, meteoros a cair do céu e contentores de carga a despencarem do nada. A movimentação é ágil e exige reacções rápidas. As fases são curtas, mas intensas, exigindo que o jogador trace rapidamente rotas entre obstáculos e inimigos. Apesar da repetição mecânica inerente ao género roguelike, Tossdown consegue manter uma boa tensão e imprevisibilidade graças à densidade de eventos e perigos em cada corrida.

Um dos aspectos centrais da jogabilidade são os power ups. Existem vários espalhados pelo cenário, e embora alguns ofereçam momentos divertidos e úteis – como escudos ou pulsos de choque que eliminam ameaças próximas – muitos deles acabam por ser pouco relevantes ou mal equilibrados. Por exemplo, as bombas que só afectam inimigos a pé, que na maior parte do tempo são os menos ameaçadores, perdem impacto rapidamente. A incapacidade de distinguir os power ups antes de os apanhar também compromete a estratégia, tornando tudo um jogo de sorte.

Mundo e história

Tossdown não é um jogo que aposta na narrativa tradicional, mas há um conceito central bem definido: um estafeta em luta contra um mundo apocalíptico para entregar encomendas. Não há diálogos profundos ou desenvolvimento de personagens, mas a ideia de que o simples acto de trabalhar como entregador num cenário distópico é um pesadelo constante, é suficientemente interessante para manter o jogador envolvido. Há uma sátira implícita ao capitalismo moderno, onde mesmo num mundo em colapso, há pacotes a serem entregues – e isso basta para construir uma identidade. Cada nível parece desenhado com a intenção de acentuar essa sensação de absurdo e opressão, com elementos naturais e artificiais a colidir caoticamente com o nosso percurso. Embora o mundo em si não seja particularmente variado, a forma como nos é apresentado – com constantes ameaças e uma atmosfera de urgência – dá-lhe vida.

Grafismo

Visualmente, Tossdown adopta um estilo cell shaded que lembra jogos como Borderlands, mas com menos ênfase nas armas e mais na confusão urbana. O grafismo tem um toque sujo e estilizado, o que combina bem com o tom caótico do jogo. A leitura visual é geralmente clara, com inimigos e perigos bem destacados, o que ajuda a manter o controlo mesmo quando tudo parece estar a explodir à nossa volta. No entanto, há momentos em que o ecrã se torna excessivamente confuso. A acumulação de efeitos visuais – entre explosões, lasers, chuva de mísseis e colisões – pode tornar difícil perceber o que está a acontecer, levando a mortes frustrantes. Ainda assim, esta sobrecarga visual parece ser intencional em certa medida, reforçando o sentimento de estar constantemente em risco.

Som

A componente sonora é funcional e eficiente. A banda sonora apresenta um loop energético que consegue manter o ritmo da acção, sem se tornar cansativo. A música não é particularmente memorável, mas serve bem o propósito de manter o jogador alerta. Os efeitos sonoros, por outro lado, são bastante expressivos. Cada explosão, cada colisão, cada grito de inimigo ajuda a construir a atmosfera de caos que define o jogo. No entanto, não há grande variedade auditiva. Com o tempo, os sons começam a repetir-se demasiado, e seria interessante ver (ou ouvir) mais camadas sonoras ou variações nos diferentes tipos de ameaça. A ausência de voz ou narração não é sentida como uma falha, dado o estilo arcade do jogo.

Conclusão

Tossdown é um jogo com uma proposta clara e uma execução competente, ainda que com algumas arestas por limar. A ideia de transformar um emprego banal numa batalha contra uma catástrofe permanente é original e bem humorada. A jogabilidade base é sólida, com controlos precisos e uma boa sensação de progressão, mas sofre com desequilíbrios nos power ups e algumas decisões de design pouco refinadas. As limitações técnicas e o ocasional comportamento estranho – como morrer ao tentar fugir para fora de um mapa mal definido – são pequenas pedras no sapato que não comprometem o esqueleto funcional do jogo. Mais importante, estas questões parecem facilmente corrigíveis através de actualizações futuras, e é claro que há uma base promissora para crescer.

Neste momento, Tossdown merece uma nota de 6 em 10. Ainda não é uma experiência completamente polida, mas a base está lá: uma jogabilidade frenética, um estilo visual carismático e uma proposta que se destaca no panorama dos roguelikes. Com algumas melhorias nos sistemas de progressão, clareza nos power ups e mais variação nas ameaças, tem potencial para subir para um 8 ou mais. É um projecto de autor, com identidade e carisma, e merece atenção especialmente de quem gosta de acção intensa e humor absurdo.

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