O mercado ocidental continua a ser dominado pelos videojogos oriundos do Japão, mas nos últimos anos temos visto uma presença crescente de títulos vindos da China. Grandes empresas como a MiHoYo e a Tencent conseguiram conquistar o público com jogos como Genshin Impact e Biped. No entanto, são também os pequenos estúdios que tentam agora a sua sorte fora das suas fronteiras. Faun Town, desenvolvido pelo estúdio 游乐坊 e lançado com o apoio da editora 2P Games, é um desses exemplos. Trata-se de um simulador agrícola com alguns elementos de ficção científica e mecânicas de automação e combate. A promessa é interessante, mas a execução deixa bastante a desejar. Faun Town tenta inovar dentro de um género saturado, mas perde-se ao querer fazer demasiado, sem conseguir ser excecional em nenhum dos aspetos que apresenta.
Jogabilidade
À primeira vista, Faun Town é um simulador agrícola tradicional, seguindo a linha de jogos como Harvest Moon ou Story of Seasons. O jogador, no papel do Doutor, terá de transformar uma quinta abandonada num projeto agrícola de sucesso. As tarefas habituais estão presentes: cortar árvores para obter madeira, cultivar alimentos, pescar, minerar e produzir materiais através de bancadas de trabalho. Estas ações são simples e intuitivas, algo essencial tendo em conta que o jogo não explica muito bem várias das suas mecânicas, talvez devido a uma tradução pouco cuidada. Para além da base de gestão agrícola, o jogo introduz sistemas de automação e combate. É possível construir robots para automatizar tarefas e utilizar sementes especiais para defender a quinta de monstros que aparecem durante a noite. No papel, esta mistura de estilos poderia ter potencial, mas na prática Faun Town acaba por tropeçar nas suas próprias ambições. A gestão da quinta é lenta e pouco satisfatória, com um sistema de grelha impreciso que torna frustrante a plantação de culturas e a colocação de objetos. O combate, inspirado em jogos de defesa de torres como Plants vs. Zombies, também sofre com a mesma imprecisão, prejudicando a experiência. Outro problema grave é a ausência de suporte para comandos. O jogo é totalmente controlado pelo teclado, o que torna a jogabilidade ainda mais rígida e menos acessível. A automação, que deveria ser uma solução para a lentidão das tarefas iniciais, demora demasiado tempo a ser eficaz, tornando a progressão penosa.

Mundo e história
A história de Faun Town é apresentada de forma bastante simples, através de alguns painéis de banda desenhada em chinês que não foram traduzidos. Apesar desta barreira linguística, a premissa é facilmente compreendida. O protagonista, um Doutor vindo do espaço, despenha-se num planeta desconhecido e perde a memória. Um velho habitante local acolhe-o e deixa-lhe a sua velha quinta para cuidar. A missão do Doutor é reparar a sua nave espacial, o que implica interagir com os habitantes da vila, recolher recursos e melhorar a sua propriedade. Apesar de ter uma premissa diferente do habitual, a história rapidamente se perde em clichés familiares, como a amnésia do protagonista e a típica relação de confiança com a comunidade local. O enredo é apenas um pretexto para justificar a jogabilidade e não evolui de forma interessante ao longo da experiência. A interação com os habitantes é limitada e pouco envolvente, e o mundo, embora tenha diferentes biomas, parece superficial e pouco explorado em termos narrativos.
Grafismo
Visualmente, Faun Town é uma verdadeira mistura de estilos, e não no bom sentido. A arte em pixel art parece ter sido construída com recursos provenientes de várias fontes diferentes, resultando numa falta evidente de consistência. Alguns sprites apresentam bastante detalhe, enquanto outros parecem ter uma resolução inferior, quebrando qualquer tentativa de criar uma identidade visual coesa. As diferentes áreas do jogo, como florestas, desertos e montanhas, são mal caracterizadas. A selva inicial, por exemplo, mais parece uma floresta dispersa do que um ambiente denso e tropical. Além disso, o texto no ecrã é frequentemente cortado, dificultando a leitura e a compreensão de informações essenciais, sem existir qualquer opção para corrigir este problema. No geral, Faun Town falha em construir um mundo visualmente apelativo ou minimamente imersivo.

Som
A componente sonora de Faun Town é tão pobre quanto o seu grafismo. Os efeitos sonoros são extremamente genéricos e rapidamente se tornam repetitivos, enquanto a ausência de vozes torna o mundo ainda mais vazio e sem vida. A banda sonora é composta por uma única melodia de piano, monótona e sem variações, que se repete incessantemente ao longo do jogo. Esta música parece ter sido escolhida de um banco de faixas gratuitas, não transmitindo qualquer atmosfera que complemente a experiência agrícola ou a componente de ficção científica do enredo. O resultado é uma ambientação sonora que falha em criar qualquer tipo de ligação emocional com o jogador, reforçando a sensação de que Faun Town é um projeto remendado e sem alma.
Conclusão
Faun Town tenta destacar-se no saturado mercado dos simuladores agrícolas através da introdução de elementos de ficção científica, automação e combate, mas acaba por falhar em quase todos os seus objetivos. A jogabilidade é lenta, frustrante e pouco intuitiva, o mundo é vazio e repleto de clichés, e a apresentação audiovisual deixa muito a desejar. Embora a ideia de combinar diferentes géneros seja louvável, a execução é amadora e desequilibrada. É um título que parece querer agradar a todos, mas que acaba por não satisfazer ninguém em particular. Para os fãs de simuladores agrícolas, existem alternativas muito melhores no mercado. Faun Town é um daqueles casos onde a ambição superou claramente a capacidade de execução. Uma oportunidade perdida, de um projeto que, com mais foco e cuidado, poderia ter sido algo muito mais interessante.