Abra-Cooking-Dabra é um curioso jogo de cartas com um pé no mundo da gestão e outro na cozinha caótica. Esta demo leva-nos até um universo muito peculiar, com um café móvel em pleno País das Maravilhas, onde nada é o que parece e os clientes são tão imprevisíveis quanto exigentes. Combinando mecânicas de jogos como Stacklands e Overcooked, o título tenta oferecer uma abordagem inovadora ao género culinário, misturando a preparação de receitas com a gestão de cartas e ingredientes. Ainda em fase demo, o jogo já revela potencial para se tornar algo mais do que apenas um passatempo peculiar.
Jogabilidade
A essência de Abra-Cooking-Dabra gira em torno da criação de pratos para satisfazer os estranhos e exigentes clientes do café. Através de um sistema de cartas, o jogador escolhe os ingredientes e utensílios necessários para preparar cada refeição. Cada pedido traz consigo uma pista sobre o que deve ser feito, mas a interpretação cabe ao jogador, incentivando a experimentação e a criatividade. A gestão do inventário também tem um papel importante, sendo possível comprar novas cartas, vender excedentes e até cultivar ingredientes na pequena quinta do café.
As primeiras quatro fases funcionam como um tutorial bem estruturado, ensinando gradualmente todas as mecânicas essenciais. A quinta fase introduz um chefe com novas regras e mecânicas específicas, enquanto a sexta fase é um modo infinito para testar as capacidades adquiridas. A dinâmica de jogo é rápida, exigindo decisões em tempo real e uma atenção constante às cartas disponíveis e aos pedidos dos clientes.

Mundo e história
A narrativa, embora simples, tem um charme cativante. Um cozinheiro sem ideias recebe um e-mail misterioso que o leva diretamente para o País das Maravilhas, onde fica encarregado de gerir um café ambulante. O enredo desenvolve-se com o encontro de personagens excêntricas, como o Gato Sorridente, que age como guia e fonte constante de sarcasmo. O mundo é cheio de elementos fantásticos, com personagens que não apenas fazem pedidos estranhos, mas também interferem na cozinha com habilidades únicas, tornando cada jornada culinária imprevisível. Embora o foco esteja claramente na jogabilidade, o ambiente e os pequenos detalhes narrativos ajudam a criar uma atmosfera coerente e envolvente.
Grafismo
Visualmente, Abra-Cooking-Dabra aposta num estilo artístico simples mas eficaz, com cores vivas e animações funcionais. O design dos personagens é divertido e exagerado, condizente com o tom absurdo do mundo onde se passa a ação. Os efeitos visuais são suficientes para transmitir a ação frenética sem sobrecarregar o ecrã, e os menus e ícones são claros, facilitando a aprendizagem das mecânicas. Não se trata de um jogo que aposta fortemente na fidelidade gráfica, mas sim na funcionalidade visual ao serviço da jogabilidade. A clareza visual é essencial num jogo com tantas cartas e interações, e neste aspeto o título cumpre com competência.

Som
A componente sonora é sólida, embora discreta. A música acompanha bem o ritmo acelerado do jogo, sem se tornar repetitiva nas primeiras horas. Os efeitos sonoros ajudam a dar feedback das ações, como o uso de ingredientes ou a entrega de pratos, contribuindo para a imersão. No entanto, nas fases mais longas, a música pode tornar-se algo monótona, algo que uma maior variedade de faixas poderá resolver na versão final. Não há vozes ou narração, o que seria um bom complemento para acentuar o carácter das personagens, mas tendo em conta a escala do projeto, essa ausência não compromete a experiência.
Conclusão
Abra-Cooking-Dabra é uma proposta criativa e refrescante no panorama dos jogos indie, misturando elementos de gestão, cartas e culinária de forma inteligente. Apesar de ainda ser apenas uma demo, já mostra um bom equilíbrio entre desafio, humor e acessibilidade. O sistema de cartas dá profundidade estratégica, enquanto a premissa absurda e personagens peculiares mantêm o jogador curioso sobre o que vem a seguir.
Com algumas melhorias na clareza das instruções e no equilíbrio das fases mais longas, este jogo poderá facilmente conquistar um lugar entre os títulos mais originais do género. Para já, é um projeto com identidade própria e muito potencial, que deixa água na boca para a versão completa.