SpreadCheat é uma ode irreverente aos tempos dourados dos anos 90 e à cultura corporativa absurda que muitos lembram com um misto de nostalgia e embaraço. Nesta proposta original, os criadores decidiram pegar naquilo que muitos consideram aborrecido — folhas de cálculo e contabilidade — e transformá-lo num jogo de puzzles matemáticos envolvente, cheio de humor e surpresas retro. O resultado é uma experiência que combina mecânicas engenhosas com uma apresentação estética singular, tudo embrulhado numa sátira mordaz ao mundo empresarial daquela década. SpreadCheat é estranho, mas não deixa de ser surpreendentemente viciante.
Jogabilidade
A base do jogo assenta na resolução de puzzles que simulam operações de folha de cálculo, desafiando o jogador a aplicar lógica, operações matemáticas e algum raciocínio lateral para avançar. A campanha principal é acessível, até talvez demasiado fácil para quem procura um verdadeiro desafio, mas os modos difícil e impossível vêm apimentar a experiência — ainda que nem sempre atinjam o potencial desejado, devido à aleatoriedade dos níveis gerados. Há também desafios diários que prolongam a longevidade do jogo e oferecem mais alguma variedade. Pelo meio, somos brindados com mini tarefas temáticas, como limpar malware ou ajudar o chefe a fazer uma apresentação em PowerPoint, que funcionam como momentos de pausa cómica e contribuem para a atmosfera geral.

Mundo e história
SpreadCheat transporta-nos para o coração de um escritório genérico dos anos 90, repleto de clichés corporativos, piadas internas sobre a cultura dos “bros” e um ambiente onde o objetivo é subir na carreira, muitas vezes à custa de cobrir os erros dos superiores. A narrativa é leve e pouco intrusiva, funcionando mais como pano de fundo humorístico do que como um enredo sério. Ainda assim, há um certo charme na forma como o jogo retrata a rotina de escritório com exagero e sarcasmo, algo que certamente vai ressoar com quem já passou demasiado tempo preso a cubículos ou reuniões inúteis.
Grafismo
Visualmente, SpreadCheat é uma verdadeira carta de amor ao início da era informática doméstica. Os menus, janelas e interfaces replicam com fidelidade o aspeto dos sistemas operativos de meados dos anos 90, com paletas de 256 cores, ícones pixelizados e janelas sobrepostas que emulam a confusão de um desktop antigo. Há também atenção ao detalhe nos e-mails hilariantes que recebemos e nos anexos absurdos que os acompanham. É um grafismo que, apesar de tecnicamente limitado, é deliberadamente escolhido para reforçar a identidade do jogo, criando uma estética coesa e memorável.

Som
A componente sonora acompanha na perfeição o estilo retro do jogo. A banda sonora em MIDI é nostálgica, evocando de imediato os tempos dos primeiros computadores com colunas embutidas. Os efeitos sonoros complementam bem a ação, e embora o assistente virtual Corpy possa tornar-se ligeiramente irritante com o tempo, está claramente desenhado para imitar e parodiar figuras como o famigerado Clippy da Microsoft. No geral, o som reforça o ambiente peculiar e a comédia visual, sem se tornar intrusivo.
Conclusão
SpreadCheat é uma proposta inusitada mas cativante, que pega num tema improvável e o transforma num jogo acessível e divertido. Não é particularmente desafiante, e quem procura uma experiência verdadeiramente exigente poderá sair um pouco desiludido, sobretudo com a aleatoriedade dos níveis mais difíceis. No entanto, a originalidade da proposta, aliada ao humor bem conseguido e à estética retro muito bem implementada, fazem com que valha a pena experimentar. SpreadCheat é uma viagem peculiar aos anos 90, passada no mundo do Excel, onde o absurdo se mistura com o engenho e onde, contra todas as expectativas, a contabilidade consegue ser divertida.