Análise: Wizdom Academy

Wizdom Academy é um jogo que mistura duas paixões comuns entre os jogadores: a gestão de cidades e o mundo da magia. Desenvolvido com uma clara inspiração em Harry Potter, este título em Acesso Antecipado coloca-nos no papel de diretor de uma academia de magia, encarregado de a construir, gerir e desenvolver enquanto forma jovens aprendizes em poderosos feiticeiros. Desde a primeira vez que se vê o ecrã inicial até aos momentos de microgestão dentro das salas de aula, é evidente que este é um jogo com ambição, tentando equilibrar a profundidade estratégica com um ambiente acessível e encantador. O conceito de uma escola mágica não é novo, mas continua a ser um dos temas mais apelativos para o público em geral, em especial quando se combina com um sistema de construção e gestão. Wizdom Academy parte desse apelo emocional e tenta criar uma experiência que seja tanto relaxante como desafiante. No entanto, e apesar do charme que transparece em muitos aspetos do jogo, este ainda se encontra numa fase prematura, com várias arestas por limar e uma série de elementos que impedem que a experiência seja verdadeiramente envolvente.

Jogabilidade

A jogabilidade de Wizdom Academy assenta numa estrutura de construção em grelha, bastante típica dos city-builders. O jogador começa com uma pequena parcela de terreno e uma árvore mágica, fonte de mana, o recurso essencial que alimenta todas as atividades da academia. A partir daí, é necessário construir salas como dormitórios, salas de aula, laboratórios, bibliotecas, salas de exames e muito mais, todas interligadas por corredores. À medida que a escola cresce, também é possível expandir verticalmente, adicionando novos andares para melhor aproveitar o espaço disponível. A interface de construção é intuitiva e funcional. As salas encaixam-se de forma automática e adaptam-se bem às necessidades criativas do jogador, permitindo tanto estruturas compactas como projetos mais ambiciosos e dispersos. Existem 39 tipos de salas disponíveis e 23 itens decorativos para personalizar a escola ao gosto de cada jogador. A árvore tecnológica permite desbloquear novas funcionalidades, embora o sistema de investigação esteja ainda pouco desenvolvido, com poucas explicações e informação limitada sobre o impacto de cada upgrade.

Um dos principais problemas na jogabilidade reside na gestão de recursos. O ouro é obtido através das propinas dos estudantes e serve para contratar professores e expandir a escola, enquanto o mana é utilizado para alimentar as infraestruturas. A fama funciona como uma medida de prestígio, influenciando a qualidade dos professores e estudantes que podemos recrutar. Infelizmente, a economia do jogo está ainda mal equilibrada: o ouro entra de forma lenta, o mana sofre de quebras frequentes e a gestão de ambos é frustrante nos primeiros níveis. A ausência de fontes alternativas de rendimento torna a progressão lenta e, por vezes, frustrante, obrigando o jogador a pausar o crescimento da escola até conseguir acumular recursos.

Outro aspeto relevante é o recrutamento de estudantes e professores. Cada personagem possui até 91 traços únicos, que afetam as suas capacidades, comportamentos e interações. Os alunos evoluem ao longo do tempo, passando de aprendizes a magos, e o seu desempenho depende diretamente da qualidade do ensino e da atenção que recebem. Professores também variam em qualidade, com os melhores a custarem quantias astronómicas, enquanto os mais acessíveis são quase inúteis. A gestão do corpo docente e estudantil é essencial para o bom funcionamento da escola, mas a quantidade exagerada de traços negativos dificulta a criação de um ambiente equilibrado, tornando inevitável o surgimento de alunos problemáticos se não for feita uma gestão apertada.

Mundo e história

Apesar de ter uma base temática rica, Wizdom Academy ainda não apresenta um mundo verdadeiramente envolvente. A ambientação mágica é visível nos detalhes visuais e nas mecânicas, mas falta-lhe uma narrativa sólida ou uma campanha estruturada. O jogo começa sempre da mesma forma, com um breve tutorial introdutório e uma série de missões que servem como objetivos iniciais, mas rapidamente essa orientação desaparece, deixando o jogador entregue a uma experiência sandbox sem grande direção. Existem elementos promissores, como vilas vizinhas, masmorras, academias rivais e conselhos mágicos, que deveriam acrescentar profundidade ao mundo, mas na maioria dos casos parecem apenas rascunhos ou ideias para conteúdo futuro. Metade das áreas exploráveis listadas no jogo parecem funcionar mais como teasers do que como zonas verdadeiramente interativas. Ainda assim, há alguns detalhes interessantes, como o facto de o estado de espírito dos alunos e professores afetar diretamente a reputação da escola. Tratar mal os estudantes ou ignorar os seus problemas pode levar à insatisfação geral e até à intervenção do conselho mágico. Esta ligação entre as ações do jogador e a reação do mundo é um toque bem conseguido, mesmo que ainda pouco explorado.

Grafismo

Visualmente, Wizdom Academy consegue transmitir uma atmosfera mágica e encantadora. O estilo artístico é colorido, vibrante e detalhado, com salas que refletem bem as suas funções e personagens que se movimentam pelos corredores de forma fluida. A vista aérea da academia permite observar o frenesim diário dos alunos e professores, criando uma sensação de vida e dinâmica que enriquece a experiência. No entanto, nem tudo corre bem no campo visual. Embora o design geral seja apelativo, a qualidade dos modelos 3D das personagens é fraca quando se aproxima a câmara, com animações rudimentares e falta de expressividade. O maior problema, porém, são os retratos gerados por inteligência artificial, que destoam completamente do resto do estilo artístico. A estética genérica e artificial destes retratos quebra a imersão e transmite uma sensação de amadorismo, especialmente num jogo que pretende criar uma ligação emocional com as personagens.

Felizmente, os criadores já anunciaram que pretendem substituir estes retratos por ilustrações feitas por artistas humanos, o que deverá melhorar significativamente o impacto visual e a coesão estética do jogo.

Som

A componente sonora de Wizdom Academy é funcional, mas pouco memorável. A música ambiente é suave e acompanha bem o ritmo mais calmo e estratégico do jogo, contribuindo para uma sensação de tranquilidade e concentração. Não se destaca, mas também não se torna repetitiva ou irritante, o que é importante num jogo que pode ser jogado durante longas sessões. Os efeitos sonoros cumprem o mínimo exigido, com sons para ações básicas como construção, interações entre personagens e notificações de eventos importantes. No entanto, falta variedade e personalidade nos sons utilizados, algo que poderia reforçar ainda mais a identidade mágica do jogo. A ausência de vozes ou narração torna o ambiente mais silencioso e algo vazio, especialmente quando comparado com jogos do mesmo género que apostam mais na componente áudio para reforçar a imersão. Uma banda sonora mais rica e uma maior diversidade de efeitos sonoros seriam melhorias bem-vindas, ajudando a elevar o nível de polimento geral da experiência.

Conclusão

Wizdom Academy é, acima de tudo, uma promessa. Uma ideia encantadora com uma base sólida, mas ainda longe de atingir o seu verdadeiro potencial. A combinação entre construção criativa, gestão de recursos e a temática de uma escola mágica é irresistível, e há aqui momentos de genuíno prazer, especialmente para os fãs de city-builders com um toque mais leve e fantasioso. No entanto, os problemas são evidentes: o equilíbrio entre recursos é frágil, os bugs são frequentes, o conteúdo é limitado e a apresentação sofre com escolhas questionáveis como o uso de arte gerada por IA.

Apesar disso, há muitos sinais positivos. A interface de construção é intuitiva, a personalização é vasta, a progressão dos estudantes é bem pensada e o ambiente geral consegue transmitir o tipo de fantasia que muitos jogadores procuram. Com mais tempo de desenvolvimento, ajustes ao equilíbrio económico, correção de bugs e introdução de uma campanha mais estruturada, Wizdom Academy poderá vir a ser uma referência dentro do género. Para já, é uma experiência recomendada apenas para jogadores pacientes, que gostem de explorar sistemas em evolução e que estejam dispostos a acompanhar o percurso de um jogo em crescimento. Para os restantes, talvez valha a pena esperar por atualizações futuras ou experimentar a versão de demonstração antes de tomar uma decisão. O potencial está lá, mas ainda precisa de ser cuidadosamente lapidado.

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