Antevisão: Ground of Aces

Ground of Aces transporta-nos para os primeiros dias da Segunda Guerra Mundial, mas em vez de nos colocar diretamente no campo de batalha, desafia-nos a gerir uma base aérea isolada. Este é um jogo de construção e simulação com uma abordagem distinta ao tema da guerra, focando-se na logística, nas emoções humanas e no quotidiano de quem vive e trabalha numa base militar. A promessa é ambiciosa: construir uma base do zero, gerir equipas, manter aviões operacionais e enfrentar os desafios de um conflito em larga escala. Com uma apresentação visual inspirada na banda desenhada franco-belga, Ground of Aces mistura charme artístico com complexidade mecânica. Contudo, apesar do seu potencial, o jogo ainda se encontra numa fase precoce de desenvolvimento e mostra sinais claros de que precisa de mais tempo e afinação.

Jogabilidade

A jogabilidade de Ground of Aces assenta na construção detalhada e na gestão minuciosa de uma base aérea durante a Segunda Guerra Mundial. Tudo começa com um espaço vazio, onde o jogador tem total liberdade para erguer edifícios, instalar infraestruturas, definir paredes e organizar os espaços ao seu gosto. É uma abordagem bastante criativa que permite desenhar a base como se fosse uma cidade em miniatura, respeitando tanto a funcionalidade como a estética.

Para além da construção, há uma forte componente de microgestão. O jogador deve garantir que cada membro da equipa tem tarefas atribuídas, que existe um equilíbrio entre trabalho e descanso, e que os recursos são utilizados de forma eficiente. Aviões lendários como o Hurricane ou o Spitfire fazem parte do alinhamento, e cada modelo exige infraestruturas adequadas, criando uma ligação direta entre a logística e a operação aérea.

No entanto, vários problemas afetam a fluidez da jogabilidade. Os sistemas de pathfinding são inconsistentes, levando os trabalhadores a ficarem presos ou a ignorarem tarefas prioritárias. Os horários de trabalho iniciais são tão extenuantes que muitos membros da equipa colapsam a meio do dia. Missões aéreas, que deveriam ser momentos altos do jogo, muitas vezes nem chegam a arrancar, deixando o jogador frustrado e sem feedback claro sobre o que está a falhar. A sensação de progresso, essencial num jogo deste género, é interrompida por estes obstáculos, o que torna a experiência menos gratificante do que poderia ser.

Mundo e história

Ground of Aces não segue uma narrativa tradicional, mas oferece uma experiência imersiva através de pequenos detalhes e histórias do quotidiano. O jogo procura recriar a atmosfera das bases aéreas remotas durante o conflito mundial, onde cada indivíduo tem um papel importante e um lado humano a descobrir. As entradas no diário são um bom exemplo disso, com pequenos momentos que adicionam profundidade à vida na base, como um soldado que melhora o humor ao observar uma rã ou conversas triviais que revelam traços de personalidade.

Este foco no humano é um dos pontos fortes do jogo. A guerra, em Ground of Aces, é sentida mais nos bastidores do que na linha da frente, e isso contribui para uma abordagem original. No entanto, a ausência de eventos históricos mais marcantes, de consequências palpáveis das nossas decisões, e de fases bem definidas da guerra fazem com que o mundo não evolua muito para além da base inicial. Depois de duas ou três horas, o jogador pode sentir que está preso num ciclo repetitivo, sem grandes novidades ou reviravoltas narrativas.

Grafismo

A direção artística de Ground of Aces é uma das suas facetas mais cativantes. Inspirado nas clássicas bandas desenhadas franco-belgas, o jogo apresenta um estilo visual limpo, colorido e estilizado, com influências claras de autores como Hergé e Bergèse. Este estilo não é apenas estético, mas também funcional, permitindo distinguir facilmente diferentes edifícios, personagens e equipamentos.

Os aviões estão particularmente bem representados, com detalhes que os fãs de aviação certamente apreciarão. Desde o design à animação, nota-se um cuidado em capturar a essência destas máquinas históricas. Também as personagens têm expressões e animações suaves que lhes dão vida, mesmo em momentos de pausa.

No entanto, nem tudo é perfeito neste campo. A câmara do jogo apresenta problemas, com tremores ao mover-se sobre certos objetos e dificuldades de controlo que interferem na gestão visual da base. Além disso, a repetição de elementos visuais e a falta de variedade nos edifícios tornam-se evidentes à medida que o jogador expande a base.

Som

A componente sonora de Ground of Aces cumpre o seu papel, mas não se destaca particularmente. Os efeitos sonoros, como motores de aviões, passos ou alarmes, ajudam a criar uma atmosfera funcional de base militar. A música é discreta, acompanhando suavemente a construção e a gestão do dia-a-dia.

Ainda assim, a experiência sonora carece de profundidade. Não há vozes, nem efeitos mais marcantes que realcem momentos importantes, como o arranque de uma missão ou um evento inesperado. Isto contribui para uma sensação de monotonia, onde o som serve apenas de pano de fundo e raramente impacta verdadeiramente a experiência do jogador.

Com mais variedade sonora, composição musical mais rica e talvez até narração ou diálogos esporádicos, Ground of Aces poderia ganhar uma camada emocional importante que falta atualmente.

Conclusão

Ground of Aces é um jogo que apresenta uma premissa fascinante e uma estética encantadora, ao mesmo tempo que tenta oferecer uma experiência estratégica e emocionalmente envolvente. A gestão de uma base aérea na Segunda Guerra Mundial, com foco nas pessoas e na construção detalhada, distingue-o de outros jogos do género. O estilo visual inspirado na banda desenhada europeia é uma aposta original e eficaz, e a atenção ao detalhe nas aeronaves e personagens mostra um verdadeiro carinho pelo tema.

Contudo, o jogo encontra-se ainda numa fase precoce e inacabada. Problemas técnicos, falhas na inteligência artificial, câmara instável e um ritmo de jogo pouco estimulante após as primeiras horas impedem-no de atingir todo o seu potencial. A falta de conteúdo significativo e a ausência de eventos mais impactantes tornam a experiência repetitiva e, por vezes, frustrante.

Ainda assim, há esperança. O conceito é forte, a fundação está lá, e com desenvolvimento contínuo, Ground of Aces pode vir a ser uma entrada de referência no género dos simuladores de base. Para já, é uma promessa que precisa de mais tempo, mas que pode, com o apoio da comunidade e dedicação dos criadores, transformar-se numa joia do panorama indie. Os fãs de simulação e história devem ficar atentos, mas talvez seja prudente esperar mais algum tempo antes de embarcar nesta missão.

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