Castle of Secrets é uma aventura narrativa com elementos de mistério psicológico e puzzles, desenvolvida por um pequeno estúdio que claramente colocou muito amor e dedicação no projeto. O jogo coloca-nos na pele de Miss Susan, a última descendente da amaldiçoada família Tranton, enquanto esta mergulha num enigma sombrio relacionado com a morte dos seus pais e os segredos enterrados nas profundezas do castelo ancestral da família. Esta é uma experiência que mistura estilos visuais únicos, narrativa ramificada e jogabilidade point-and-click com segmentos mais exigentes em termos de reflexos. Não é um jogo de terror no sentido tradicional, mas há uma atmosfera constantemente carregada de tensão, como se a qualquer momento algo sinistro pudesse surgir da escuridão.
Com influências góticas e um estilo que faz lembrar uma versão negra de Alice no País das Maravilhas, Castle of Secrets aposta num equilíbrio entre exploração, narrativa e desafio intelectual. A história é o motor de tudo o que acontece, mas não faltam puzzles criativos e momentos de pura curiosidade. Apesar de algumas imperfeições técnicas e decisões discutíveis, o jogo mostra-se surpreendentemente ambicioso e envolvente para um título indie.
Jogabilidade
Castle of Secrets apresenta-se como um jogo point-and-click em 3D com personagens desenhadas à mão em 2D, num estilo que combina a estética de uma peça de teatro de sombras com um mundo tridimensional cheio de pormenores. A estrutura da jogabilidade baseia-se na exploração dos vários cenários do castelo, onde o jogador pode examinar objetos, recolher itens, combiná-los e resolver puzzles. A câmara interativa permite examinar as cenas em profundidade, algo essencial para progredir, já que muitos objetos-chave estão escondidos em ângulos específicos ou parcialmente obscurecidos por elementos do cenário. Os quebra-cabeças são variados e inteligentes, exigindo observação, memória e alguma lógica. Alguns são bastante satisfatórios, com soluções que encaixam perfeitamente na narrativa, enquanto outros podem tornar-se frustrantes se o jogador não compreender imediatamente as mecânicas envolvidas. O jogo também inclui segmentos menos tradicionais, como pequenas secções de plataforma, desafios de tempo de reação e até combates básicos. Estes momentos, embora ajudem a variar o ritmo, nem sempre encaixam com a mesma fluidez do resto do jogo e podem ser fonte de frustração para quem prefere um ritmo mais calmo e cerebral. As escolhas feitas ao longo da narrativa têm impacto direto na progressão da história, influenciando os relacionamentos com os vários personagens e determinando o final alcançado. Existem múltiplos desfechos possíveis, o que incentiva a rejogar o título para explorar outras ramificações da narrativa. No entanto, o sistema de gravação é limitado: ao voltar ao jogo, somos colocados no início do último nível em vez de continuar exatamente de onde parámos, o que prejudica um pouco a fluidez da experiência.

Mundo e história
A história de Castle of Secrets começa de forma trágica. Susan nasce numa família nobre e influente, marcada por uma maldição antiga. Após a morte misteriosa do seu pai, o Sr. Grinn, a mãe de Susan, Agatha, entra num estado de luto profundo. A tentativa de restaurar a normalidade através de um segundo casamento com o enigmático Sr. Austin apenas adia o inevitável: a desintegração da família e, eventualmente, o massacre que deixa Susan sozinha no mundo. Este evento traumático é o ponto de partida da narrativa, que nos leva numa jornada pelo mundo dos mortos e pelos corredores sombrios do castelo Tranton.
A viagem de Susan é tanto física como espiritual. Ao longo do jogo, encontramos mais de trinta personagens, cada um com as suas motivações, passados sombrios e agendas ocultas. Uns ajudam, outros traem, e quase todos escondem segredos. A riqueza deste elenco contribui para o mistério e torna o castelo um lugar vivo e inquietante. O enredo gira em torno da busca por respostas: quem matou a família de Susan, qual a origem da maldição, e até que ponto é possível confiar nos vivos… ou nos mortos. A escrita da história é sólida, embora nem sempre brilhante. Existem momentos de verdadeiro impacto emocional, e outros onde o ritmo abranda um pouco em excesso. O tom é consistentemente sombrio e gótico, com alusões subtis ao sobrenatural e à loucura, criando uma tensão constante que mantém o jogador envolvido. Apesar de algumas falhas na adaptação do idioma e em certas falas, a narrativa é o ponto mais forte do jogo e justifica plenamente a sua proposta.
Grafismo
A componente visual de Castle of Secrets é verdadeiramente notável, sobretudo tendo em conta os recursos limitados do estúdio responsável. O jogo combina cenários 3D atmosféricos com personagens desenhadas à mão em 2D, num contraste que, apesar de inicialmente estranho, acaba por resultar muito bem. Esta escolha estética dá ao jogo uma identidade própria, reforçando a sensação de estarmos dentro de uma fábula negra ou de uma peça de teatro de sombras. Cada ambiente é cuidadosamente construído, com atenção ao detalhe, iluminação dramática e um uso inteligente da paleta de cores para evocar emoções específicas. Os corredores do castelo estão carregados de objetos e pistas visuais que convidam à exploração, e há um claro esforço para que cada sala tenha a sua própria personalidade. Mesmo os pequenos objetos, como chaves, livros ou retratos, foram desenhados com cuidado, o que contribui para a imersão. As animações, contudo, estão longe de ser perfeitas. A rigidez das personagens em 2D pode quebrar um pouco a fluidez em certos momentos, e há ocasiões em que a sobreposição entre os planos 2D e 3D cria situações visualmente confusas. Ainda assim, o estilo artístico é suficientemente forte para compensar estas limitações técnicas.

Som
A banda sonora de Castle of Secrets é discreta mas eficaz, reforçando o ambiente sombrio e misterioso sem se impor demasiado. Existem temas melancólicos e outros mais tensos, bem colocados para acompanhar os momentos-chave da narrativa. A música cumpre bem a sua função de suporte emocional e ajuda a criar uma identidade sonora coerente ao longo da aventura. A componente vocal, por outro lado, é mais inconsistente. Alguns jogadores poderão apreciar o esforço colocado no voice acting, mas é difícil ignorar as falhas de entoação, ritmo e expressividade, especialmente na voz de Susan, que muitas vezes soa apática ou deslocada face ao contexto das cenas. A narração inicial, com um tom exageradamente teatral, entra em conflito com o tom gótico da história e pode quebrar a imersão para alguns jogadores. É uma área onde o jogo tinha potencial para se destacar mais, mas que acaba por ser um dos seus pontos mais fracos. Os efeitos sonoros são simples, mas eficazes. Portas a ranger, passos em corredores vazios, sussurros distantes… todos estes pequenos sons contribuem para manter a tensão e a curiosidade. Não há excessos, mas há intenção – e isso faz a diferença.
Conclusão
Castle of Secrets é uma agradável surpresa dentro do género de aventura narrativa. Apesar de alguns tropeções técnicos e decisões artísticas que nem sempre funcionam, o jogo oferece uma experiência imersiva, rica em mistério e personalidade. A história, embora algo previsível em certos pontos, é bem contada e suficientemente envolvente para manter o interesse do início ao fim. A variedade de puzzles, o estilo visual único e a liberdade de exploração compensam as limitações do voice acting e do sistema de gravação. É um jogo que vale a pena jogar, especialmente para quem aprecia histórias sombrias, ambientes góticos e desafios cerebrais com uma boa dose de atmosfera. É evidente o carinho colocado pelo estúdio em cada detalhe, e isso transparece na experiência final. Castle of Secrets não é perfeito, mas é memorável – e, para muitos jogadores, isso basta. Uma proposta indie com ambição, estilo e alma.