Análise: Warhammer 40K: Dawn of War Definitive Edition

O ano passado a Relic Entertainment decidiu celebrar a sua série Warhammer 40K: Dawn of War com a edição de aniversário dos dois primeiros jogos da saga. Um ano depois, surge agora Warhammer 40K: Dawn of War Definitive Edition, uma versão que promete ser o pacote completo e final para os fãs de estratégia em tempo real e do universo sombrio e brutal de Warhammer 40K.

À primeira vista, esta versão Definitive traz algumas melhorias visuais, um polimento técnico e pequenos ajustes de compatibilidade que tornam a experiência mais estável em sistemas modernos. Mas ao mesmo tempo, levanta inevitavelmente a questão sobre a sua necessidade e o momento do lançamento. Afinal, porque não lançar esta versão logo no ano passado em vez de nos obrigar a atravessar um ciclo de relançamentos sucessivos?

Ainda assim, o que importa realmente é que Dawn of War continua a ser um jogo de referência no género de estratégia em tempo real, um título que marcou gerações e que, passadas duas décadas, continua a ser incrivelmente sólido tanto no design de jogabilidade como na capacidade de envolver o jogador em batalhas épicas. Com as campanhas originais e todas as expansões incluídas, além de ferramentas para mods e melhorias de resolução, esta edição é tanto uma porta de entrada para novos jogadores como uma tentativa de manter viva a chama para veteranos.

Jogabilidade

Falar de Dawn of War é revisitar aquilo que o tornou um clássico instantâneo em 2004. A jogabilidade mantém-se praticamente intocada, o que, neste caso, é um grande elogio. O jogo continua a oferecer aquele equilíbrio perfeito entre construção de bases, produção de unidades e manobras táticas no campo de batalha. A sua essência continua a ser a de um RTS focado na agressividade, onde expandir território, capturar pontos estratégicos e manter linhas de abastecimento é tão importante quanto o microgerenciamento de unidades em combate.

Cada facção mantém a sua identidade e estilo próprios, obrigando o jogador a adaptar-se constantemente. Os Blood Ravens, criados especificamente para o jogo, representam a face clássica dos Space Marines, equilibrados e versáteis. Já os Orks apostam em números e brutalidade, os Eldar em velocidade e precisão, e os Caos em poderes corruptores e unidades devastadoras. Nas expansões, a variedade cresce exponencialmente: a Imperial Guard traz exércitos humanos numerosos mas frágeis, os Necrons oferecem imortalidade e regeneração, os Tau apostam na tecnologia futurista e na mobilidade, enquanto os Dark Eldar e as Irmãs de Batalha expandem ainda mais as possibilidades estratégicas.

O modo multijogador continua a ser uma das grandes forças de Dawn of War. A diversidade de facções permite confrontos equilibrados mas imprevisíveis, e a existência do Army Painter dá aos jogadores a liberdade de personalizar completamente o visual dos seus exércitos, tornando cada batalha única. O Definitive Edition acrescenta ainda a integração de um gestor de mods, abrindo portas a novos conteúdos criados pela comunidade, desde ajustes de equilíbrio a facções inteiramente novas que replicam unidades mais recentes do universo de Warhammer 40K. O mais impressionante é como, passados vinte anos, o loop de jogabilidade continua viciante. Cada partida exige planeamento, reflexos rápidos e capacidade de adaptação. A emoção de expandir território enquanto se resiste a investidas inimigas mantém-se tão fresca como no lançamento original.

Mundo e história

Dawn of War não é apenas um RTS eficaz, é também uma das melhores traduções do universo Warhammer 40K para os videojogos. A campanha original acompanha os Blood Ravens na sua luta no planeta Tartarus, confrontando facções rivais enquanto investigam um artefacto misterioso. É uma narrativa envolvente, que não só introduz personagens marcantes como o Capitão Gabriel Angelos, mas também cria uma atmosfera de urgência com a ameaça da tempestade do warp que ameaça isolar o planeta.

As expansões acrescentam ainda mais riqueza. Winter Assault foca-se na Imperial Guard, dando destaque à visão dos soldados comuns num universo dominado por super-humanos e monstros. Dark Crusade altera a fórmula, substituindo a campanha mais linear por um mapa estratégico onde cada facção luta pela supremacia no planeta Kronus, criando uma sensação de conquista global. Já Soulstorm expande ainda mais essa fórmula, transportando a guerra para um sistema estelar inteiro, multiplicando o número de territórios e batalhas possíveis. A escrita e a caracterização das facções são notáveis, respeitando a mitologia complexa da Games Workshop e dando vida ao tom sombrio e brutal do universo. Dawn of War conseguiu, talvez como nenhum outro jogo antes dele, capturar a essência de Warhammer 40K, fazendo o jogador sentir-se parte daquela guerra eterna onde não há lugar para a paz.

Grafismo

No campo visual, a Definitive Edition apresenta melhorias subtis mas eficazes. Não se trata de uma remodelação total, mas sim de um polimento nas texturas e efeitos relacionados. As unidades e cenários mantêm o estilo visual original, preservando a estética que, em 2004, já tinha impressionado pela forma como parecia transpor as miniaturas de mesa de Warhammer 40K para o ecrã.

É verdade que, para quem jogou a versão original há vinte anos, pode ser difícil identificar de imediato as diferenças. Mas o resultado final transmite uma sensação de maior nitidez e consistência, sobretudo em resoluções elevadas como 4K, onde a nova edição brilha ao manter um aspeto limpo e fiel ao espírito original. A direção artística continua a ser um dos pontos fortes. Cada facção tem um design único, imediatamente reconhecível, e as animações de combate, apesar de datadas em alguns detalhes, continuam a transmitir o peso e a brutalidade das batalhas. O simples ato de ver um Space Marine a disparar um bolter ou um Ork a avançar de forma caótica continua a ser incrivelmente satisfatório.

Som

Ao contrário do grafismo, o áudio não recebeu grandes alterações. Mas talvez isso seja para o melhor. As vozes originais continuam a ser algumas das mais memoráveis do género, com dublagens carismáticas que captam perfeitamente o espírito de cada facção. Desde os gritos raivosos dos Orks até ao tom solene dos Space Marines, tudo contribui para reforçar a imersão.

A banda sonora, composta por Inon Zur, mantém a qualidade que a caracterizava, embora talvez não tenha o mesmo impacto imediato que outras obras do compositor. Continua a ser um acompanhamento sólido, adequado ao tom épico e sombrio do jogo, mesmo que não se destaque tanto na memória quanto outras trilhas sonoras do género. O design sonoro nas batalhas, por outro lado, permanece exemplar. Os disparos, explosões e choques de armas corpo a corpo dão uma sensação visceral ao campo de batalha, tornando cada confronto intenso e credível. Se o grafismo ajuda a criar a ilusão de estar a controlar exércitos de miniaturas, o som dá vida a essa ilusão, transformando-a em algo muito mais próximo de uma verdadeira guerra futurista.

Conclusão

Warhammer 40K: Dawn of War Definitive Edition é um título que, mesmo após duas décadas, continua a ser obrigatório para fãs de estratégia em tempo real e para quem deseja explorar o universo de Warhammer 40K em videojogo. A jogabilidade continua viciante, as campanhas mantêm-se envolventes e o multijogador oferece uma longevidade quase infinita graças à diversidade de facções e agora ao suporte oficial para mods.

Contudo, é impossível ignorar o contexto em que esta versão foi lançada. Muitas das melhorias poderiam e talvez devessem ter sido incluídas já na Anniversary Edition, e o facto de os fãs terem de voltar a pagar por algo que parece mais uma atualização de qualidade de vida do que uma verdadeira edição definitiva deixa um sabor amargo. É uma prática discutível, que mancha de certa forma o impacto positivo que o jogo poderia ter tido neste relançamento.

Para novos jogadores, o valor continua excelente: um pacote completo que reúne o jogo base, todas as expansões e ainda melhorias de compatibilidade e gráficos polidos. Para veteranos, a compra torna-se uma decisão mais difícil, entre a nostalgia e o desconforto de pagar novamente por um título já adquirido em versões anteriores. No fim de contas, Dawn of War Definitive Edition não altera a essência de um clássico, mas mantém-no vivo para uma nova geração. E isso, por si só, já é um feito notável.

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