Análise: Hidden Memories of The Gardens Between

Hidden Memories of The Gardens Between é uma experiência que mistura nostalgia, amizade e criatividade num jogo que agora recebe uma adaptação para realidade virtual. Originalmente lançado em 2018 como The Gardens Between, este título de puzzles narrativos conquistou muitos jogadores pela sua abordagem única de manipulação do tempo e pelo simbolismo presente em cada cenário. Com esta nova versão, a The Voxel Agents expande a experiência, oferecendo não só uma perspetiva diferente graças à realidade virtual, mas também alguns conteúdos adicionais que aprofundam a história das personagens. Embora não seja uma verdadeira sequela, Hidden Memories funciona como uma revisita ao passado, agora com uma nova camada de imersão que procura emocionar tanto os novos jogadores como os veteranos.

O jogo chega ao Quest e ao PC VR, sendo esta análise baseada na versão para Quest 3. Apesar de trazer novidades interessantes, a essência mantém-se intacta: uma jornada curta, mas emocional, que retrata de forma poética a amizade e a inevitabilidade das mudanças que a vida nos impõe.

Jogabilidade

A jogabilidade de Hidden Memories assenta na manipulação do tempo de uma forma simples, mas criativa. O jogador não controla diretamente as personagens Arina e Frendt. Em vez disso, guia-as ao longo de cada ilha através do movimento do tempo para a frente ou para trás. Com a realidade virtual, esta mecânica torna-se ainda mais intuitiva, já que basta mover a mão para a direita para avançar ou para a esquerda para recuar. Este sistema funciona muito bem com o rastreamento das mãos, bastando um simples gesto de pinça para interagir com objetos, ou, em alternativa, pode-se usar os controladores tradicionais.

Cada nível tem como objetivo levar uma esfera rosa até um portal localizado no topo da ilha, utilizando uma lanterna que transporta essa luz. À medida que se avança, novas mecânicas são introduzidas, como flores que fornecem ou absorvem esferas, nuvens que só podem ser atravessadas com luz ou caminhos que só se tornam acessíveis sem carregar a esfera. Este aumento gradual de complexidade oferece uma curva de aprendizagem equilibrada, ainda que alguns puzzles possam causar frustração devido à falta de pistas claras.

O design dos puzzles incentiva a observação atenta, pois muitas soluções dependem de pequenos detalhes. A satisfação de resolver um desafio é grande, mas existem momentos, sobretudo na parte intermédia do jogo, em que a dificuldade pode parecer um pouco desajustada. Ainda assim, a experiência mantém-se envolvente, principalmente graças à simplicidade dos controlos e à sensação tátil proporcionada pela realidade virtual.

Mundo e história

A história de Hidden Memories é contada sem palavras, transmitida exclusivamente através de imagens e simbolismos. Arina e Frendt são dois amigos de infância que partilham aventuras num mundo que reflete as suas memórias e emoções. Cada ilha representa um momento importante da amizade deles, repleto de objetos do dia-a-dia que ganham dimensões e significados surreais.

Nesta nova versão, existe uma introdução que mostra os personagens já adultos, anos depois dos eventos originais, antes de regressarem às memórias da infância. Esta adição dá um contexto emocional mais forte, reforçando o impacto da narrativa e tornando a jornada mais pessoal. No entanto, o final continua algo abrupto, deixando a sensação de que poderia ter sido desenvolvido mais um pouco.

Um elemento adicional nesta versão é a presença de colecionáveis que preenchem o diário de Arina. Estes itens, muitas vezes escondidos ou exigindo interações específicas, desbloqueiam pequenas cenas que aprofundam a relação entre as personagens. Embora seja uma adição interessante, não chega a ser suficiente para justificar uma nova passagem completa pelo jogo para quem já terminou o original.

Grafismo

Visualmente, Hidden Memories mantém o estilo artístico encantador que caracterizou o original. Os cenários são como dioramas que podemos rodar, oferecendo diferentes perspetivas sobre cada ilha. Esta abordagem funciona muito bem em VR, sobretudo no Quest 3, permitindo ao jogador sentir que está a manipular uma pequena maquete cheia de detalhes.

Os ambientes misturam elementos naturais com objetos quotidianos em escala desproporcional, criando um efeito surreal que evoca memórias de infância e imaginação. Desde bicicletas gigantes vistas ao longe até sofás enormes transformados em terrenos, cada nível tem uma identidade própria que convida à exploração visual.

No entanto, a resolução no Quest 3 deixa algo a desejar, não sendo tão nítida quanto seria desejável numa experiência que depende tanto da apreciação estética. Além disso, existe um contorno negro algo incómodo quando se ultrapassa a área de jogo fixa, o que pode quebrar a imersão. Apesar destes problemas, a direção artística continua a ser um dos pontos fortes do jogo.

Som

A componente sonora de Hidden Memories desempenha um papel fundamental na criação da atmosfera emocional. A banda sonora é suave e melancólica, acompanhando perfeitamente os momentos de introspeção e descoberta. Cada faixa parece ter sido cuidadosamente pensada para reforçar a narrativa visual, funcionando quase como uma personagem invisível que guia o jogador ao longo da jornada.

Os efeitos sonoros também são bem implementados, dando vida aos cenários e ajudando a transmitir a sensação de manipulação do tempo. Desde o som delicado das flores a absorverem luz até ao ruído distante de objetos gigantes, cada detalhe contribui para a imersão. A ausência de diálogos verbais é compensada por esta expressividade sonora, que consegue transmitir emoções sem a necessidade de palavras.

Conclusão

Hidden Memories of The Gardens Between é uma experiência única que mistura puzzles criativos com uma narrativa emocionalmente envolvente. A adaptação para realidade virtual acrescenta uma nova dimensão à jogabilidade e à apresentação visual, tornando a interação mais intuitiva e imersiva. Apesar de alguns problemas técnicos, como a resolução pouco nítida e certos puzzles frustrantes, o jogo mantém-se envolvente e visualmente impressionante.

Para quem nunca jogou o original, esta é sem dúvida a melhor forma de descobrir a história de Arina e Frendt. Já para quem conhece a versão de 2018, a decisão depende do quanto valoriza a experiência em VR e os conteúdos adicionais, que, apesar de interessantes, são relativamente limitados. No final, Hidden Memories é uma viagem curta, mas memorável, que celebra a amizade, a imaginação e as memórias que nos moldam.

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