Análise: Lost Soul Aside

Lost Soul Aside é um jogo que demorou anos a chegar ao mercado, tendo chamado a atenção desde os primeiros trailers pela sua estética que lembra a série Final Fantasy. Desenvolvido pela Ultizero Games e publicado pela PlayStation, este título faz parte do China Hero Project, uma iniciativa destinada a apoiar estúdios chineses a desenvolver jogos ambiciosos para o mercado global. Lançado para PC e PlayStation 5, Lost Soul Aside apresenta-se como um hack and slash com elementos de RPG, onde a ação rápida e os combos espetaculares são o centro da jogabilidade.

No entanto, apesar da promessa inicial e de alguns momentos de pura diversão, o jogo sofre com problemas de ritmo e decisões de design que impedem a experiência de atingir todo o seu potencial. A narrativa tenta emular os dramas épicos da Square Enix, mas nem sempre consegue manter o mesmo nível de qualidade, resultando numa história que por vezes soa forçada ou confusa. A primeira impressão é particularmente problemática, com uma abertura lenta e um início de combate demasiado limitado, o que pode afastar alguns jogadores antes que o jogo revele os seus pontos fortes.

Jogabilidade

A base da jogabilidade de Lost Soul Aside assenta na ação frenética e na troca constante entre diferentes armas, sendo que a mais peculiar é um dragão que se transforma em espada. Esta mecânica oferece um grande potencial para criar combos variados e visuais impressionantes. Inicialmente, no entanto, o jogador tem acesso apenas a uma espada básica e a um conjunto muito limitado de movimentos, o que torna as primeiras horas algo aborrecidas.

Com o desenrolar da aventura, novas armas vão sendo desbloqueadas, incluindo uma enorme espada de grande alcance, uma foice e uma lança. É possível alternar entre estas quatro armas em pleno combate, criando sequências fluidas de ataques leves e pesados. A variedade é uma das maiores forças do jogo, com cada arma a ocupar um papel específico, permitindo abordagens estratégicas consoante o tipo de inimigo. Um elemento interessante são os chamados Burst Moves, movimentos especiais que podem ser ativados no momento certo, quando o personagem brilha a azul durante um combo. Estes ataques adicionam um toque visualmente espetacular e aumentam o dano, funcionando como a cereja no topo do bolo para quem gosta de dominar sistemas de combate complexos.

O grande problema é que quase todos estes movimentos, bem como muitas habilidades essenciais, estão bloqueados atrás de uma árvore de talentos extensa. Isto significa que o jogador passa muito tempo limitado, só mais tarde conseguindo experimentar o verdadeiro potencial do combate. Além disso, a câmara encontra-se demasiado afastada da ação, o que dificulta acompanhar os combates mais caóticos e, por vezes, faz com que seja difícil localizar o protagonista em meio a explosões e partículas visuais.

Há ainda algumas falhas na sensação de impacto: os inimigos raramente reagem aos golpes, parecendo autênticos sacos de areia. Isto retira intensidade às batalhas, tornando algumas lutas repetitivas. A esquiva perfeita é bastante poderosa, permitindo que o protagonista desapareça e reapareça rapidamente, o que acaba por desequilibrar certas batalhas. Apesar de todos estes problemas, quando o combate flui, é possível sentir a adrenalina e o jogo revela o seu melhor lado.

Mundo e história

A narrativa de Lost Soul Aside segue Kaser, um jovem que se junta a um grupo de resistência chamado Glimmer, numa clara inspiração à Avalanche de Final Fantasy VII Remake. O mundo encontra-se dividido entre pessoas comuns e os chamados Gifted, indivíduos que possuem poderes especiais graças ao acesso a uma misteriosa fonte de energia.

Kaser começa como um combatente comum, mas a sua vida muda radicalmente quando um ataque durante uma parada corre mal. Nesse momento, a sua irmã vê a sua alma ser roubada por criaturas chamadas Voidrax. Durante o confronto, Kaser acaba por fundir a sua própria alma com a de um dragão ancestral chamado Lord Arena, que se torna a sua principal arma e companheiro. Lord Arena é uma presença constante, flutuando junto ao protagonista e oferecendo comentários sarcásticos enquanto fornece habilidades especiais.

A história tenta criar uma narrativa épica, abordando temas de impérios, rebeliões e poderes ancestrais, mas sofre com diálogos estranhos e uma localização que parece ter perdido nuances no processo de tradução. Muitas falas são repetitivas e, por vezes, os personagens parecem estar a falar uns sobre os outros em vez de interagir de forma natural.

O mundo de Lost Soul Aside é visualmente apelativo, com ambientes distintos que vão desde templos em selvas exóticas a cidades futuristas e dimensões alternativas. Contudo, a exploração não é muito profunda, funcionando mais como um cenário para os combates do que como um mundo vivo e interativo. Além disso, as secções de plataformas são pouco inspiradas e tornam-se frustrantes devido à rigidez dos controlos de salto.

Grafismo

Graficamente, Lost Soul Aside consegue impressionar em vários momentos, especialmente em imagens estáticas. O design de personagens, particularmente o de Kaser e das criaturas Voidrax, tem um estilo moderno e detalhado, claramente inspirado nos últimos jogos da saga Final Fantasy.

Os efeitos visuais durante os combates são bastante chamativos, com partículas, explosões e transformações constantes. Isto contribui para um espetáculo visual interessante, mas também cria problemas de clareza, principalmente quando a câmara está demasiado afastada. Em lutas mais caóticas, é fácil perder a noção do que está a acontecer. As cutscenes, infelizmente, não mantêm sempre o mesmo nível de qualidade. Algumas sequências são animadas de forma convincente, especialmente nas cenas de ação, mas a maioria apresenta movimentos rígidos e pouco naturais, quebrando a imersão. Isto transmite a sensação de que algumas partes do jogo receberam mais atenção do que outras durante o longo ciclo de desenvolvimento.

Ainda assim, é justo dizer que Lost Soul Aside consegue criar momentos visualmente impressionantes, principalmente quando se combinam os ataques das diferentes armas com os poderes de Lord Arena.

Som

A componente sonora de Lost Soul Aside é competente, mas não particularmente memorável. A banda sonora acompanha bem a ação, alternando entre músicas mais épicas durante os combates e temas mais calmos nas zonas de exploração. Contudo, não há temas que fiquem na memória ou que se destaquem por si só.

O voice acting é aceitável, com Lord Arena a ser a voz mais carismática do elenco, graças ao seu tom sarcástico e rouco. Infelizmente, muitos diálogos soam forçados ou desprovidos de emoção, provavelmente devido a problemas de tradução ou direção de vozes. Este fator contribui para a sensação de desconexão entre personagens durante as cutscenes. Os efeitos sonoros durante os combates são satisfatórios, embora a falta de reação dos inimigos aos golpes torne o impacto menos convincente. As esquivas, explosões e ataques especiais têm bom feedback sonoro, ajudando a manter o ritmo durante as batalhas.

Conclusão

Lost Soul Aside é um jogo ambicioso que tenta equilibrar um combate frenético com uma narrativa épica e visuais impressionantes. Quando o combate atinge o seu auge, com todas as armas desbloqueadas e combos a fluir naturalmente, a experiência pode ser extremamente divertida. A possibilidade de alternar entre diferentes estilos de ataque em pleno combate dá uma sensação de liberdade e criatividade rara no género.

Infelizmente, o jogo demora demasiado tempo a chegar a este ponto, com uma introdução lenta e habilidades essenciais bloqueadas por longas árvores de progressão. A história, apesar de ter boas ideias, sofre com diálogos pouco inspirados e uma apresentação que nem sempre convence. A estrutura dos níveis também se torna repetitiva, com combates que acabam por se confundir uns com os outros e bosses que recorrem a períodos de invencibilidade frustrantes.

Para os fãs de hack and slash que estejam dispostos a ter paciência e ultrapassar as primeiras horas mais arrastadas, Lost Soul Aside pode oferecer momentos de pura diversão. No entanto, para quem procura uma experiência imediata e polida como Devil May Cry 5 ou Ninja Gaiden, este jogo pode deixar a desejar. É uma obra que mostra muito potencial, mas que não consegue aproveitá-lo por completo, ficando aquém do estatuto de referência no género que parecia prometer.

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