Antevisão: Grim Trials

Grim Trials é um novo roguelite hack-and-slash desenvolvido pela Glory Jam e publicado pela Neon Doctrine, que procura seguir os passos de títulos como Hades e outros sucessos do género. O jogo coloca-nos na pele de Avelin, uma jovem que morreu e foi recrutada para se tornar uma Ceifadora ao serviço da própria Morte. Para provar o seu valor, terá de enfrentar uma série de desafios em arenas que se desenrolam num mundo sombrio e implacável. Cada tentativa bem-sucedida ou falhada serve como mais uma peça na progressão do jogador, que regressa sempre a um centro de operações onde pode melhorar atributos e equipamentos antes de voltar a mergulhar nas masmorras.

A premissa é simples, mas eficaz: Avelin precisa de se tornar uma Ceifadora completa para ter a possibilidade de rever a pessoa que ama, ainda viva no mundo dos mortais. É este objetivo emocional que dá uma motivação extra às batalhas constantes, tornando cada tentativa mais significativa, mesmo quando o jogador se vê repetidamente derrotado.

Grim Trials não tenta reinventar completamente o género, mas introduz algumas mecânicas próprias que lhe conferem identidade, como um sistema de criação de itens e consumíveis. No entanto, apesar das boas ideias, existem áreas que necessitam de mais polimento, especialmente no que toca ao combate e à narrativa.

Jogabilidade

O combate em Grim Trials segue a estrutura típica de um roguelite de ação. O jogador pode equipar uma arma leve e uma pesada, cada uma exigindo abordagens diferentes. As armas leves permitem ataques rápidos e maior mobilidade, enquanto as pesadas oferecem golpes mais devastadores, mas mais lentos. Além destas, Avelin possui um ataque à distância e uma habilidade especial que se carrega à medida que causa dano aos inimigos. Esta variedade incentiva a experimentar combinações distintas e adaptar a estratégia ao tipo de inimigos encontrados.

À medida que se avança nas masmorras, Avelin ganha níveis, sendo recompensada com a escolha entre três melhorias aleatórias. Estas podem aumentar o poder de ataque, adicionar efeitos secundários às habilidades ou melhorar a resistência e sobrevivência. Esta mecânica cria uma sensação constante de progressão durante cada tentativa, incentivando o jogador a experimentar diferentes sinergias.

No entanto, o combate apresenta alguns problemas. O ritmo das batalhas nem sempre é fluido, e existem momentos em que os golpes parecem não acertar corretamente devido a hitboxes imprecisas. Além disso, a mecânica de esquiva carece de polimento, pois em algumas situações não é possível cancelar um ataque para desviar de um golpe inimigo, o que resulta em frustração desnecessária. Outro aspeto menos intuitivo está no sistema de pontaria à distância. Em vez de usar o analógico direito para mirar, o jogo obriga o jogador a segurar o gatilho esquerdo para ativar a mira, controlá-la com o analógico esquerdo e depois disparar com o gatilho direito. Esta abordagem é confusa e pouco prática, tornando o combate menos natural do que deveria ser.

Apesar destes problemas, o sistema de crafting traz um elemento interessante. Durante as explorações, é possível recolher materiais brutos que podem ser transformados em componentes para criar armas, armaduras e consumíveis. Os equipamentos podem ocupar diferentes espaços, como capacetes, botas ou capas, permitindo alguma personalização do estilo de jogo. Já os consumíveis são usados apenas uma vez, mas podem ser levados para a próxima tentativa, o que dá ao jogador uma sensação de preparação e progressão para além das melhorias permanentes típicas do género.

Mundo e história

O mundo de Grim Trials é sombrio e opressivo, representando o submundo como um lugar frio e cheio de perigos. A história gira em torno de Avelin e da sua jornada para se tornar uma Ceifadora, o que não só define os objetivos do jogador como também estabelece uma ligação emocional com a protagonista. A busca por se reencontrar com a pessoa amada confere peso às ações do jogador e acrescenta um toque de humanidade a um cenário repleto de violência e morte.

Apesar desta base promissora, a narrativa não está bem desenvolvida. O texto do jogo sofre de problemas graves de escrita, sendo muitas vezes desnecessariamente expositivo e pouco envolvente. Um dos erros mais evidentes está na forma como o diálogo é apresentado. Em várias ocasiões, o jogo insere descrições do tom das falas entre parênteses, como por exemplo [confuso] ou [dramático], algo que quebra a imersão e demonstra falta de confiança na capacidade do jogador para interpretar as falas por si mesmo. Esta abordagem torna as interações artificiais e pouco naturais.

A consequência é que a história, em vez de enriquecer a experiência, acaba por ser um elemento que muitos jogadores podem ignorar completamente, focando-se apenas na jogabilidade. Com algum trabalho adicional, Grim Trials poderia oferecer uma narrativa mais envolvente e emocionalmente impactante.

Grafismo

Visualmente, Grim Trials apresenta uma direção artística sólida e apelativa. O jogo aposta em gráficos 2D desenhados à mão, que conferem um estilo único e facilmente reconhecível. Os designs dos personagens e inimigos são particularmente bem conseguidos, com Avelin a destacar-se pelas suas animações detalhadas e expressivas. Cada ataque, especialmente os mais pesados, transmite uma sensação real de impacto e força, algo essencial num jogo de combate rápido e visceral.

Os cenários das arenas estão bem construídos, com elementos do ambiente que parecem naturais e integrados. Detritos espalhados pelo chão, rochas e vegetação alta não servem apenas como decoração, mas também ajudam a criar uma atmosfera convincente. Pequenos detalhes, como destruir pedras ou cortar ervas altas, acrescentam uma sensação tátil ao combate, tornando a experiência mais satisfatória.

Apesar de não ter o orçamento de um grande estúdio, Grim Trials demonstra criatividade visual, conseguindo transmitir um mundo sombrio e coerente com a temática do jogo.

Som

O trabalho sonoro em Grim Trials cumpre a sua função, mas não se destaca tanto quanto os visuais. As músicas acompanham bem a ação, criando uma atmosfera adequada durante os combates e momentos de exploração. No entanto, não existem faixas particularmente memoráveis que fiquem na mente do jogador após a sessão de jogo.

Os efeitos sonoros são mais eficazes, especialmente no que toca aos ataques e impactos. O som de um golpe pesado a acertar num inimigo ou de uma esquiva bem-sucedida contribui para a sensação de peso e impacto do combate. Já as vozes e o diálogo carecem de qualidade, algo que se junta aos problemas já referidos na escrita, enfraquecendo ainda mais a narrativa.

Com algum investimento adicional na composição musical e na direção de voz, Grim Trials poderia elevar bastante a sua componente sonora.

Conclusão

Grim Trials é um roguelite hack-and-slash com boas ideias e uma base sólida, mas que ainda precisa de bastante polimento para atingir o seu verdadeiro potencial. A jogabilidade apresenta uma boa variedade de armas e habilidades, assim como um sistema de crafting que acrescenta profundidade e opções estratégicas. No entanto, problemas técnicos, como hitboxes imprecisas e controlos pouco intuitivos, prejudicam a experiência.

A narrativa, apesar de ter uma premissa interessante, acaba por ser mal executada e pouco envolvente, deixando a história em segundo plano. Felizmente, o grafismo compensa em grande parte, com um estilo visual desenhado à mão que dá vida ao mundo sombrio do jogo.

No estado atual, Grim Trials é um título que pode agradar aos fãs do género dispostos a aceitar algumas falhas em troca de uma experiência diferente. Com atualizações futuras e mais atenção aos detalhes, pode vir a ser uma proposta muito mais forte e recomendável.

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