A chegada de um novo título anual da série de futebol da EA é sempre recebida com uma mistura de expectativa e desconfiança. Depois do FC 25, que acabou por deixar muitos jogadores desiludidos devido à sua excessiva semelhança com o FC 24, a pressão sobre a EA era clara: trazer novidades significativas e justificar mais um lançamento. EA Sports FC 26 surge, então, como a tentativa de mostrar que a série ainda tem capacidade para evoluir.
Logo à partida, é importante reconhecer que existem melhorias palpáveis. Este novo capítulo não é apenas uma atualização de plantéis mascarada de jogo novo. As mudanças podem não ser revolucionárias, mas conseguem alterar a forma como o jogo se sente, sobretudo graças à introdução dos modos Autêntico e Competitivo. A EA procurou equilibrar as necessidades dos fãs que querem uma simulação próxima da realidade com aqueles que procuram partidas rápidas e intensas online. No entanto, como sempre acontece com esta série, as virtudes não escondem as limitações. Por muito que a EA insista em apresentar o FC 26 como uma evolução, ainda há problemas estruturais que se mantêm de ano para ano, sendo a defesa da inteligência artificial em níveis mais baixos de dificuldade o exemplo mais gritante.
Jogabilidade
A jogabilidade é, como seria de esperar, o ponto central de discussão em qualquer título de futebol. A EA introduziu este ano duas variantes distintas de estilo de jogo: Autêntico e Competitivo. Esta separação é mais do que uma simples mudança cosmética; ela impacta profundamente a forma como cada partida se desenrola.
O modo Autêntico é claramente o mais interessante para quem procura realismo. Os jogos tornam-se mais pausados, exigindo maior atenção à ocupação de espaços, ao posicionamento e às dinâmicas táticas. É aqui que a série mais se aproxima do verdadeiro futebol. Jogar neste modo obriga a paciência, à construção cuidada e ao respeito pelos ritmos naturais do desporto. Um passe mal medido ou uma perda de bola no meio-campo podem ter consequências sérias, tal como acontece na realidade. Por outro lado, o modo Competitivo destina-se sobretudo ao online, onde a prioridade é a velocidade e a emoção constante. Os jogos são mais rápidos, mais diretos, e os jogadores percorrem o campo de uma ponta à outra em busca de golos. É um estilo pensado para agradar ao público que procura adrenalina imediata e partidas intensas, mas que sacrifica parte do realismo em prol da diversão rápida.
Infelizmente, a velha questão da defesa volta a assombrar a série. Em níveis de dificuldade inferiores a Classe Mundial, a inteligência artificial praticamente desiste de defender. É demasiado fácil ultrapassar defesas inteiras com corridas rápidas ou combinações simples, e os resultados podem atingir números absurdos. Jogar em Profissional e vencer equipas da Premier League por 8 ou 9 golos de diferença não faz sentido e rapidamente tira a piada à experiência. A recomendação óbvia é jogar em Classe Mundial ou acima, onde as equipas começam a respeitar táticas e formações, mas isso também limita o público que consegue usufruir do modo Autêntico de forma justa.
No que toca a modos, Carreira de Jogador e de Treinador regressam como pilares do single player. A grande novidade são os eventos inesperados que, de forma aleatória, podem alterar o rumo de uma temporada. Desde lesões graves que forçam jogadores a terminar a carreira até simples atrasos que prejudicam o aquecimento de uma equipa, estes momentos trazem um grau de imprevisibilidade refrescante. É verdade que nem todos são igualmente interessantes, mas o facto de poderem surgir a qualquer momento mantém o jogador alerta.
A vertente de formação mantém a sua importância, com a possibilidade de desenvolver jovens talentos e definir planos de evolução. Embora haja algum detalhe neste sistema, continua longe da complexidade oferecida por simuladores dedicados como o Football Manager. Ainda assim, é suficiente para dar alguma profundidade e criar ligação com os jovens jogadores que vão evoluindo no clube.

Modos a solo
A série EA Sports FC nunca se destacou pela narrativa, mas isso não significa que não existam elementos capazes de dar algum enquadramento às partidas. O modo carreira, sobretudo na vertente de treinador, é o mais próximo de uma narrativa dinâmica, graças aos tais eventos inesperados. Estes momentos criam micro-histórias que podem alterar a forma como olhamos para uma temporada. Uma lesão que força a integração de um jovem promissor ou um conjunto de maus resultados devido a fatores externos acrescentam drama e variedade.
O sistema de Live Points, que permite começar temporadas a partir do ponto real em que se encontram na vida real, também dá alguma ligação com o mundo do futebol. É uma funcionalidade que reforça a ligação entre a realidade e o virtual, e para muitos jogadores é uma oportunidade de reescrever a história de um clube.
No entanto, fora destes detalhes, continua a faltar uma camada narrativa mais envolvente. Os modos carreira acabam por se sentir funcionais, mas estéreis. Há sempre a sensação de que a EA prefere apostar no Ultimate Team e nos modos online, deixando o single player como uma experiência secundária.
Ainda assim, para quem gosta de construir uma história pessoal com um clube ou jogador, há aqui espaço suficiente para criar memórias, especialmente se o jogador estiver disposto a imaginar e preencher as lacunas narrativas que o jogo não cobre.
Modos online
Os modos online continuam a ser o grande foco da EA e, em FC 26, a oferta é variada, com Ultimate Team a liderar o conjunto de experiências. Este é o modo mais jogado e aquele em que a EA aposta grande parte dos seus recursos, e não é difícil perceber porquê. O Ultimate Team não só garante longevidade ao jogo, como também é a principal fonte de receitas adicionais, graças aos pacotes e microtransações. No entanto, este ano há algumas novidades que procuram refrescar a fórmula.
A maior delas é a introdução dos eventos ao vivo. Estes eventos criam condições específicas para as partidas, alterando as regras e os cenários de jogo de forma a oferecer desafios únicos. É um sistema que adiciona variedade e impede que todas as partidas pareçam iguais, já que obriga os jogadores a adaptarem-se constantemente. Também se destacam os novos torneios sazonais, que não acontecem semanalmente como antes, mas em períodos específicos do calendário. Esta alteração dá mais peso a cada competição, tornando-as mais relevantes.
O modo Gauntlet é outra novidade curiosa. Aqui, os jogadores têm de disputar cinco jogos consecutivos, mas com a restrição de trocar a equipa a cada partida. Isto cria uma camada estratégica inesperada, porque obriga a pensar na gestão de plantel a longo prazo. Guardar os melhores jogadores para as fases finais é essencial, e isso torna este modo diferente do que estamos habituados. Para além do Ultimate Team, regressam os modos Clubes, Rush e as partidas rápidas online. Os Clubes continuam a ser um espaço de socialização e competição, onde é possível jogar com amigos ou integrar equipas maiores. Apesar de não terem recebido mudanças profundas, mantêm-se relevantes pela vertente cooperativa que oferecem. Já o Rush procura atrair jogadores que querem uma experiência mais leve, com jogos rápidos e menos formais.
O modo Competitivo, aplicado em praticamente todas as experiências online, dá às partidas uma velocidade e fluidez próprias. Quem prefere realismo pode não gostar do ritmo mais frenético, mas para o ambiente competitivo faz sentido, já que garante confrontos intensos e espetaculares.
Ainda assim, não é possível ignorar que a comunidade online continua a estar dividida entre quem investe grandes quantidades de dinheiro para ter equipas recheadas de estrelas e quem tenta evoluir apenas com tempo e dedicação. A EA introduziu desafios que limitam o nível de cartas utilizadas, precisamente para equilibrar esta diferença, mas o desequilíbrio permanece.
No geral, os modos online em FC 26 são robustos e variados, oferecendo algo para todos os gostos. A EA conseguiu introduzir novidades que dão frescura, mas também não conseguiu escapar à dependência das microtransações, que continuam a moldar a forma como os jogadores experienciam o lado competitivo do jogo.

Grafismo
Visualmente, FC 26 não se distancia muito do que vimos em FC 25. A EA continua a apostar em pequenas melhorias ano após ano, mas nunca em saltos significativos. O motor de jogo já provou ser capaz de apresentar um nível gráfico elevado, mas nota-se que a evolução é contida, talvez para garantir estabilidade em várias plataformas.
As animações são um dos pontos fortes. Os movimentos dos jogadores em campo têm fluidez, e no modo Autêntico os ritmos mais pausados ajudam a reparar no detalhe dos passes, receções e movimentos sem bola. Ainda assim, há momentos em que a transição entre animações continua a ser pouco natural, sobretudo em colisões ou cortes defensivos. Os estádios mantêm o excelente nível de detalhe, com recriações fiéis e ambientes vibrantes. A atmosfera das bancadas é convincente, ainda que falte alguma variedade nas reações do público.
É justo dizer que FC 26 é um jogo bonito, mas que já não surpreende. A fasquia gráfica está alta, mas sem novidades drásticas, a sensação de familiaridade torna-se inevitável.
Som
O trabalho sonoro segue a linha habitual da série, com destaque para a atmosfera dentro dos estádios. O público reage às jogadas com entusiasmo e dá a sensação de estar a viver um verdadeiro jogo de futebol. As canções escolhidas para a banda sonora mantêm o estilo multicultural que se tornou imagem de marca da série, variando entre géneros e regiões para agradar a um público global.
Os comentários continuam a cumprir o seu papel, mas já se sentem repetitivos. Há pouca frescura no que é dito durante os jogos, e quem joga muitas partidas rapidamente começa a ouvir frases recicladas. Os efeitos sonoros, como o contacto da bola, remates e defesas dos guarda-redes, mantêm-se de boa qualidade. A adição de maior destaque ao som das torcidas e das celebrações após golos é positiva, mas também não revoluciona.
Em suma, o som em FC 26 é competente, mas sem surpresas. Cria a atmosfera necessária, mas não dá passos significativos em frente.

Conclusão
EA Sports FC 26 é, sem dúvida, uma melhoria face ao FC 25. As mudanças implementadas, sobretudo a divisão entre modos Autêntico e Competitivo, fazem diferença real na jogabilidade. A experiência em single player torna-se mais gratificante quando jogada nas dificuldades mais elevadas, e os eventos inesperados no modo carreira dão uma lufada de ar fresco.
No entanto, os problemas persistentes, em especial a defesa da inteligência artificial nos níveis mais baixos, continuam a comprometer parte da experiência. O Ultimate Team mantém-se como a grande prioridade da EA, recebendo novidades interessantes como eventos ao vivo e o modo Gauntlet, mas também perpetuando a tendência de favorecer quem investe mais tempo (ou dinheiro) no jogo.
Visual e sonoramente, o jogo é sólido, mas pouco ousado. É bonito, competente, mas familiar. No final, FC 26 representa um passo em frente, mas está longe de ser o salto que muitos desejavam. É um jogo que consegue oferecer partidas intensas e, no modo Autêntico, um vislumbre de simulação realista, mas que ainda vive demasiado preso ao seu próprio passado. Para os fãs da série, é provavelmente o melhor título desde a mudança de nome para EA Sports FC, mas continua a ser apenas um passo intermédio rumo a algo maior.