Lonely Mountains: Snow Riders é um jogo que consegue equilibrar com mestria dois polos emocionais aparentemente opostos: a frustração de cair vezes sem conta e o estado quase meditativo de deslizar sem erros por uma pista nevada. Desenvolvido pela Megagon Industries, este spin-off da série Lonely Mountains leva-nos para uma nova abordagem desportiva – o esqui – mantendo o ADN da série: trilhos off-road, rotas alternativas e uma experiência desafiante e profundamente gratificante. Snow Riders é ao mesmo tempo um teste aos reflexos e um convite à contemplação, numa paisagem fria, mas visualmente calorosa.
Jogabilidade
O jogo oferece 12 pistas divididas por três regiões, cada uma com uma versão azul (mais acessível) e uma preta (mais difícil). Estas são desbloqueadas através de desafios de tempo, provas de resistência sem quedas e outros testes de perícia. Apesar de parecer pouco em quantidade, rapidamente se percebe que a profundidade está na forma como se domina cada trilho. Existem várias rotas dentro de cada pista, o que dá liberdade ao jogador para escolher o seu caminho – quer seja um desvio mais seguro à volta de um rochedo ou uma descida quase vertical com salto sobre um desfiladeiro.
Snow Riders recompensa a repetição e o aperfeiçoamento. A jogabilidade assenta numa física credível e exige controlo fino sobre o esquiador. Existem vários tipos de esquis com características distintas – mais rápidos, mais estáveis, mais ágeis – e cada um adapta-se melhor a certos estilos e trilhos. Os controlos são responsivos, com travagens rápidas e curvas cerradas facilmente executadas, o que ajuda bastante a suavizar a curva de aprendizagem acentuada.
Uma das novidades mais bem-vindas é o modo Zen, que permite descer a montanha sem pressão de tempo ou contagem de quedas. Neste modo, o jogador pode colocar checkpoints manuais, tornando-o ideal para explorar atalhos e experimentar rotas mais arriscadas antes de os aplicar em provas com tempo. É uma excelente forma de aprender os trilhos e ganhar confiança.

Mundo e história
À semelhança dos jogos anteriores da série, Snow Riders não tem narrativa no sentido clássico. O seu foco está inteiramente na ligação entre o jogador e o ambiente. Cada montanha é uma nova conquista, cada descida um microcosmo de superação pessoal. A ausência de diálogos ou enredo não se sente como uma lacuna, mas sim como uma escolha deliberada para dar protagonismo ao design dos níveis e ao ritmo da experiência.
A inclusão do modo multijogador, que permite competir com até oito jogadores, introduz uma dimensão social interessante. Participar nestas corridas adiciona adrenalina e emoção à progressão, mas o foco mantém-se sempre na relação entre o jogador e a montanha. Ver outros jogadores a falhar, levantar-se e tentar de novo acaba por criar um sentimento de camaradagem inesperado, mesmo quando a única forma de comunicação são os emojis disponíveis.
Grafismo
Visualmente, Lonely Mountains: Snow Riders aposta num estilo minimalista, mas eficaz. As personagens não têm traços faciais, os cenários são constituídos por polígonos simples e cores planas, e há um uso generoso do desfoque de profundidade, evocando o efeito de fotografia em miniatura. Este estilo artístico dá ao jogo um ar de brinquedo, mas consegue transmitir perfeitamente a beleza natural das paisagens alpinas.
O grande destaque vai, no entanto, para a neve. A forma como esta reage ao movimento dos esquis, como brilha à luz do pôr-do-sol ou como se acumula e se espalha em nuvens suaves após uma travagem é verdadeiramente notável. É uma neve com presença física, quase táctil. Marcar o trilho com as passagens repetidas torna-se numa das pequenas alegrias constantes durante as descidas. É um dos raros casos em que um jogo transmite bem a sensação de atravessar neve fofa e recente.

Som
A banda sonora está ausente durante a maioria das descidas, sendo substituída por um design de som que aposta na imersão ambiental. O deslizar dos esquis, o sopro do vento, o som abafado das quedas na neve e os ruídos distantes da natureza compõem uma paisagem sonora calma e reconfortante. Esta abordagem auditiva serve para reforçar a sensação de isolamento e foco individual.
Durante as provas multijogador ou em menus, surgem algumas músicas discretas e funcionais, mas o jogo brilha sobretudo quando nos deixa a sós com os nossos pensamentos e o som da neve sob os pés. O minimalismo auditivo é parte da identidade do jogo, e resulta muito bem.
Conclusão
Lonely Mountains: Snow Riders é uma adição notável à série, que sabe exatamente o que pretende ser. Não é um simulador realista nem um jogo de ação frenética. É um teste de paciência, destreza e vontade de melhorar. Consegue ser relaxante e frustrante ao mesmo tempo, dependendo do momento, mas é essa dualidade que o torna viciante.
Apesar de algumas frustrações com a câmara fixa – que por vezes impede a visibilidade de obstáculos – e alguns problemas técnicos no modo multijogador, como falhas no carregamento e lag, o jogo mantém-se sólido e gratificante. O multijogador, embora ainda algo instável, tem potencial para crescer, e já proporciona momentos divertidos e inesperadamente emocionais.
Com uma apresentação visual charmosa, um design sonoro imersivo e um sistema de progressão que valoriza a melhoria pessoal acima de tudo, Snow Riders é um título que merece atenção. É fácil subestimá-lo à primeira vista, mas é um daqueles jogos que vai ficando na memória e que se vai revisitando para mais uma tentativa, mais uma curva bem feita, mais um salto perfeito. Para quem procura uma experiência desafiante, mas com alma, Lonely Mountains: Snow Riders é uma aposta certeira.