Análise: Lost Skies

Lost Skies é um jogo que tenta capturar o espírito da exploração e da descoberta, tal como o seu antecessor Worlds Adrift. A premissa é simples e apelativa: viajar entre ilhas flutuantes em busca de recursos, ruínas de civilizações antigas e mistérios perdidos, tudo isto enquanto se constrói e pilota uma nave feita à nossa imagem. A ideia é extraordinária e, em teoria, é o tipo de jogo que apela ao sonhador em todos nós. No entanto, a realidade atual de Lost Skies é bem mais complicada.

O jogo, lançado em Acesso Antecipado, mostra um potencial imenso, mas também uma quantidade de problemas técnicos e de design que prejudicam gravemente a experiência. Há momentos em que tudo parece funcionar — o vento sopra, as velas estão erguidas e o horizonte chama — mas também há alturas em que o jogo se desfaz sob o peso dos seus próprios bugs e falhas de desempenho. Ainda assim, é impossível negar o fascínio da sua proposta: explorar um mundo partido, cheio de ilhas suspensas e segredos por descobrir. Lost Skies é um jogo com alma, mas precisa desesperadamente de polimento para brilhar.

Jogabilidade

No centro da jogabilidade de Lost Skies está o ciclo clássico da exploração e progressão: explorar ilhas, recolher materiais, fabricar novos equipamentos e melhorar a tua nave para te aventurares em zonas mais perigosas. É um sistema simples, mas que funciona bem. Há uma satisfação genuína em começar com um monte de madeira e metal enferrujado e, pouco a pouco, transformá-lo num verdadeiro navio de guerra dos céus.

Cada nave é composta por velas, motores e estruturas que podem ser posicionadas livremente, e o comportamento do veículo depende inteiramente das decisões do jogador. Colocar uma vela mal orientada ou um motor num ângulo errado pode significar uma travessia penosa, o que dá uma sensação autêntica de autoria: aquela nave é tua, com todos os seus defeitos e virtudes. Pilotar o navio é uma experiência lenta, mas envolvente — sentir o peso da estrutura responder aos comandos transmite uma escala e imersão que poucos jogos conseguem replicar.

Contudo, há detalhes que frustram mais do que deveriam. Um exemplo é o sistema das velas: quando o navio parte, os motores ligam automaticamente, mas as velas têm de ser abertas manualmente uma a uma, sempre. Quando se pára, fecham-se sozinhas. É um pequeno detalhe que se transforma num incómodo constante, sobretudo quando há dezenas de velas espalhadas pela nave. Pequenos problemas assim acumulam-se e retiram fluidez a uma jogabilidade que, por si só, já tem muito para gerir.

Mundo e história

As ilhas flutuantes de Lost Skies são o verdadeiro coração do jogo. Cada uma parece ter sido desenhada à mão, com ambientes que combinam ruínas, puzzles e desafios de plataforma. Por vezes, encontramos vestígios de civilizações perdidas; noutras, paisagens surrealistas onde rochedos pairam sobre o vazio, observados por estátuas enigmáticas. A sensação de descoberta é constante, e há ilhas que escondem segredos bem profundos — túneis, passagens secretas e instalações misteriosas que recompensam a curiosidade dos jogadores mais atentos.

Infelizmente, este prazer de explorar é frequentemente interrompido por falhas técnicas. Há registos de dados que não funcionam, puzzles que não se ativam e sons que desaparecem completamente após certas ações. Isto cria uma dúvida constante: será que não estou a perceber o enigma, ou será que o jogo está simplesmente avariado? Essa incerteza corrói o prazer da exploração.

Além disso, a variedade de inimigos é bastante limitada. A maioria das ameaças são raias voadoras, drones e torres defensivas. Mesmo quando se chega a zonas mais avançadas, as diferenças são apenas de cor ou de dano. O equilíbrio também precisa de ajustes — inimigos que matam em dois golpes enquanto precisam de dezenas de tiros para cair tornam o combate mais frustrante do que desafiante. Ainda assim, há aqui um esqueleto de um excelente jogo de exploração, à espera de uma base mais sólida.

Grafismo

Visualmente, Lost Skies tenta encontrar um equilíbrio entre realismo e um estilo mais estilizado. As naves e personagens têm um aspeto colorido e limpo, e a iluminação é usada de forma eficaz para transmitir a sensação de altitude e imensidão. Sobrevoar um mar de nuvens com o pôr do sol ao fundo é uma experiência que realmente impressiona.

No entanto, o jogo sofre com texturas inconsistentes e superfícies esticadas que denunciam a falta de cuidado em algumas áreas. Certas rochas e paredes parecem mal renderizadas, quase como se tivessem sido ampliadas a partir de imagens de baixa resolução. Em contraste, as personagens e estruturas principais são detalhadas e vivas, o que cria um choque visual desconfortável.

O desempenho também é um problema. As quedas de frame são constantes, especialmente ao aproximar-se de novas ilhas, quando o jogo congela por segundos enquanto carrega os novos elementos. Mesmo com as definições gráficas em níveis médios, as pausas e engasgos continuam, o que é particularmente grave num jogo que exige precisão em voo e combate. Por vezes, o jogo simplesmente bloqueia, e o jogador é forçado a reiniciar e a refazer longos trajetos. É frustrante e quebra completamente o ritmo da experiência.

Som

O design sonoro de Lost Skies é competente, mas irregular. A banda sonora complementa bem o ambiente de descoberta, com melodias suaves que evocam uma sensação de aventura e isolamento. O som dos motores, o estalar das velas e o eco distante do vento ajudam a criar uma imersão notável, especialmente durante os momentos de tranquilidade no céu aberto.

Contudo, o jogo sofre de bugs sérios neste aspeto. Em certas situações, especialmente após a leitura de registos ou eventos específicos, o som simplesmente desaparece — deixando o jogador num silêncio estranho, apenas interrompido por ruídos ocasionais de disparos ou inimigos. Isto destrói parte da atmosfera e torna a exploração menos envolvente.

Apesar desses problemas, é inegável que o som tem um papel importante na identidade do jogo. Quando tudo funciona como deve, o áudio contribui para uma sensação de solidão épica, como se estivéssemos realmente a explorar os restos de um mundo esquecido.

Conclusão

Lost Skies é um daqueles jogos que parecem nascer de uma paixão genuína pela ideia de aventura e criação. A sensação de construir a tua própria nave e lançá-la aos céus é algo verdadeiramente especial. O sistema de movimentação, com o seu gancho e planador, é fantástico e dá liberdade total para explorar as ilhas de forma criativa. Há momentos em que o jogo brilha e mostra o que poderia ser — um sucessor espiritual digno de Worlds Adrift, com um mundo aberto repleto de segredos e possibilidades.

Mas a realidade, neste momento, é que Lost Skies ainda está longe de alcançar esse potencial. A quantidade de bugs, falhas de desempenho e limitações técnicas tornam a experiência irregular e, por vezes, penosa. A cada instante de fascínio, segue-se outro de frustração. A exploração é divertida, mas imprevisível; a construção é criativa, mas cansativa; o combate é desafiante, mas desequilibrado.

Mesmo assim, há esperança. O núcleo da jogabilidade é sólido, o conceito é inspirador e o potencial de crescimento é enorme. Se a equipa conseguir estabilizar o desempenho, corrigir os erros e expandir o conteúdo, Lost Skies pode transformar-se num dos jogos de exploração aérea mais envolventes dos últimos anos.

Por agora, é uma promessa inacabada — bela nas ideias, mas imperfeita na execução. Um mundo que ainda precisa de ser redescoberto, tanto pelos jogadores como pelos próprios criadores.

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