Nos últimos anos, Pac-Man tem vivido um inesperado renascimento. Depois de décadas a ser apenas o rosto nostálgico da era dos arcades, o ícone amarelo encontrou nova vida através de projetos surpreendentes, desde experiências mais sombrias como Shadow Labyrinth até remakes vibrantes dos clássicos de plataformas em 3D. Agora, com Pac-Man World 2 Re-Pac, a Bandai Namco dá continuidade a essa tendência de revitalização, oferecendo uma nova oportunidade para redescobrir um dos títulos mais adorados da era PlayStation 2.
Tal como aconteceu com Pac-Man World Re-Pac, este novo remake não tenta reinventar a roda. O seu objetivo é simples: proporcionar uma experiência de plataformas refinada, acessível e divertida, que consiga agradar tanto aos veteranos como a novos jogadores. E a verdade é que o jogo consegue exatamente isso. Num ano recheado de lançamentos de peso, Pac-Man World 2 Re-Pac surge como uma pausa agradável e cheia de cor, um tributo à simplicidade dos tempos em que bastava correr, saltar e colecionar para se ser feliz.
Jogabilidade
O coração de Pac-Man World 2 Re-Pac está, sem surpresas, na jogabilidade. A estrutura mantém-se fiel ao original: níveis lineares repletos de frutas, bolinhas e segredos escondidos, com algumas ramificações que recompensam a exploração. O controlo de Pac-Man é responsivo e fluido, refletindo o cuidado que a equipa colocou em modernizar as mecânicas sem descaracterizar a essência.
O famoso “butt bounce” regressa com uma variação aprimorada, permitindo alcançar plataformas mais altas com o tempo certo, o que acrescenta uma pequena camada de decisão estratégica à exploração. A habilidade de lançar projéteis — as bolinhas colecionáveis — também está de volta, sendo agora mais útil e intuitiva. É uma ferramenta indispensável para eliminar inimigos à distância ou desbloquear pequenas recompensas escondidas.
Outro movimento que marca presença é o “rollout”, ideal para ganhar velocidade e subir rampas inclinadas, especialmente útil nos desafios de Time Trial. A combinação entre saltos precisos, deslizes e o “flutter jump” — que permite a Pac-Man pairar por um breve instante — cria um conjunto de movimentos equilibrado e divertido, que mantém o ritmo dinâmico e variado.
A estrutura dos níveis é semifechada, oferecendo liberdade suficiente para recompensar quem explora, mas sem dispersar a experiência. A dificuldade é bem calibrada, aumentando gradualmente até culminar num epílogo desafiante que revisita níveis anteriores em versões mais exigentes. Há também o Fairy Mode, uma opção que suaviza o desafio para quem prefere uma aventura mais relaxada.

Mundo e história
Embora a história nunca tenha sido o ponto central da série, Pac-Man World 2 Re-Pac tenta dar um pouco mais de contexto à sua jornada. Tudo começa quando os quatro fantasmas clássicos — Blinky, Inky, Pinky e Clyde — invadem a pacífica Pac-Village e roubam o mítico Golden Fruit. O furto desperta Spooky, o Rei dos Fantasmas, que rapidamente espalha o caos e transforma os fantasmas em seus servos.
Com o mundo coberto por vinhas e criaturas hostis, Pac-Man parte numa missão para restaurar a ordem. É uma premissa simples e previsível, mas cumpre o seu papel: dar um motivo claro para correr, saltar e colecionar. A simplicidade da narrativa acaba por ser um ponto positivo, funcionando como um descanso entre as histórias cada vez mais densas que dominam os videojogos modernos.
O destaque está na apresentação. Pela primeira vez nesta trilogia de remakes, Pac-Man é totalmente dobrado, com Martin T. Sherman a regressar ao papel que interpretou em Pac-Man World 3. As falas curtas e sinceras do protagonista dão-lhe uma personalidade calorosa, tornando-o mais do que apenas um símbolo do passado. As cutscenes são poucas, mas bem produzidas, e o elenco completo de vozes ajuda a dar vida ao mundo.
Grafismo
Visualmente, Pac-Man World 2 Re-Pac é um salto notável face ao original. As cores vivas, o design polido dos níveis e a fluidez do movimento criam um espetáculo visual leve e agradável. O motor gráfico brilha sobretudo na variedade de ambientes: desde florestas tropicais até cavernas geladas e níveis subaquáticos, tudo é apresentado com uma nitidez e uma paleta de cores que evocam a era dourada dos jogos de plataformas em 3D, mas com um toque moderno.
As animações são suaves e expressivas, especialmente nas interações de Pac-Man com o ambiente. Há um cuidado especial em fazer com que cada cenário tenha pequenos detalhes — folhas que se movem, reflexos na água, efeitos de luz subtilmente animados — que enriquecem a experiência sem distraí-la.
No entanto, nem tudo é perfeito. Algumas secções mais experimentais, sobretudo na segunda metade, quebram um pouco o ritmo. Os níveis com patins ou segmentos subaquáticos introduzem boas ideias, mas nem sempre mantêm a mesma consistência de diversão. Ainda assim, são tentativas válidas de diversificar o gameplay, e nunca chegam a comprometer a qualidade geral.

Som
A banda sonora mantém-se fiel ao espírito alegre e nostálgico de Pac-Man. As melodias são cativantes, com temas que alternam entre o energético e o relaxante, dependendo do mundo visitado. Cada faixa é facilmente reconhecível e contribui para o tom leve e positivo do jogo. Os efeitos sonoros, por sua vez, preservam a identidade clássica da série, atualizados com maior clareza e impacto. Os sons familiares das bolinhas, dos saltos e das interações são imediatamente reconfortantes, transportando o jogador para uma atmosfera que mistura nostalgia e modernidade.
A dobragem merece também destaque. A voz de Martin T. Sherman dá vida a um Pac-Man expressivo e otimista, e as interpretações secundárias acrescentam humor e personalidade ao elenco. É uma melhoria significativa face aos remakes anteriores, e um sinal de que a Bandai Namco está a apostar em oferecer um produto mais completo e cuidado.
Conclusão
Pac-Man World 2 Re-Pac é mais do que um simples remake — é uma celebração do que os jogos de plataformas podem ser quando feitos com coração. Não tenta reinventar a série nem competir com os grandes nomes do género, mas sim oferecer uma experiência sólida, divertida e carregada de nostalgia.
A jogabilidade refinada, os controlos precisos e o ritmo equilibrado tornam cada nível prazeroso de jogar. A variedade de movimentos e os desafios opcionais dão-lhe longevidade, enquanto o conteúdo adicional — como as missões, os Time Trials e os minijogos arcade — acrescenta um valor de repetição que muitos jogos modernos negligenciam. Os pontos menos positivos, como as recompensas cosméticas pouco inspiradas e algumas fases com excesso de gimmicks, são facilmente perdoáveis face à consistência geral da experiência. A performance técnica é impecável, a direção artística é encantadora e o equilíbrio entre desafio e acessibilidade é exemplar.
No final, Pac-Man World 2 Re-Pac prova que há espaço no mercado atual para jogos de plataformas clássicos, desde que sejam bem executados. É um título que respeita as suas origens e, ao mesmo tempo, demonstra vontade de evoluir. Para fãs da série ou para quem apenas procura uma aventura alegre e bem construída, esta é uma viagem obrigatória ao coração colorido da nostalgia. Pac-Man continua a comer bolinhas, mas agora fá-lo com mais estilo do que nunca.