Análise: Shuffle Tactics

Shuffle Tactics é um roguelike tático por turnos com construção de baralhos, desenvolvido pela Club Sandwich e publicado pela The Arcade Crew. Com claras influências de jogos como Final Fantasy Tactics e Slay the Spire, esta combinação de géneros despertou logo o interesse de muitos jogadores. A ideia de juntar estratégia posicionada num tabuleiro com a aleatoriedade e profundidade táctica de um deckbuilder é, por si só, apelativa. Agora que o jogo foi finalmente lançado na sua versão completa, é altura de avaliar se a sua execução acompanha o potencial da premissa ou se The Glimmer – a corrupção que ameaça o mundo do jogo – também acabou por contaminar a experiência do jogador.

Jogabilidade

Em Shuffle Tactics, cada sessão consiste em percorrer um mapa com rotas ramificadas, enfrentando inimigos e recolhendo recompensas que permitem melhorar o nosso baralho e equipa ao longo da aventura. Começamos com o herói Doberknight, mas rapidamente desbloqueamos outros dois heróis jogáveis, bem como acesso a novas cartas e ajudantes – os Sidekicks – que se juntam à equipa.

Cada membro do grupo possui o seu próprio baralho, mão de cartas e recursos, o que introduz uma camada estratégica interessante: todos têm oportunidade de agir no seu turno, mas se um Sidekick for eliminado, perde-se acesso ao seu baralho até ao combate seguinte. Felizmente, a vida é restaurada e os Sidekicks ressuscitam entre batalhas, o que reduz alguma da frustração típica deste género. Um dos elementos mais únicos do sistema de combate é a presença de fogo amigo. As cartas afetam todos os alvos dentro do seu alcance, sejam aliados ou inimigos, e o mesmo se aplica aos ataques dos adversários. Isto obriga o jogador a pensar cuidadosamente em cada jogada, podendo até usar o dano em aliados como estratégia de reposicionamento ou sinergia com efeitos específicos. A profundidade táctica aumenta ainda com os encantamentos que podemos aplicar nas cartas, alterando o seu comportamento e impacto. No entanto, esses encantamentos não podem ser removidos, o que exige decisões ponderadas.

As batalhas nem sempre são simples confrontos diretos. Há lutas que exigem destruir obeliscos que invocam inimigos constantemente ou resistir a vagas sucessivas, o que torna cada decisão crítica. Um erro pode levar a um colapso da equipa, tornando-se difícil recuperar.

Mundo e história

A história de Shuffle Tactics é simples mas funcional. O reino de Asteria foi corrompido por uma entidade conhecida como The Glimmer, que transforma os seus habitantes em monstros e criaturas distorcidas. O objetivo é derrotar o rei Ogma e salvar o reino.

Embora o enredo principal não seja complexo, o jogo compensa com pequenos fragmentos de lore espalhados pelos comerciantes e NPCs que encontramos. Há conversas interessantes a ter com personagens afetadas pela corrupção, e quem se der ao trabalho de explorar e prestar atenção ao mundo que o rodeia, encontrará alguma profundidade escondida por detrás da fachada simplista.

Grafismo

Shuffle Tactics combina modelos 3D com sprites em estilo 8-bit para criar um visual peculiar. O destaque vai para as animações fluídas das personagens durante os combates, especialmente nos ataques especiais dos bosses, que são autênticos espetáculos visuais. O tabuleiro em grelha não compromete a beleza geral do ambiente, sobretudo graças ao uso inteligente de iluminação, que dá vida aos cenários.

No entanto, nem tudo é perfeito. A elevação do terreno e os múltiplos elementos no mapa podem dificultar a visibilidade, especialmente quando enfrentamos vários inimigos ao mesmo tempo. Embora possamos ajustar a câmara para uma vista superior, a presença de inúmeras barras de vida e efeitos visuais torna por vezes difícil ver o campo de batalha com clareza.

Som

A nível sonoro, Shuffle Tactics cumpre, mas não impressiona. Os efeitos dos ataques e habilidades são satisfatórios e os sons ajudam a transmitir o impacto das ações em combate. No entanto, a banda sonora é algo genérica, não se destacando particularmente nem contribuindo de forma marcante para a atmosfera do jogo. A ausência de vozes ou variedade sonora nos diálogos e momentos narrativos também faz com que o mundo pareça um pouco mais vazio do que poderia ser.

Conclusão

Shuffle Tactics é um roguelike tático com boas ideias e uma execução competente, mas ainda longe da perfeição. O sistema de baralhos individuais para cada membro da equipa, a presença de fogo amigo como mecânica estratégica e a possibilidade de personalizar cartas criam uma experiência de jogo envolvente e desafiante. A progressão lenta, aliada a um nível de dificuldade por vezes injusto e a bugs técnicos recorrentes, compromete parcialmente a experiência.

Ainda assim, os desenvolvedores têm vindo a lançar atualizações que corrigem muitos desses problemas, tornando o jogo mais estável e equilibrado. É também de louvar a inclusão de opções que permitem desbloquear rapidamente conteúdos para quem preferir explorar livremente ou sentir-se bloqueado na progressão. Se estás à procura de um roguelike tático com profundidade estratégica, Shuffle Tactics pode bem valer o teu tempo. Tem espaço para crescer e melhorar, mas já agora apresenta uma base sólida que poderá brilhar ainda mais com futuras atualizações. O mundo de Asteria merece ser salvo – só precisamos de mais uns quantos patches para o fazer com prazer.

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