Artis Impact apresenta-se como um RPG de ação em pixel art que combina um cenário pós-apocalíptico com uma narrativa centrada na convivência frágil entre humanos e inteligências artificiais. Colocando o jogador na pele de Akane, uma guerreira carismática acompanhada pelo seu parceiro Bot, o jogo propõe defender a aldeia de ameaças vindas de máquinas rebeldes enquanto desenvolve uma relação peculiar entre protagonista e companheiro.
À primeira vista, a premissa parece promissora, com espaço para explorar dilemas morais e sociais sobre a integração da inteligência artificial na vida humana. Contudo, embora o conceito inicial seja forte, o jogo nunca chega a alcançar todo o seu potencial narrativo. A história perde consistência ao longo do percurso, e por mais que Akane se destaque como personagem, muitos elementos narrativos acabam por se dispersar, criando a sensação de fragmentos interessantes em vez de uma trama sólida.
Ainda assim, Artis Impact tem uma identidade visual e sonora marcante, além de um sistema de combate fluído que merece destaque. É um título que mostra talento criativo, mas que falha em pontos fundamentais de escrita e progressão, comprometendo parte da experiência.
Jogabilidade
O sistema de combate é um dos pontos mais fortes de Artis Impact. Akane combate principalmente com espada, num estilo quase coreográfico que dá aos duelos uma fluidez rara em RPGs independentes. Existe um ritmo natural no encadeamento de ataques, e a variedade surge através das habilidades de suporte do Bot, que tanto pode curar como aplicar pequenos efeitos que diversificam as batalhas. A sensação de complementaridade entre os dois personagens é clara, e esse detalhe dá frescura às lutas.
No entanto, o equilíbrio da jogabilidade sofre com decisões estranhas, sobretudo no início. É possível encontrar chefes quase impossíveis de derrotar logo nos primeiros minutos, sem qualquer aviso ou restrição. A consequência é uma frustração precoce, já que a morte implica regressar ao último ponto de gravação ou, pior ainda, reiniciar o progresso. Esta escolha de design parece contradizer a atmosfera acolhedora que o jogo tenta criar noutros momentos.
Felizmente, Artis Impact oferece alternativas para além do combate. O tempo passado na aldeia é descontraído e caloroso: trabalhar numa loja de conveniência, conversar com comerciantes ou simplesmente passear pelas ruas torna-se um bálsamo após o peso dos confrontos. Há pequenos detalhes encantadores, como Akane ajoelhar-se para falar com crianças, que acrescentam humanidade ao jogo. Porém, é difícil ignorar que muitos jogadores podem desistir antes de chegar a esse lado mais acolhedor devido ao arranque punitivo.

Mundo e história
O universo de Artis Impact é rico em personalidade, mas carece de coesão narrativa. A ideia de explorar uma sociedade em que humanos e máquinas partilham um frágil equilíbrio poderia originar debates profundos, mas a execução raramente atinge essa ambição. Muitas linhas narrativas desaparecem sem conclusão, e a viagem de Akane acaba por se reduzir a encontros episódicos em vez de uma história contínua e cativante.
Um dos maiores problemas é a forma como o jogo trata algumas personagens femininas. Apesar de Akane ser escrita como forte e espirituosa, a presença de diálogos objetificantes ou redutores cria desconforto. Certos NPCs recorrem a estereótipos antiquados, e mesmo quando o jogo tenta ridicularizar esse comportamento, o impacto já se fez sentir. Situações como a introdução da personagem Billy, que se refere a mulheres sem lhes dar nome ou identidade, exemplificam esse desequilíbrio.
Esta abordagem mina o envolvimento emocional. O jogador quer mergulhar na história e acompanhar a relação entre Akane e Bot, mas acaba interrompido por linhas de diálogo que destoam do tom geral. A sensação é de um mundo com muito potencial, mas constantemente sabotado por escrita desatenta e incongruente.
Grafismo
Visualmente, Artis Impact é um espetáculo. O estilo pixel art é rico em detalhe e expressividade, conseguindo transmitir emoções nos rostos e posturas das personagens com uma clareza impressionante para a baixa resolução. A iluminação e a paleta de cores criam ambientes vivos, e cada cenário transmite personalidade própria.
O jogo surpreende ao alternar estilos artísticos sem perder identidade. Sequências em formato de painéis manga, a preto e branco, conferem energia e dramatismo a momentos-chave. Já o mundo virtual, com caixas flutuantes e paisagens glitch em tons de cinzento, contrasta fortemente com a estética habitual, reforçando a sensação de estranheza.
Outro detalhe notável é a integração do interface gráfico no mundo do jogo. Em vez de parecer um elemento externo, o design da interface mistura-se organicamente com os cenários e personagens, elevando a imersão. É um exemplo de como o grafismo de Artis Impact é não só bonito, mas também inteligente na forma como se apresenta.

Som
A componente sonora acompanha a qualidade visual, reforçando a atmosfera melancólica do jogo. A banda sonora baseia-se em piano suave, cordas delicadas e temas que evocam um sentimento de tristeza serena, combinando de forma perfeita com o tom da aventura. A música é tão envolvente que muitos jogadores acabarão por deixar o jogo aberto apenas para a ouvir em segundo plano. Os efeitos sonoros, ainda que discretos, cumprem bem a sua função. Não sobrecarregam a experiência, dando espaço à música, mas estão sempre presentes para reforçar ações e transições. Este equilíbrio cria uma paisagem sonora limpa, que apoia o jogador sem distrair.
Se a escrita narrativa falha em transmitir emoção de forma consistente, a música compensa com subtileza. Em vários momentos, a força emocional do jogo não vem das palavras, mas sim das notas que acompanham a jornada de Akane e Bot.
Conclusão
Artis Impact é um jogo que impressiona pela estética e dececiona pela narrativa. Akane é uma protagonista carismática, Bot é um companheiro memorável e o mundo pixelado ganha vida através de um grafismo de primeira linha e de uma banda sonora comovente. O sistema de combate, fluído e estiloso, complementa esta base com uma jogabilidade gratificante.
Contudo, o jogo tropeça em falhas importantes. O início é frustrante e mal equilibrado, a narrativa não se coaduna com a profundidade prometida e o tratamento das personagens femininas deixa um sabor amargo. Estes problemas retiram força àquilo que poderia ter sido uma experiência marcante e coesa.
No final, Artis Impact é um título que mostra talento e paixão, mas que precisa de maior cuidado na escrita e no design para atingir o seu verdadeiro potencial. Para quem valoriza visuais e música acima de tudo, é uma experiência memorável. Para quem procura uma narrativa sólida e respeitosa, pode ser difícil de recomendar sem reservas. É uma obra que, apesar dos erros, deixa claro que existe criatividade e visão por detrás do projeto, mas que precisa de ser refinada numa futura iteração.