Formula Legends tem sido, desde o lançamento, um jogo que vive numa linha muito própria entre a celebração histórica do desporto automóvel e uma abordagem bastante exigente à simulação. Não é um título que se ofereça facilmente a todos, mas é claramente pensado para quem aprecia carros, engenharia e o lado mais técnico da condução. O Tech Power Pack DLC surge como mais um capítulo dessa visão muito específica, apostando não na força bruta ou na velocidade pura, mas antes nas ideias mais arrojadas e, por vezes, quase excêntricas da história do automobilismo.
Depois do Raw Power Pack, que se focava em máquinas mais agressivas e potentes, este novo DLC vira o volante para outro lado: o das experiências técnicas, dos protótipos ousados e das soluções que desafiaram convenções. É um pacote que encaixa perfeitamente no ADN de Formula Legends, tanto nos seus pontos fortes como nas suas limitações. Visualmente impressionante, conceptualmente fascinante, mas também exigente ao ponto de afastar quem ainda espera algo mais próximo de uma experiência arcade.

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O Tech Power Pack DLC adiciona três novos carros ao alinhamento de Formula Legends, cada um representando uma abordagem radicalmente diferente à engenharia automóvel. Não são apenas variações estéticas ou pequenas alterações de performance; são máquinas que obrigam o jogador a reaprender a conduzir, a ajustar a forma como aborda as curvas e até a forma como gere os sistemas do próprio carro. O HexaTyre 34 é, sem grande discussão, a estrela do pacote. Trata-se de um carro multi-rodas que redefine completamente a silhueta tradicional de um monolugar. À primeira vista, parece quase um exercício de ficção científica aplicado ao automobilismo, mas rapidamente se percebe que há uma lógica muito clara por trás do design. As rodas extra oferecem um nível de tracção fora do comum, permitindo atacar curvas com uma agressividade que seria impensável noutros carros do jogo. A sensação de aderência é quase surreal, especialmente em curvas longas, onde o carro parece colado ao asfalto.
No entanto, essa vantagem vem acompanhada de uma complexidade acrescida. O comportamento físico do HexaTyre 34 é único e exige uma adaptação cuidadosa. Pequenos erros de aceleração ou travagem são amplificados, e a gestão dos sistemas técnicos, incluindo a bateria, torna-se crucial para manter um ritmo consistente. É um carro que recompensa precisão e paciência, mas que castiga duramente quem tenta conduzi-lo como se fosse um monolugar convencional. Ainda assim, é impossível negar o fascínio de o ver em pista, especialmente nas repetições, onde o seu design excêntrico se torna num verdadeiro espectáculo visual.
O TramTram Cyclone leva-nos de volta aos anos 70, uma era marcada por uma liberdade criativa quase sem limites no mundo da Fórmula. Este carro é uma ode a esse espírito experimental, com um foco muito claro na aerodinâmica e em soluções que, na altura, pareciam tão geniais quanto arriscadas. Em pista, o Cyclone é tudo menos previsível. A forma como reage às mudanças de direcção e às variações de velocidade obriga o jogador a desenvolver uma sensibilidade muito apurada ao volante. Dominar o TramTram Cyclone é um desafio em si mesmo. A aerodinâmica experimental faz com que o carro se comporte de maneira diferente consoante a velocidade e o ângulo de ataque, o que pode ser desconcertante nas primeiras voltas. No entanto, à medida que se vai compreendendo a lógica por trás do seu comportamento, começa a surgir uma sensação de controlo extremamente satisfatória. Não é um carro para corridas descontraídas, mas sim para quem gosta de estudar cada curva e extrair o máximo de uma máquina cheia de personalidade.
O Jorsey BeeSting é, talvez, o mais acessível dos três, embora isso não signifique que seja fácil de dominar. Inspirado nos anos 90, apresenta um design mais elegante e familiar, funcionando quase como um parente mais refinado do Jorsey introduzido num DLC anterior. Em termos de condução, oferece um equilíbrio interessante entre velocidade pura e estabilidade, tornando-o mais previsível do que os seus companheiros de pacote.
Apesar dessa abordagem mais tradicional, o BeeSting não deixa de ser extremamente rápido. A aceleração é impressionante e a resposta em curva é afiada, exigindo reflexos rápidos e uma boa leitura da pista. É um carro que agrada a quem prefere uma condução mais clássica, mas que ainda assim mantém a filosofia de exigência técnica que define Formula Legends. Não é um compromisso total com a acessibilidade, mas sim uma interpretação mais refinada do desafio. Do ponto de vista técnico e visual, o Tech Power Pack DLC mantém o padrão elevado do jogo base. Os modelos dos carros são detalhados, os materiais refletem bem a luz e cada máquina transmite uma identidade própria. Tal como já tinha sido evidente na análise ao jogo original, Formula Legends continua a ser um título belíssimo de se ver, especialmente em movimento. No entanto, essa beleza vem sempre acompanhada de uma barreira de entrada elevada.
Estes novos carros não foram pensados para facilitar a vida ao jogador. Pelo contrário, cada um acrescenta novas camadas de complexidade à simulação. A inovação aqui não serve como modo fácil ou como forma de suavizar a experiência; serve para aprofundar ainda mais o lado técnico do jogo. Para os fãs de simulação pura, isto é um prato cheio, cheio de pequenos detalhes para explorar e dominar. Para quem ainda sonha com uma abordagem mais leve e imediata, estas máquinas podem parecer quase punitivas.

Conclusão
O Tech Power Pack DLC é uma celebração das ideias mais estranhas, ousadas e fascinantes da história do desporto automóvel. Não se limita a adicionar carros novos; adiciona conceitos, desafios e uma nova forma de olhar para a engenharia dentro de Formula Legends. É um pacote que enriquece o jogo em termos de variedade visual e profundidade técnica, reforçando aquilo que o título faz melhor.
Ao mesmo tempo, também sublinha as limitações da experiência. Este continua a ser um jogo exigente, pouco tolerante a erros e claramente focado num público muito específico. Quem aprecia a história da tecnologia aplicada às corridas e gosta de enfrentar desafios complexos vai encontrar aqui muito para explorar e dominar. Quem procura uma experiência mais descontraída pode admirar estas máquinas à distância, mas dificilmente vai sentir-se totalmente confortável ao volante. No final, o Tech Power Pack DLC cumpre exatamente aquilo a que se propõe. É um pacote pensado para entusiastas, para jogadores que gostam de questionar o que sabem sobre condução e que não se importam de falhar várias vezes até encontrar o equilíbrio certo. Não torna Formula Legends mais acessível, mas torna-o mais rico, mais interessante e ainda mais fiel à sua visão original. Para quem já está investido no jogo, é uma adição quase obrigatória. Para os restantes, é mais uma prova de que este é um título tão fascinante quanto difícil de amar.