O Velho Oeste sempre foi um dos cenários mais icônicos dos videojogos, com clássicos como Red Dead Redemption a definirem o género. No entanto, poucos jogos têm arriscado em misturar o western com elementos de terror. Ritual: Crown of Horns é uma dessas raras experiências, trazendo uma abordagem arcade ao género horde, onde o jogador enfrenta vagas de inimigos em arenas fechadas enquanto protege uma misteriosa bruxa. A Draw Distance, um estúdio polaco conhecido pelo seu trabalho em jogos de terror, conseguiu criar uma proposta intrigante e desafiadora, embora nem todos consigam adaptar-se às suas mecânicas peculiares.
Jogabilidade
A jogabilidade de Ritual: Crown of Horns assenta numa estrutura simples, mas exigente. O jogador encontra-se confinado a pequenas arenas e tem de sobreviver a sucessivas vagas de inimigos, enquanto protege uma bruxa que está a realizar um ritual. Se a bruxa morrer, o jogo termina. Este elemento obriga a um equilíbrio constante entre a movimentação e a defesa, pois afastar-se demasiado pode deixá-la vulnerável, enquanto ficar parado por muito tempo leva a ser rapidamente cercado pelos inimigos. O jogo oferece um arsenal variado, começando com um simples revólver e expandindo para escopetas, espingardas e bestas. Para além das armas de fogo, o jogador tem acesso a feitiços poderosos, que se tornam essenciais para lidar com as hordas mais agressivas. Estes feitiços são ativados ao recolher as almas dos inimigos derrotados, incentivando um estilo de jogo agressivo e planeado. Existem também melhorias temporárias que podem ser obtidas durante as partidas, como recarga mais rápida ou aumento da quantidade de almas recolhidas.
A dificuldade é um dos aspetos mais marcantes do jogo. Ritual: Crown of Horns exige precisão e estratégia, e não permite que o jogador simplesmente dispare contra tudo o que aparece no ecrã. A curva de aprendizagem é acentuada e, para progredir, é necessário dominar o padrão de inimigos e as habilidades disponíveis. Existe também um modo de desafios que permite repetir níveis anteriores com objetivos adicionais, ajudando a melhorar as competências antes de avançar.

Mundo e história
A narrativa de Ritual: Crown of Horns foge ao convencional do western, introduzindo elementos sobrenaturais que tornam a experiência mais intrigante. O jogador assume o papel de um caçador de recompensas que, ao aceitar uma missão para eliminar uma bruxa, acaba por ser traído pelo governo que o contratou. Morto por criaturas demoníacas, é posteriormente ressuscitado pela mesma bruxa que deveria eliminar, formando uma aliança impensável para enfrentar o verdadeiro inimigo. A história é apresentada de forma minimalista, com pequenos diálogos entre as personagens e fragmentos de lore espalhados pelos cenários. Não há longas cinemáticas nem uma narrativa complexa, mas o suficiente para manter o jogador interessado no mundo e nas suas regras peculiares. A mistura de western com terror resulta numa ambientação singular, afastando-se dos clichês habituais do género.
Grafismo
Visualmente, Ritual: Crown of Horns opta por um estilo estilizado, com cores saturadas e um aspeto que lembra ilustrações de banda desenhada. Os cenários, apesar de pequenos, são bem trabalhados e apresentam uma boa variedade de ambientes, desde florestas sombrias a cidades abandonadas e campos infestados de criaturas demoníacas. As animações são fluidas e ajudam a transmitir a sensação de urgência durante o combate. Os inimigos têm um design grotesco e ameaçador, o que reforça o tom de terror do jogo. Há uma boa diversidade de criaturas, cada uma com padrões de ataque distintos, obrigando o jogador a adaptar-se constantemente. O protagonista e a bruxa também possuem um visual marcante, destacando-se no meio do caos das batalhas.

Som
A componente sonora de Ritual: Crown of Horns é um dos seus pontos fortes. A banda sonora mistura elementos clássicos de western com sons mais sombrios e atmosféricos, criando uma ambientação que reforça a tensão constante do jogo. Os efeitos sonoros são também bem trabalhados, com tiros impactantes e ruídos macabros das criaturas que adicionam uma camada extra de imersão. A dobragem é mínima, com os poucos diálogos do jogo sendo apresentados principalmente em texto. No entanto, a atuação vocal limitada encaixa bem na atmosfera do jogo, evitando exageros e mantendo o tom sombrio e misterioso.
Conclusão
Ritual: Crown of Horns é uma proposta interessante para os fãs de jogos de ação desafiantes e do género horde. A combinação de western com terror resulta numa experiência única, com um ambiente envolvente e uma jogabilidade que recompensa a prática e a estratégia. No entanto, a sua dificuldade elevada e mecânicas pouco convencionais podem afastar jogadores mais casuais. Para quem gosta de um bom desafio e não se importa de repetir níveis até dominar as suas mecânicas, este jogo oferece uma experiência gratificante e viciante. A jogabilidade precisa, o design estilizado e a atmosfera envolvente fazem de Ritual: Crown of Horns uma opção recomendada para aqueles que procuram algo diferente dentro do género de ação.