Superliminal é um jogo de puzzles que tenta explorar uma mecânica inovadora baseada na perspetiva e na perceção da realidade. Criado pelo estúdio Pillow Castle, o jogo coloca o jogador numa viagem onírica onde objetos mudam de tamanho consoante a forma como são observados e manipulados. Inspirando-se em clássicos do género como Portal, Superliminal procura desafiar a lógica convencional e criar momentos de surpresa e admiração. No entanto, apesar da ideia fascinante e de alguns momentos brilhantes, o jogo nem sempre consegue atingir todo o seu potencial. Entre soluções frustrantes e uma narrativa que falha em causar impacto, Superliminal acaba por ser uma experiência desigual.
Jogabilidade
A mecânica central de Superliminal baseia-se na forma como o jogador interage com o ambiente. Objetos podem ser redimensionados dependendo da perspetiva em que são colocados. Um pequeno bloco pode tornar-se gigantesco se for posicionado ao fundo de um corredor, ou uma porta pode surgir do nada se o jogador encontrar o ângulo certo. No início, esta ideia é verdadeiramente impressionante e os primeiros minutos são passados a brincar com as possibilidades, explorando as formas como a perceção altera o mundo ao redor. No entanto, à medida que o jogo avança, começam a surgir problemas. Superliminal não é um sandbox onde o jogador pode experimentar livremente, mas sim um jogo de puzzles estruturado de forma linear. Muitas interações são limitadas a objetos específicos, e há portas que impedem a passagem de certos itens entre áreas. Isto retira alguma da liberdade inicial e torna-se frustrante quando o jogador tenta aplicar soluções criativas que o jogo simplesmente não aceita. Para agravar a situação, existem momentos onde bugs impedem a progressão natural, tornando alguns puzzles mais frustrantes do que deveriam ser.

Mundo e história
Superliminal apresenta uma narrativa intrigante, mas que nunca se desenvolve de forma satisfatória. O jogador encontra-se num programa de terapia baseado em sonhos, onde é guiado pelo Dr. Glenn Pierce e por uma inteligência artificial. O objetivo parece ser explorar os efeitos da perceção na mente humana e aprender algo no processo. No entanto, apesar de algumas tentativas de criar mistério e tensão psicológica, a história nunca consegue gerar um verdadeiro impacto emocional. O jogo tenta criar uma sensação de isolamento e crescente desespero através de elementos ambientais, como mensagens perturbadoras e objetos dispostos de formas estranhas. No entanto, falta-lhe a urgência necessária para fazer o jogador sentir-se realmente preso ou ameaçado. As personagens também são pouco desenvolvidas e os diálogos tornam-se repetitivos, sem variações suficientes para gerar empatia ou surpresa. O humor que o jogo tenta introduzir também raramente resulta, deixando a história numa zona cinzenta onde não é suficientemente envolvente nem completamente descartável.
Grafismo
Visualmente, Superliminal consegue criar cenários interessantes e evocativos. O uso da perspetiva permite construir espaços que parecem impossíveis e desafiam a compreensão tradicional do espaço. Os ambientes são minimalistas, com cores suaves e uma iluminação cuidada, criando uma atmosfera onírica adequada ao tema do jogo. A forma como os objetos se transformam dependendo do ponto de vista do jogador é bem conseguida e há momentos onde a transição entre diferentes espaços é particularmente impressionante. Contudo, há também uma falta de variedade que se torna evidente ao longo do jogo. Muitas áreas têm uma aparência semelhante e não existe um verdadeiro sentido de progressão visual. Além disso, há situações onde o jogo apresenta erros gráficos, como texturas em falta ou falhas na transição entre objetos. Estes problemas são pouco frequentes, mas quando ocorrem podem quebrar a imersão e reduzir o impacto da experiência.

Som
A banda sonora de Superliminal contribui para a atmosfera surreal do jogo, utilizando temas suaves de piano e música ambiente para reforçar a sensação de um sonho. A trilha sonora tem um efeito calmante e combina bem com a estética do jogo, mas raramente se destaca de forma memorável. Os efeitos sonoros são funcionais, ajudando a reforçar as interações do jogador com o ambiente. No entanto, tal como o grafismo, também aqui existe uma falta de variedade. Os diálogos são um dos pontos mais fracos da componente sonora. Embora os atores façam um trabalho competente, as falas são repetitivas e não possuem a intensidade necessária para tornar a narrativa mais envolvente. O resultado é um design sonoro que funciona bem o suficiente para não ser um problema, mas que também não eleva a experiência de forma significativa.
Conclusão
Superliminal é um jogo com uma ideia brilhante e uma execução inconsistente. A sua mecânica central é genuinamente inovadora e nos primeiros momentos oferece uma experiência divertida e surpreendente. No entanto, a jogabilidade torna-se rapidamente restritiva e frustrante devido à falta de liberdade e aos problemas técnicos. A história, apesar do conceito interessante, nunca se desenvolve o suficiente para cativar, e a apresentação audiovisual é competente, mas pouco marcante. Para quem gosta de puzzles baseados na perceção e está disposto a ignorar algumas falhas, Superliminal pode ser uma experiência curiosa e ocasionalmente divertida. No entanto, para quem procura um jogo do calibre de Portal, com um design de puzzles mais refinado e uma narrativa envolvente, Superliminal pode saber a pouco. O jogo tem momentos brilhantes, mas nunca consegue concretizar todo o seu potencial, deixando uma sensação de que poderia ter sido muito mais do que realmente é.