Análise: To Hell With Hell

To Hell With Hell é um jogo que prometia uma experiência frenética e divertida no género dos twin-stick shooters, inspirado em títulos como Enter the Gungeon e Nuclear Throne. Desenvolvido pela Lazurite Games, o jogo entrou em Acesso Antecipado no Steam em 2018, gerando alguma curiosidade devido ao seu estilo visual e jogabilidade acelerada. No entanto, o desenvolvimento foi conturbado e, quando a versão final foi lançada em 2020, ficou claro que o jogo não conseguiu cumprir as suas promessas. Esta análise não é apenas uma avaliação de To Hell With Hell enquanto produto final, mas também um exemplo do que pode correr mal quando um jogo indie não recebe o polimento e suporte adequados. Embora a ideia de um shooter caótico passado no inferno tivesse potencial, a sua execução falhou em vários aspetos. Com problemas técnicos, uma jogabilidade inconsistente e uma falta geral de identidade, To Hell With Hell é um jogo que acaba por ser mais uma lição para desenvolvedores do que uma experiência recomendável para jogadores.

Jogabilidade

To Hell With Hell segue a fórmula clássica dos twin-stick shooters, onde o jogador controla a protagonista Natasia numa série de arenas repletas de inimigos. O objetivo é simples: disparar para tudo o que se mexe, evitar projéteis e tentar sobreviver aos desafios colocados pelo jogo. Existem diferentes máscaras que Natasia pode equipar, concedendo habilidades especiais e alterando a abordagem ao combate. Este sistema poderia adicionar profundidade ao jogo, mas a sua implementação deixa muito a desejar. O maior problema da jogabilidade de To Hell With Hell é a falta de fluidez e consistência. Em teoria, o jogo deveria oferecer ação rápida e reativa, mas na prática, os controlos parecem imprecisos e os tempos de resposta inconsistentes. Além disso, o desempenho técnico afeta diretamente a jogabilidade, com o jogo a sofrer de freezes e quedas de framerate em momentos aleatórios, prejudicando a experiência. Outro ponto negativo é a dificuldade artificial. Em vez de desafiar o jogador com padrões de ataque bem pensados e mecânicas equilibradas, To Hell With Hell opta por encher os ecrãs de inimigos de forma desorganizada, resultando em situações frustrantes. A morte muitas vezes parece injusta, e a progressão não oferece a sensação de recompensa que se espera de um jogo deste género.

Mundo e história

A narrativa de To Hell With Hell é simples e tem um tom humorístico. Natasia, a protagonista, é uma entretainer adulta que, devido a um erro durante uma atuação, acaba por cair no inferno. A premissa sugere que o jogo poderia brincar com temas relacionados com redenção ou punição, mas na prática, a história é quase irrelevante e serve apenas como um pano de fundo para a ação. O próprio inferno em que o jogo decorre não é explorado de forma significativa. Não há uma construção de mundo interessante ou um desenvolvimento de personagens que torne a jornada de Natasia envolvente. Comparado com outros jogos que retratam o inferno de maneira criativa, como The Binding of Isaac ou os títulos da série Diablo, To Hell With Hell parece superficial e sem identidade. O humor do jogo também não funciona como deveria. Embora tente ser provocador e irreverente, acaba por parecer forçado e sem grande impacto. Há um claro esforço para dar ao jogo uma personalidade distinta, mas a falta de profundidade na narrativa faz com que tudo pareça apenas uma desculpa para justificar a ação.

Grafismo

Visualmente, To Hell With Hell adota um estilo pixel art colorido e detalhado, tentando capturar a estética retro dos shooters clássicos. No entanto, a execução deixa a desejar. Os cenários são genéricos e repetitivos, sem grande variedade ou elementos que os tornem memoráveis. Os inimigos também sofrem do mesmo problema, com designs pouco inspirados que não se destacam dentro do género. A animação é outro ponto fraco. Os movimentos das personagens parecem rígidos e muitas ações não têm a fluidez necessária para um jogo de ação acelerado. Além disso, o feedback visual das armas e ataques não é suficientemente impactante, tornando os combates menos satisfatórios do que poderiam ser. Os efeitos visuais também contribuem para a sensação de um jogo inacabado. Há explosões e efeitos de sangue exagerados, mas a forma como são implementados parece pouco refinada. Em comparação com outros jogos do género, onde cada disparo e explosão têm um impacto claro e bem definido, To Hell With Hell falha em criar um estilo visual coeso e convincente.

Som

A componente sonora de To Hell With Hell é tão inconsistente quanto o resto do jogo. A banda sonora tenta acompanhar a ação com temas rápidos e intensos, mas a repetitividade das faixas faz com que percam impacto ao fim de pouco tempo. Não há uma grande variedade de músicas e, dado o tempo que o jogador passa em combate, seria de esperar uma maior atenção a este detalhe. Os efeitos sonoros também não impressionam. As armas não transmitem a sensação de poder que deveriam, e os sons dos inimigos não têm variedade suficiente para tornar os combates mais imersivos. O design de som deveria reforçar a ação e dar mais peso aos ataques e explosões, mas acaba por ser apenas funcional e sem grande destaque. A falta de polimento também se reflete na forma como o áudio é tratado pelo motor do jogo. Há relatos de bugs sonoros, onde certos efeitos se tornam demasiado altos ou desaparecem completamente, o que contribui para a sensação de que o jogo não foi devidamente finalizado.

Conclusão

To Hell With Hell é um exemplo clássico de um jogo que começou com potencial, mas acabou por falhar devido a um desenvolvimento problemático e a uma falta de acabamento. O conceito de um twin-stick shooter caótico passado no inferno poderia ter resultado numa experiência divertida, mas a execução deixa muito a desejar. A jogabilidade não é suficientemente refinada, os problemas técnicos prejudicam a experiência e a estética do jogo, embora tenha alguns momentos interessantes, não consegue criar uma identidade forte. A narrativa, que poderia dar alguma profundidade ao jogo, é superficial e pouco explorada. O maior problema de To Hell With Hell não é apenas a sua falta de polimento, mas o facto de parecer um jogo abandonado antes de estar pronto. A falta de suporte dos desenvolvedores e a ausência de atualizações para corrigir os problemas técnicos deixam claro que o jogo nunca atingirá o seu verdadeiro potencial. Com tantas alternativas bem executadas no género, como Nuclear Throne, Enter the Gungeon e Wizards of Legend, é difícil justificar a escolha de To Hell With Hell. A menos que seja um fã inveterado de twin-stick shooters e esteja disposto a lidar com as suas falhas, este é um jogo que não vale o tempo nem o investimento.

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