O género dos jogos de sobrevivência em mundo aberto está mais competitivo do que nunca. Desde experiências mais acessíveis como Valheim até propostas mais complexas como Enshrouded, os jogadores têm uma panóplia de escolhas quando se trata de explorar mundos vastos e construir o seu próprio destino. É neste panorama que surge Myth of Empires, um jogo desenvolvido pela Angela Game que tenta destacar-se com uma abordagem profunda ao sistema de progressão e uma clara aposta na liberdade de escolha. Myth of Empires tenta ser muito ao mesmo tempo. Com mais de mil receitas de crafting, servidores dedicados e um sistema de combate direcional, a proposta é claramente ambiciosa. Contudo, nem sempre a ambição se traduz numa experiência coesa e divertida. Ao longo desta análise, vamos perceber o que o jogo faz bem, onde falha e, mais importante, se vale ou não o investimento.
Jogabilidade
A jogabilidade é, sem dúvida, o ponto central de Myth of Empires. Com um sistema de progressão absolutamente massivo, os jogadores são convidados a especializar-se em diversas áreas, desde a agricultura até à construção de fortalezas e combate militar. A promessa de poder evoluir em praticamente qualquer disciplina é sedutora, mas rapidamente se percebe que há um preço a pagar: o tempo. Tudo neste jogo é incrivelmente lento. Desde o movimento do personagem até ao ritmo de evolução nas árvores de talentos, tudo parece pensado para prolongar artificialmente a experiência. Isto não seria necessariamente mau se estivéssemos a falar de um jogo gratuito ou de ritmo mais pausado, mas por 40 euros, a exigência de centenas de horas para desbloquear apenas uma fração do conteúdo parece exagerada.
A mecânica de combate direcional tenta introduzir alguma profundidade ao confronto corpo-a-corpo, mas acaba por se sentir estranha e pouco intuitiva, especialmente quando comparada com títulos como For Honor, que claramente serviu de inspiração. O sistema de crafting, apesar de robusto, torna-se esmagador pela quantidade de opções, e o sistema de progressão baseado em tarefas repetitivas e grind constante pode afastar muitos jogadores logo nas primeiras horas. Existe ainda um sistema de treino em modo idle, que permite ganhar experiência mesmo quando não se está a jogar, mas a sua implementação é fraca. Mais parece uma tentativa de colar um remendo num problema maior do que uma verdadeira funcionalidade útil. Entre fazer tarefas aborrecidas durante horas ou ganhar experiência passivamente sem jogar, nenhuma das opções é realmente satisfatória.

Mundo e história
Myth of Empires não apresenta uma narrativa tradicional. Tal como outros jogos do género, prefere deixar ao jogador a tarefa de criar a sua própria história. Esta abordagem é válida, mas nos dias de hoje, muitos títulos de sobrevivência já conseguiram encontrar formas de conjugar a liberdade de escolha com uma boa dose de lore e narrativa ambiental. Aqui, a sensação é de um mundo funcional, mas vazio de alma. Apesar de o ambiente e o design do mundo serem minimamente coesos, falta-lhe identidade. Há pouco incentivo para explorar além da recolha de recursos, e a ausência de personagens ou eventos marcantes torna a progressão ainda mais monótona. As interações com outros jogadores (especialmente nos servidores PvP) são onde se encontra algum dinamismo, mas isso depende sempre do tipo de servidor escolhido e da comunidade presente, que em muitos casos comunica quase exclusivamente em chinês, criando uma barreira adicional para jogadores ocidentais.
Grafismo
Graficamente, Myth of Empires cumpre com aquilo que se espera de um jogo moderno dentro do género. Não é particularmente inovador em termos artísticos, mas o seu aspeto visual é sólido. A nível técnico, o jogo corre relativamente bem, mesmo em máquinas mais modestas, o que é sempre de elogiar tendo em conta o seu tamanho e complexidade. O mundo é detalhado, as construções têm um aspeto convincente e os efeitos visuais são competentes. No entanto, há pouco que o destaque da multidão. Se já jogaste outros títulos como Conan Exiles, Rust ou Ark, não vais encontrar nada de novo aqui em termos visuais. Ainda assim, o trabalho técnico é competente e garante uma experiência fluida, mesmo que algo genérica.

Som
Se o grafismo se mantém num nível aceitável, o mesmo não se pode dizer do som. A música é composta por temas épicos que tentam reforçar o tom grandioso da experiência, mas acabam por ser pouco memoráveis. Pior ainda, o sistema de volume parece estar completamente desajustado, com faixas sonoras a surgirem de forma abrupta e a volumes desconfortáveis, mesmo com os sliders ajustados. Os efeitos sonoros são medianos, com muitos sons reciclados que já se ouviram em outros jogos do género. Há momentos em que se sente que alguns efeitos poderiam vir diretamente de jogos mobile, o que acaba por quebrar a imersão. Esta falta de cuidado no departamento de áudio não só prejudica a atmosfera, como reforça a sensação de que Myth of Empires é um produto ainda em construção, mesmo após o seu lançamento oficial.
Conclusão
Myth of Empires é uma proposta interessante que tenta oferecer uma experiência de sobrevivência profunda e complexa, mas acaba por tropeçar nos próprios sistemas que a deveriam fazer brilhar. A progressão lenta e altamente grindy vai, sem dúvida, agradar a um nicho muito específico de jogadores que gostam de investir centenas de horas num único jogo, mas para a maioria, o tempo exigido e o preço pedido não se justificam. Com gráficos competentes, uma boa quantidade de conteúdo e suporte para servidores dedicados e personalizados, há potencial para Myth of Empires crescer e melhorar. No entanto, neste momento, a experiência é demasiado desequilibrada, com uma curva de aprendizagem mal explicada, um sistema de combate pouco polido e um áudio que mais atrapalha do que ajuda. Se tiveres um grupo de amigos disposto a mergulhar de cabeça num jogo exigente e tiveres tempo para investir, Myth of Empires pode valer a pena. Caso contrário, é preferível procurar uma alternativa com um ritmo mais equilibrado e uma curva de entrada mais amigável. Afinal, nem todos os impérios estão destinados à grandeza, e este, infelizmente, parece mais um mito do que uma realidade.