Pax Augusta é um city-builder desenvolvido por Roger Gassman, um criador independente que, sozinho, conseguiu construir um dos jogos mais interessantes do género em tempos recentes. A proposta é clara desde o início: dar ao jogador um ambiente detalhado e historicamente rigoroso para construir a sua própria cidade romana. Com um foco mais estético e criativo do que mecânico, Pax Augusta posiciona-se como um verdadeiro parque de diversões para entusiastas de história romana, fãs de construção urbana e admiradores de jogos com atenção ao detalhe.
Este não é um jogo que tenta competir com os gigantes do género no que toca à profundidade económica ou complexidade de gestão. Em vez disso, Pax Augusta oferece uma experiência mais contemplativa, centrada na construção, na observação e na progressão visual de um pequeno povoado até uma metrópole repleta de mármore, templos, aquedutos e arenas. E, apesar de algumas limitações técnicas e mecânicas mais superficiais, é impossível não reconhecer a paixão e dedicação que o autor colocou neste projeto.
Jogabilidade
Ao contrário de outros city-builders mais técnicos como Banished ou Cities: Skylines, Pax Augusta apresenta uma jogabilidade mais simples e acessível. O jogo divide-se em vários modos, incluindo um modo história inspirado nos textos de Tácito, que contextualiza e guia o jogador ao longo de diferentes desafios. Mas o verdadeiro coração do jogo está no modo livre, onde a liberdade criativa reina.A construção é modular e orgânica. Começa-se com algumas casas de madeira mal amanhadas, mas à medida que os recursos vão sendo recolhidos e a cidade se expande, o jogador é incentivado a introduzir edifícios cada vez mais complexos. A jogabilidade baseia-se num sistema de classes sociais romanas, e cada grupo tem exigências distintas. Os cidadãos mais simples, como os libertos e peregrinos, pedem apenas comida, água e um lugar para enterrar os mortos. Já os senadores exigem luxos como termas, arenas, cerimónias religiosas e água corrente.
Existe um sistema de produção básico, com colheita de madeira, fabrico de tijolos e mineração, e até um mercado de escravos que introduz uma camada de realismo histórico. No entanto, quem procura uma economia robusta ou uma gestão urbana desafiadora poderá sentir falta de profundidade. Não há grandes penalizações, catástrofes naturais ou eventos que obriguem a repensar a estratégia. Pax Augusta é mais sobre construir com calma do que sobreviver à adversidade.

Mundo e história
A ambientação de Pax Augusta é um dos seus maiores trunfos. O jogo transporta-nos para as províncias ocidentais do Império Romano, nomeadamente a Gália, Germânia e o sul da Britânia. A escolha destas regiões permite uma certa diversidade geográfica e um contexto de fronteira interessante. Não estamos a jogar em Roma, mas sim nos limites do império, onde cada vila construída representa uma tentativa de impor ordem romana sobre territórios semi-selvagens. O modo história, ainda que simples, é enriquecido por referências históricas credíveis, particularmente aos escritos de Tácito. Esta abordagem dá algum corpo narrativo ao jogo, mesmo que não haja personagens nem enredos tradicionais. Em vez disso, a narrativa é construída pelo próprio jogador à medida que transforma uma aldeia em cidade. A ascensão social do próprio jogador também é representada, com a possibilidade de ganhar favor junto do imperador, desbloquear novos edifícios com promoções sociais ou até fundar novos assentamentos.
É importante referir que a construção do império em Pax Augusta não é apenas simbólica. O progresso é visível não só através da arquitetura mas também da organização urbana. As cidades evoluem de forma natural e reflectem o espírito expansionista romano. Há aqui uma tentativa clara de criar uma simulação fiel da urbanização romana, algo que os amantes de história irão certamente valorizar.
Grafismo
Visualmente, Pax Augusta é um projeto surpreendente tendo em conta que foi feito por um só criador. O jogo não impressiona pelo mapa-mundo, que é funcional mas pouco apelativo e por vezes confuso de navegar. No entanto, o verdadeiro espetáculo visual está nas cidades que o jogador constrói. Os modelos dos edifícios estão cheios de detalhe e refletem com fidelidade a arquitetura romana, desde pequenas casas a imponentes termas e templos. A modularidade dos edifícios permite criar cidades densas e visualmente diversificadas. Cada habitação pode ser expandida com anexos, jardins ou arcadas, criando bairros realistas e variados. A sensação de progresso urbano é constante, e há um enorme prazer em ver uma cidade crescer ao longo das horas de jogo. O modo fotografia é praticamente obrigatório, e é fácil perder tempo apenas a contemplar a obra construída. Há, claro, limitações. A interface nem sempre é clara, com alguns problemas ao tentar perceber porque não é possível construir em certos locais. Além disso, cidades muito grandes começam a causar quebras de performance, mesmo em máquinas potentes. Ainda assim, tendo em conta o alcance do projeto e os recursos disponíveis, o resultado visual é notável.

Som
A componente sonora de Pax Augusta não é o seu foco principal, mas cumpre o essencial. A música é discreta e adequada, acompanhando o ambiente com temas suaves e clássicos que reforçam a atmosfera romana. Não há uma banda sonora memorável, mas também não é intrusiva nem repetitiva, o que é um ponto positivo num jogo de longa duração como este. Os efeitos sonoros são funcionais. Há sons ambiente que ajudam a dar vida às cidades, como o som da água nos aquedutos ou o burburinho dos mercados. No entanto, a ausência de vozes ou sons mais específicos reduz um pouco a imersão, especialmente em comparação com outros títulos do género. Tal como outros aspetos do jogo, nota-se que a prioridade foi dada à componente visual e estrutural, deixando o som em segundo plano. Ainda assim, o que existe serve bem o propósito. A música não distrai e os efeitos ajudam a criar uma base auditiva coerente com o tema e a época histórica.
Conclusão
Pax Augusta é um jogo especial. Não é perfeito, nem tenta sê-lo. É um projeto feito por uma só pessoa, com paixão, atenção ao detalhe e uma visão muito clara: permitir ao jogador construir a sua própria cidade romana com liberdade e autenticidade. E nesse objetivo, é um sucesso. Os fãs de city-builders complexos podem sentir-se limitados pelas mecânicas mais simples e pela ausência de grandes desafios. Mas para quem procura uma experiência mais tranquila, focada na construção e na observação do crescimento de uma cidade ao longo do tempo, Pax Augusta oferece horas de prazer.
O jogo brilha na sua componente visual e no rigor histórico. A modularidade dos edifícios, o desenvolvimento das classes sociais e a forma como as cidades evoluem organicamente são elementos que tornam esta experiência única. É uma carta de amor à civilização romana e à arte de construir. Apesar de alguns problemas técnicos e falhas na interface, a experiência geral é surpreendentemente sólida. E considerando que tudo isto foi feito com tutoriais do YouTube e tempo livre, é impossível não ficar impressionado com o feito de Roger Gassman. Pax Augusta pode não ser um jogo para todos, mas para aqueles que o compreendem e valorizam, é uma pequena obra-prima escondida. Um tributo ao passado, construído no presente, com os olhos postos na paixão de criar.