Análise: Prelude: Dark Pain

O género RPG tático tem vindo a receber cada vez mais propostas interessantes nos últimos anos, especialmente por parte de estúdios independentes que procuram explorar fórmulas clássicas com novas abordagens. É nesse contexto que surge Prelude: Dark Pain, um jogo desenvolvido pela QUICKFIREGAMES, um pequeno estúdio espanhol que rapidamente chamou a atenção da comunidade com a sua campanha de Kickstarter. Em menos de 15 horas, conseguiram ultrapassar os 40 mil euros de financiamento, um feito notável que só demonstra o interesse que o projeto conseguiu gerar desde o seu anúncio.

Depois de experimentar a demo disponibilizada pelos criadores, tornou-se evidente que Prelude: Dark Pain não é apenas mais um RPG com combate por turnos. O título aposta fortemente numa narrativa madura, num sistema de combate profundo e num mundo sombrio e estilizado que promete captar os fãs de jogos com tons mais pesados e estratégicos. Com lançamento em Acesso Antecipado previsto para 2026 e uma versão completa em 2027, o jogo já se apresenta com uma base sólida e uma identidade marcante.

Jogabilidade

A jogabilidade de Prelude: Dark Pain é, sem dúvida, o seu ponto mais forte. O sistema de combate por turnos segue uma lógica em que as equipas atuam de forma conjunta, ao invés de ações individuais por personagem. Esta abordagem permite criar estratégias de posicionamento mais dinâmicas, onde o flanqueamento e o controlo do terreno têm um peso significativo. Atacar inimigos pelos lados ou por trás oferece vantagens táticas claras, e obriga o jogador a planear os seus movimentos com cuidado. Durante a demo, tivemos acesso a um conjunto de personagens jogáveis, incluindo Soren, o protagonista, e outras figuras que encaixam em arquétipos familiares mas bem executados, como o gigante de força bruta, o seu filho e uma arqueira. Cada um deles apresenta habilidades únicas que ajudam a diversificar o combate. O gigante, por exemplo, pode saltar diretamente para o meio dos inimigos, iniciando confrontos de alto impacto. Há também habilidades mais criativas, como a colocação de uma torre automática que dispara todos os turnos.

Outro aspeto que merece destaque é o sistema de pontos de habilidade. Estes não só permitem o uso de técnicas especiais, como também não encerram o turno ao serem utilizados. Isso dá ao jogador liberdade para conjugar ataques e movimentos num único turno, criando combinações mais elaboradas. Os pontos regeneram parcialmente a cada ronda, incentivando uma gestão equilibrada entre agressividade e conservação. Mas não é apenas no campo de batalha que a jogabilidade brilha. Prelude também inclui um sistema de gestão e construção de base, que promete adicionar mais uma camada estratégica à experiência. Embora esta componente ainda não esteja acessível na demo, sabe-se que o jogador poderá recrutar e cuidar de até 20 personagens, enviando-as em missões para recolher recursos e fabricar equipamentos. Esta vertente promete dar profundidade adicional à progressão do jogo, algo que falta em muitos títulos do género.

Mundo e história

O mundo de Statera é um lugar escuro, violento e implacável, onde o jogador assume o papel de Soren, um ferreiro que vê a sua família ser massacrada pela Ashen Crusade, um regime autoritário obcecado com a perseguição a tudo o que considera heresia ou feitiçaria. A história mergulha em temas maduros como perda, vingança, fanatismo e sobrevivência num mundo que parece ter perdido qualquer vestígio de humanidade. Apesar de a demo não revelar muito da narrativa em termos de desenvolvimento profundo de personagens secundárias ou arcos dramáticos, a construção do mundo e o tom geral da história já se destacam. A presença de escolhas com impacto e ramificações narrativas também está prometida pelos criadores, sugerindo que o jogador terá influência real sobre os caminhos que a história poderá tomar. Statera é apresentado como um universo coeso e cruel, onde cada decisão tem um custo, e onde as personagens não são apenas peões num tabuleiro de combate, mas indivíduos com histórias e motivações. A atmosfera narrativa parece beber de influências como Darkest Dungeon, Dark Souls e até Final Fantasy Tactics, o que resulta numa mistura muito própria e com bastante potencial.

Grafismo

Visualmente, Prelude: Dark Pain é um jogo com uma direção artística fortemente marcada por um estilo sombrio e estilizado. As cutscenes em particular são impressionantes, utilizando ilustrações reminiscentes de Darkest Dungeon, com linhas marcadas, expressões intensas e uma paleta de cores escura e dramática. Estes momentos conferem um peso emocional e visual à narrativa que ajuda a reforçar o tom maduro do jogo. Os cenários de combate são detalhados e atmosfericamente ricos. A demo apresenta uma sequência passada numa carruagem em movimento, o que demonstra não só a criatividade dos desenvolvedores, mas também o seu compromisso em criar batalhas memoráveis e contextos diferenciados. Os efeitos visuais das habilidades, embora ainda em estado preliminar, já mostram um bom nível de polimento e prometem melhorar com o tempo. As animações durante o combate são funcionais, com destaque para a clareza na representação dos efeitos das habilidades e das ações dos personagens. É notório que a prioridade foi criar um sistema de combate visualmente compreensível sem sacrificar o estilo artístico.

Som

A componente sonora de Prelude: Dark Pain é outro dos seus grandes trunfos. A banda sonora está a cargo de Kumi Tanioka, compositora conhecida pelo seu trabalho na série Final Fantasy Crystal Chronicles. Esta escolha revela ambição por parte do estúdio e traduz-se numa atmosfera sonora envolvente, que contribui fortemente para a imersão do jogador no mundo de Statera. Os temas musicais variam entre momentos melancólicos e tensos nas cutscenes, e composições mais épicas durante os combates, criando um contraste eficaz e apropriado ao ritmo do jogo. Embora a demo não inclua muita variedade sonora, aquilo que é apresentado já deixa antever uma banda sonora de grande qualidade e com personalidade própria. A nível de efeitos sonoros, há um bom trabalho de detalhe, com sons distintos para cada habilidade, impacto de armas, e movimentos no campo de batalha. O som da torre automática, por exemplo, destaca-se como um pormenor bem conseguido, contribuindo para a identidade da habilidade.

Conclusão

Prelude: Dark Pain é, neste momento, uma das propostas mais promissoras dentro do panorama dos RPGs táticos independentes. A demo mostra um jogo com uma fundação sólida, que alia um sistema de combate inteligente e flexível a uma narrativa sombria e adulta. A adição de uma camada de gestão fora do combate promete reforçar ainda mais a profundidade do título, tornando-o mais do que apenas uma sucessão de batalhas. A direção artística é coesa e marcante, a música de Kumi Tanioka eleva o ambiente geral e o tom emocional, e o mundo de Statera consegue capturar o jogador com a sua dureza e mistério. Tudo isto resulta num pacote que, mesmo em fase inicial, já consegue destacar-se num género repleto de concorrência. Se a QUICKFIREGAMES conseguir cumprir as promessas que deixou na demo e manter este nível de qualidade até ao lançamento, então Prelude: Dark Pain poderá facilmente tornar-se num título de referência para todos os fãs de RPGs táticos que procuram uma experiência mais densa e desafiante. É um jogo para manter no radar e que merece toda a atenção.

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