Análise: Chains of Freedom

Chains of Freedom é a mais recente aposta da Nordcurrent no género dos RPGs tácticos. Num mercado onde nomes como X-COM, Jagged Alliance e Fire Emblem definem a fasquia da qualidade, qualquer novo concorrente precisa de trazer algo verdadeiramente especial para se destacar. Chains of Freedom tenta encontrar o seu espaço ao misturar elementos de RPG táctico e RPG clássico, numa tentativa de equilibrar narrativa, combate estratégico e exploração. No entanto, apesar da ambição, o jogo parece perder-se na tentativa de agradar a demasiados públicos ao mesmo tempo, resultando numa experiência que, embora sólida em alguns pontos, fica aquém das expectativas noutras áreas fundamentais.

Jogabilidade

A jogabilidade de Chains of Freedom assenta numa base familiar para quem conhece os RPGs tácticos à la XCOM. Em combate, o sistema é funcional e oferece momentos de tensão e decisão táctica interessante. Contudo, fora do combate, o jogo tenta emular a estrutura de um CRPG como Baldur’s Gate 3, mas sem o mesmo nível de profundidade ou opções de escolha. As missões seguem uma narrativa linear, com pouco espaço para decisões morais ou variações significativas no desenrolar da história. A gestão de recursos é um aspeto importante, com a possibilidade de criar munições e consumíveis. No entanto, esta mecânica apresenta frustrações desnecessárias, já que nem todos os tipos de munição estão disponíveis para criação desde o início e dependem do progresso na campanha. As armas disponíveis são versões fictícias de armamento real, mas o combate corpo a corpo é pouco satisfatório, raramente compensando o risco de aproximação ao inimigo. O sistema de biocristais, que deveria adicionar profundidade estratégica ao desenvolvimento dos personagens, é irregular. Algumas habilidades são realmente úteis, mas muitas outras parecem ter pouco valor prático. Pior ainda, a expansão de capacidades dos personagens depende da descoberta de santuários de utilização única, retirando agência e consistência ao progresso da equipa. Esta solução parece uma substituição apressada de um verdadeiro sistema de evolução de personagens, deixando uma sensação de oportunidade perdida.

Mundo e história

Chains of Freedom apresenta-nos a Soberania, uma nação fictícia de inspiração Leste Europeia, que foi devastada pela praga EDEN. Esta doença misteriosa matou milhões e deixou outros tantos horrivelmente mutados, perdendo completamente as suas faculdades mentais. Um programa de imunização conseguiu controlar a praga, levando ao surgimento dos biocristais, resíduos que conferem poderes sobre-humanos a quem os utiliza. A premissa é promissora, mas a execução deixa muito a desejar. A narrativa sugere intrigas políticas, dilemas morais e camadas de conspiração, mas tudo isso é tratado de forma superficial. Não existem verdadeiras escolhas morais a fazer. As personagens são-nos impostas pela narrativa, sem a possibilidade de formação livre da equipa ou de influenciar o desenrolar da história através de decisões significativas. O enredo avança de forma arrastada e as missões acabam muitas vezes por se resumir a sobreviver a vagas de inimigos que surgem de todos os lados, em vez de um avanço estratégico mais coerente. A desconexão entre a história prometida e a experiência real é notória, criando um sentimento de desapontamento para quem esperava algo mais elaborado e envolvente.

Grafismo

Visualmente, Chains of Freedom apresenta um trabalho competente, mas longe de impressionar. O estilo gráfico é limpo e detalhado, permitindo distinguir facilmente unidades e inimigos, o que é sempre positivo num jogo táctico. As animações dos personagens e monstros são fluidas e naturais, contribuindo para uma ação visualmente agradável. Os efeitos especiais durante o combate são eficazes em transmitir impacto, ajudando a tornar as batalhas mais emocionantes. No entanto, o design da interface de utilizador deixa bastante a desejar. A falta de um bom suporte para utilização do rato e a apresentação pouco intuitiva dos custos de pontos de ação tornam fácil cometer erros durante o combate. A ausência de um sistema de mapeamento também dificulta a navegação nas zonas de exploração, especialmente quando é necessário encontrar itens ou completar objetivos específicos. Chains of Freedom é um jogo que, do ponto de vista visual, cumpre o mínimo necessário para ser funcional e agradável, mas não apresenta nada que realmente o destaque num género onde o impacto visual pode ser uma grande vantagem.

Som

No departamento sonoro, Chains of Freedom segue uma linha semelhante ao grafismo: competente mas pouco memorável. Os efeitos sonoros de explosões, tiros e criaturas são variados e eficazes em criar uma atmosfera de combate visceral. No entanto, a banda sonora é genérica e esquecível, falhando em criar momentos de verdadeira emoção ou tensão, tanto durante a exploração como nas batalhas. O voice acting é outro ponto misto. Se por um lado existe uma variedade considerável de vozes, muitas delas não encaixam com o ambiente que o jogo tenta transmitir. Supostamente passado numa região do Leste Europeu, a maioria das vozes soa demasiado americana ou britânica, quebrando a imersão e reforçando a sensação de que o cuidado com a narrativa não foi total. A falta de uma direção sonora mais coerente prejudica a experiência global. Num jogo onde a atmosfera deveria ser densa e envolvente, a música e as vozes deviam funcionar como pilares de suporte, mas acabam por ser mais um elemento que passa despercebido.

Conclusão

Chains of Freedom é um jogo que, apesar das boas intenções e de algumas ideias interessantes, não consegue atingir o nível de excelência que o género exige. A mistura de RPG táctico com elementos de CRPG poderia ter resultado numa experiência rica e profunda, mas a execução falha em quase todos os aspetos fundamentais, desde a narrativa até à progressão dos personagens. O combate é sólido e a apresentação gráfica é aceitável, mas as falhas na interface, a linearidade forçada da história e a falta de peso nas escolhas feitas retiram muito do potencial que o jogo poderia ter alcançado. O sistema de biocristais, longe de enriquecer a experiência, apenas adiciona mais uma camada de frustração à gestão da equipa. Chains of Freedom é, no seu estado atual, uma proposta que poderá entreter os fãs mais ávidos de RPGs tácticos durante algumas horas, mas que dificilmente deixará uma marca duradoura. É um título que precisava de mais foco, mais polimento e, acima de tudo, mais coragem para assumir uma identidade própria. No panorama atual, é apenas mais uma tentativa que fica aquém dos verdadeiros clássicos que procura imitar.

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