Imagine Earth é um título que à primeira vista parece mais um city builder com aspirações espaciais, mas rapidamente se revela como algo mais ambicioso e peculiar. Desenvolvido pela Serious Brothers, o jogo tenta conjugar a tradicional construção de colónias com uma forte componente de gestão ambiental, numa tentativa clara de apresentar uma alternativa ecológica aos típicos simuladores de cidades. Num cenário onde a Terra foi tornada inabitável por culpa do homem, Imagine Earth desafia-nos a repetir ou a evitar os mesmos erros em novos planetas. Com o adiamento indefinido da versão para consolas de Cities: Skylines II, Imagine Earth pode parecer uma solução viável para os jogadores em busca de uma nova experiência de construção. Contudo, apesar das suas ideias interessantes e mecânicas diferenciadoras, o jogo está longe de ser um substituto direto. Em vez disso, oferece uma abordagem mais estratégica e reflexiva, que se aproxima de Civilization em espírito, ainda que com um foco mais claro em temas ambientais e económicos.
Jogabilidade
Imagine Earth começa com uma premissa simples: gerir uma colónia em planetas distantes, garantindo o seu crescimento económico sem comprometer o equilíbrio ecológico. A jogabilidade divide-se entre o modo campanha, com vários cenários e objetivos definidos, e o modo sandbox, que permite ao jogador explorar o jogo livremente. Embora a campanha introduza bem as mecânicas, o modo sandbox acaba por ser o verdadeiro palco para a criatividade e gestão a longo prazo. A estrutura base do jogo assenta num sistema de expansão modular, onde cada parcela de terreno pode ser conquistada e desenvolvida com edifícios de produção, habitação ou investigação. Os recursos principais são energia, alimentos e materiais, todos com origem em fontes que podem ser sustentáveis ou não. A grande força do jogo está na necessidade constante de tomar decisões que equilibram eficiência e impacto ambiental. Poluir pode ser lucrativo a curto prazo, mas irá afetar o clima, reduzir a fertilidade do solo e aumentar o risco de desastres naturais.
Outro elemento interessante é o sistema de licenciamento de tecnologias. Em vez de seguir unicamente uma árvore tecnológica clássica, o jogador pode adquirir tecnologias já desenvolvidas por outras facções, pagando por isso. Este sistema introduz uma dimensão económica e estratégica interessante, aproximando-se de uma lógica de comércio realista. Esta mecânica, aliada à gestão de diplomacia com outras colónias, transforma Imagine Earth num jogo onde a guerra é substituída por competição económica, lobby corporativo e gestão de influência.

Mundo e história
O mundo de Imagine Earth apresenta-nos um futuro onde a humanidade esgotou a Terra e é forçada a procurar novos mundos. O jogador representa uma espécie de gestor ao serviço de uma corporação intergaláctica, a Imagine Earth, Ltd., incumbida de estabelecer novas colónias. Cada planeta representa um novo início, mas também um novo teste à nossa capacidade de aprender com os erros do passado. A narrativa é simples, mas eficaz. Serve sobretudo como pano de fundo para contextualizar as escolhas do jogador e reforçar a mensagem ecológica do jogo. A história é contada através de diálogos curtos e objetivos, sendo o tutorial no chamado Planet Tuto uma introdução leve e bem-humorada às mecânicas. Ao longo da campanha, diferentes planetas e biomas apresentam novos desafios, desde condições climáticas extremas até escassez de recursos, obrigando o jogador a adaptar constantemente a sua estratégia. Apesar da sua simplicidade, o universo do jogo é coerente e está bem construído. A ausência de conflitos militares reforça a ideia de que o verdadeiro inimigo é a má gestão dos recursos e a ganância desenfreada. Esta abordagem mais madura e crítica torna Imagine Earth num título raro dentro do género, com uma mensagem clara mas sem se tornar excessivamente moralista.
Grafismo
Visualmente, Imagine Earth destaca-se pela sua apresentação limpa e vibrante. Os planetas, ainda que pequenos e compactos, são representados com um nível de detalhe interessante, e a sua forma esférica facilita a navegação e dá uma sensação de mundo completo sem sobrecarregar o jogador. Este design mantém o jogo acessível e organizado, permitindo uma gestão eficaz sem a complexidade de mapas demasiado extensos. A grelha triangular usada para construção remete para os clássicos hexágonos de Civilization, mas com uma identidade própria. A escolha de cores, os efeitos visuais e a clareza dos menus tornam o jogo bastante legível, mesmo quando as colónias crescem. As animações são funcionais e ajudam a perceber o que está a acontecer em cada parcela do mapa, seja a construção de um edifício, a ocorrência de um desastre natural ou a degradação ambiental. Cada planeta tem o seu visual distinto, com variações nos biomas que vão desde desertos áridos a planícies tropicais. A variedade é suficiente para manter o interesse visual e reforçar a sensação de exploração e descoberta. Apesar de não ter gráficos de ponta, Imagine Earth compensa com uma direção artística bem conseguida e uma interface funcional.

Som
O som é talvez o elemento mais fraco de Imagine Earth. A banda sonora cumpre o seu papel, com temas calmos e atmosféricos que ajudam à imersão, mas raramente se destacam ou evoluem ao longo do jogo. É um acompanhamento competente, mas pouco memorável.
Já a componente vocal é bastante limitada. Durante o tutorial e as primeiras missões da campanha, há algumas vozes que ajudam a introduzir personagens e situações, mas essa presença vai diminuindo drasticamente com o tempo. No modo sandbox, por exemplo, quase não há qualquer atuação vocal, o que acaba por tornar a experiência mais estática e menos envolvente. Num jogo que procura transmitir uma mensagem e criar uma ligação emocional com o jogador, uma componente sonora mais rica poderia fazer uma grande diferença. Infelizmente, a sonoplastia não acompanha a qualidade das restantes áreas, e o jogo perde alguma da sua força por isso.
Outro ponto negativo está relacionado com a estabilidade técnica. Durante as sessões de jogo, é frequente o jogo bloquear ou encerrar subitamente, especialmente quando o planeta é rodado com rapidez. Estes crashes tornam-se ainda mais frustrantes quando ocorrem em momentos críticos da gestão, comprometendo a fluidez da experiência.
Conclusão
Imagine Earth é um jogo com uma visão clara e uma execução honesta. Não tenta ser um substituto de SimCity nem competir diretamente com Cities: Skylines. Em vez disso, posiciona-se como uma alternativa estratégica com consciência ecológica, onde o objetivo é construir um futuro melhor, planeta a planeta. A sua mecânica de licenciamento de tecnologia, o equilíbrio constante entre economia e ambiente e a ausência de conflitos militares tornam-no numa proposta refrescante dentro do género. Contudo, o jogo tem dificuldades em manter o interesse a longo prazo, especialmente para quem procura uma experiência de construção de cidades mais tradicional. A limitação no design sonoro, os problemas técnicos e a falta de profundidade em certas áreas impedem-no de atingir um patamar mais elevado. Ainda assim, para quem aprecia jogos de estratégia com uma componente ambiental forte, Imagine Earth oferece uma experiência diferente, inteligente e pertinente. Não é um jogo perfeito, mas é um título que vale a pena conhecer, especialmente num panorama onde poucos jogos tentam conjugar ecologia e gestão de forma tão direta.
Imagine Earth é, no fundo, Civilization no espaço com uma forte dose de sustentabilidade. Uma proposta ousada e relevante, que talvez não agrade a todos, mas que merece ser reconhecida pelo que tenta fazer.