Twilight Monk é um metroidvania desenvolvido pela Aquatic Moon Studio e publicado pela Gravity Game Arise, baseado no universo já estabelecido pela própria Aquatic Moon em bandas desenhadas e romances ilustrados. Este mundo ganha agora vida num videojogo que presta homenagem a clássicos como Zelda II: The Adventure of Link da NES, com uma mistura entre progressão RPG, combate em 2D e um mapa superior em perspetiva top-down. Com cerca de 13 horas de duração, Twilight Monk apresenta-se como uma experiência sólida e bem polida, com um sistema de jogo fluido e um mundo visualmente impressionante. Apesar de algumas falhas em áreas específicas, o jogo mostra um cuidado notável nos pormenores e é um excelente exemplo de como revitalizar mecânicas do passado com uma abordagem moderna.
Jogabilidade
A estrutura de Twilight Monk assenta numa dualidade que relembra de imediato Zelda II. Existe um mapa do mundo em perspetiva superior onde o jogador se desloca entre vilas, masmorras e outros locais de interesse. Este mapa funciona como uma rede de ligação entre as diferentes zonas jogáveis em 2D sidescroller, onde decorre a maior parte da ação. Ao explorar o mapa, é possível encontrar monstros errantes que iniciam combates laterais, o que cria uma dinâmica interessante de risco-recompensa durante a exploração. O protagonista, Raziel Tenza, empunha a Phantom Pillar, uma arma enorme e versátil que define o ritmo do combate. Pode ser arremessada, usada como escudo, plataforma ou até em movimentos mais elaborados, como o seu pontapé característico. No entanto, algumas destas habilidades estão bloqueadas atrás de talismãs que ocupam slots valiosos, o que limita desnecessariamente o arsenal base do jogador. É uma pena que ataques tão divertidos não estejam disponíveis desde o início.
O combate em si é responsivo e prazeroso, e nunca se torna cansativo. Para além da Phantom Pillar, Raziel também tem acesso a armas secundárias que utilizam energia e são cruciais para lidar com inimigos à distância, sobretudo porque os itens de cura são escassos. A progressão RPG permite aumentar a força do personagem e a sua resistência, havendo também vários colecionáveis que aumentam a vida máxima. A movimentação melhora significativamente à medida que se desbloqueiam novas habilidades, desde o clássico salto duplo até um dash aéreo, que seria mais útil se funcionasse também como esquiva. Mais tarde, o jogador pode usar ganchos nas paredes, transformar a Pillar numa espécie de gancho ou alcançar velocidades supersónicas semelhantes ao Speed Boost de Samus em Super Metroid. Estas habilidades, embora não inovadoras, são extremamente bem implementadas e tornam a exploração gratificante.

Mundo e história
Twilight Monk decorre no mundo de Speria, uma terra de fantasia inspirada nas artes marciais e nos mitos orientais. O protagonista é um dos últimos Moonken, uma linhagem de monges guerreiros ligados à Lua. A sua missão é impedir que Nox, um traidor da sua ordem, reúna um conjunto de anéis mágicos que podem libertar uma entidade apocalíptica. Apesar desta premissa, a narrativa é bastante leve e serve apenas de pretexto para a exploração e combate. Há diálogos com personagens não jogáveis e algumas cenas de exposição, mas o foco do jogo está claramente na ação. No entanto, o mundo em si é tão interessante e visualmente apelativo que é fácil ficar investido na sua atmosfera, mesmo sem uma história profundamente envolvente. A construção do universo é sólida, e sente-se que há uma história maior por detrás do que nos é apresentado. A sensação de aventura está sempre presente, com um mundo que apela à curiosidade e que recompensa a exploração, ainda que a navegação nem sempre seja intuitiva devido a algumas falhas no sistema de mapas.
Grafismo
Este é, sem dúvida, um dos pontos mais fortes do jogo. Twilight Monk exibe um estilo visual desenhado à mão, cheio de cor, detalhe e personalidade. Cada cenário, desde cavernas sombrias a vilas vibrantes, está cuidadosamente construído para criar uma sensação de lugar vivo e coeso. As zonas mais escuras nunca parecem monótonas ou sujas, graças a uma excelente utilização de sombras e paletas cromáticas. As animações dos personagens, tanto dos aliados como dos inimigos, são fluidas e distintivas. O design de Raziel é icónico, e os retratos usados durante os diálogos dão mais vida às interações, mesmo que o texto não seja particularmente memorável. Nota-se claramente que a Aquatic Moon, sendo um estúdio focado na arte, aproveitou este projeto para demonstrar todo o seu talento visual. O resultado é um jogo que se destaca imediatamente pela sua aparência, conseguindo ser simultaneamente nostálgico e moderno.

Som
A componente sonora de Twilight Monk, apesar de não ser tão marcante como o grafismo, cumpre o seu papel de forma competente. As músicas de fundo acompanham bem os ambientes, alternando entre temas mais calmos durante a exploração e composições mais intensas durante os combates. Não há faixas particularmente memoráveis, mas o trabalho sonoro cria uma boa ambiência e contribui para a imersão. Os efeitos sonoros são bem implementados, especialmente os associados ao uso da Phantom Pillar. Cada impacto transmite peso e poder, reforçando a satisfação do combate. Não há vozes, o que pode ser visto como uma limitação, mas considerando o estilo retro que o jogo homenageia, essa escolha acaba por se integrar bem no conjunto.
Conclusão
Twilight Monk é um exemplo claro de como a paixão e a atenção ao detalhe podem elevar um projeto indie. A sua estrutura inspirada em Zelda II, combinada com mecânicas modernas de metroidvania, resulta numa jogabilidade viciante e recompensadora. O combate é divertido, a exploração é gratificante e o grafismo é simplesmente deslumbrante.
Ainda assim, o jogo não está isento de falhas. A principal crítica vai para o sistema de mapas, que carece de informações úteis para o jogador, tornando a navegação desnecessariamente confusa. Algumas habilidades essenciais estão escondidas atrás de restrições pouco justificáveis, e a narrativa podia ter sido mais explorada, dado o potencial do universo. No entanto, estas são falhas menores face ao que Twilight Monk consegue alcançar. É uma aventura sólida, com uma execução polida e um mundo memorável. Para os fãs de metroidvanias e de jogos com ADN retro, é uma experiência a não perder. Aquatic Moon Studio conseguiu criar um título que homenageia o passado enquanto constrói algo com identidade própria. Twilight Monk é, sem dúvida, um dos grandes lançamentos indie do género.