Seth é um jogo que procura fundir dois géneros muito populares entre os jogadores mais exigentes: os roguelikes e os FPS de ritmo acelerado. A premissa é simples mas cativante: assumimos o papel do deus egípcio Seth na sua batalha contra Apophis, enfrentando hordas de inimigos e bosses implacáveis. No entanto, aquilo que diferencia este jogo é o seu estado ainda bastante precoce de desenvolvimento. Participar nesta fase inicial é um misto de promessa e frustração, com mecânicas interessantes já presentes, mas ainda envoltas em muitos elementos provisórios. Apesar das limitações atuais, Seth já revela uma base sólida que poderá ser refinada numa experiência viciante e memorável.
Jogabilidade
A jogabilidade de Seth assenta num equilíbrio entre armas de fogo, combate corpo-a-corpo e habilidades especiais. Mesmo com apenas três armas disponíveis, estas conseguem oferecer estilos de jogo distintos. O destaque vai para a espingarda Anubis, que incorpora um gancho capaz de puxar inimigos ou, no caso de inimigos maiores, puxar o jogador até eles. Este detalhe não só quebra a monotonia como exige pensamento tático, especialmente em níveis com armadilhas e precipícios. A sensação de disparo é sólida e satisfatória, o que é essencial num FPS. O combate corpo-a-corpo desempenha um papel vital, uma vez que é através dele que recuperamos o escudo, incentivando uma abordagem agressiva. No entanto, o alcance e o tempo de espera do ataque físico precisam de afinação, pois um erro pode custar caro. A diversidade de inimigos ainda é reduzida e o comportamento da IA nem sempre é consistente, mas há momentos de criatividade, como o inimigo pesado que inverte a física do gancho.

Mundo e história
Apesar de ainda não haver uma verdadeira narrativa desenvolvida no jogo, Seth apresenta uma premissa mitológica com bastante potencial. A ideia de jogar como uma divindade egípcia em decadência, a tentar recuperar o seu poder e travar uma batalha contra Apophis, tem força temática suficiente para alicerçar algo mais profundo no futuro. Por agora, o foco está no ciclo de combates, mortes e renascimentos, característico dos roguelikes. Entre as corridas, existe a promessa de algum tipo de progressão e restauro da divindade, o que poderá indicar a existência de um sistema de progressão metajogo mais à frente. A possibilidade de combinar poderes de diferentes deuses também acrescenta alguma riqueza ao universo e à forma como abordamos cada nova tentativa.
Grafismo
Neste ponto, é impossível ignorar o estado precoce do jogo. Muitos elementos gráficos ainda estão por terminar, com níveis e inimigos a exibirem padrões de teste temporários que retiram imersão. Apesar disso, os visuais que já estão implementados indicam uma direção estilística interessante, com uma atmosfera que mistura ruínas antigas com uma estética sobrenatural e agressiva. O design de algumas armas e inimigos mostra criatividade, mesmo que a falta de texturas completas torne difícil apreciar o todo. Com o tempo e atenção ao detalhe, Seth poderá vir a ser visualmente impressionante. O uso de armadilhas, portais e plataformas saltitantes já ajuda a dar alguma variedade visual aos níveis.

Som
A componente sonora de Seth ainda é bastante básica. Os efeitos sonoros das armas funcionam, com algum impacto nos disparos, mas não se destacam. A música de fundo cumpre a função de manter o ritmo, mas ainda falta uma identidade sonora marcante que ligue o jogador ao mundo e aos perigos que enfrenta. Seria interessante ver uma banda sonora mais dinâmica e contextual, que reagisse à intensidade do combate ou à presença de bosses. Também se sente a ausência de vozes ou ruídos mais característicos dos inimigos, algo que poderia melhorar a ambientação e a resposta emocional aos encontros. Com mais polimento e criatividade, o som poderá contribuir bastante para a imersão.
Conclusão
Seth apresenta-se como um projeto ambicioso, ainda muito longe da sua versão final, mas já com um núcleo de jogabilidade promissor. Os sistemas principais estão implementados de forma funcional, com boas ideias como o gancho da espingarda, a recuperação de escudo através do corpo-a-corpo e a influência dos deuses egípcios nas habilidades. Contudo, a escassez de conteúdo, a repetição dos upgrades e os visuais por finalizar limitam fortemente a longevidade e o apelo imediato. O jogo poderá afastar jogadores menos tolerantes a versões alfa, mas para os que gostam de acompanhar um projeto desde cedo e ver o seu crescimento, Seth é um título a ter debaixo de olho. Com mais variedade de armas, inimigos, habilidades e uma direção visual consolidada, tem tudo para se tornar um FPS roguelike de referência. Neste momento, é uma promessa com pernas para andar, à espera de ser concretizada com criatividade e ambição.