Net.Attack() é um jogo que se insere claramente na vaga de títulos inspirados por Vampire Survivors, mas fá-lo com um toque muito próprio. Embora mantenha alguns dos alicerces do género, como ondas de inimigos, recolha de experiência e crescimento de poder do jogador ao longo do tempo, é a forma como tudo isso é moldado pelo tema da programação e do hacking que distingue este jogo. Desde logo, não é uma experiência pensada apenas para relaxar ou disparar freneticamente. Net.Attack() exige raciocínio, experimentação e alguma afinidade com conceitos de programação, o que o torna tanto intrigante como potencialmente frustrante para quem não domina ou não quer dominar esta linguagem de lógica.
Jogabilidade
A base da jogabilidade segue o modelo já bem conhecido: o jogador enfrenta hordas de inimigos, recolhe orbes de experiência e vai fortalecendo a sua personagem. No entanto, é na implementação destas mecânicas que Net.Attack() começa a divergir. Em vez de um mapa aberto onde sobrevivemos o maior tempo possível, o jogo apresenta uma estrutura mais próxima dos roguelikes clássicos. Avançamos de nível em nível, cada um com circuitos, nós e perigos únicos, com recompensas e objetivos próprios. O jogador recolhe dois tipos de recursos: experiência e dinheiro. A experiência serve para desbloquear melhorias passivas, como maior velocidade de movimento ou resistência. Já o dinheiro é onde as coisas se tornam realmente interessantes: em vez de comprar armas ou habilidades, o jogador adquire “nós”, blocos de código que podem ser combinados para criar ataques personalizados.
O sistema é ao mesmo tempo inovador e exigente. Um nó isolado não faz nada. Um nó que causa dano, por exemplo, precisa de ser ligado a um gatilho para ser ativado. A complexidade aumenta com modificadores, tempos de execução, multiplicadores, entre outros elementos. A criação de armas torna-se, assim, um exercício de lógica e experimentação, em que cada nova combinação pode resultar num ataque devastador ou numa função inútil.

Mundo e história
Net.Attack() apresenta-se com um forte tema de hacking, e isso está refletido tanto no design como na estrutura narrativa implícita. O jogador é um hacker que invade sistemas representados por placas de circuitos, recolhe dados valiosos convertidos em dinheiro e precisa de escapar antes que os firewalls se ativem. Não existe uma narrativa tradicional com diálogos, personagens ou eventos, mas há uma coerência temática que torna o jogo apelativo. Cada nível é como um novo sistema a invadir, com layouts distintos e obstáculos a ultrapassar. A sensação de estar a navegar num ambiente digital é bem conseguida, e a ideia de “programar” ataques reforça esta ligação ao universo do hacking. Mesmo sem uma história linear, Net.Attack() consegue criar um mundo que parece coeso e com identidade.
Grafismo
O estilo visual de Net.Attack() aposta numa estética retro-futurista que casa bem com o seu tema. Os níveis são compostos por placas de circuitos, cabos e interfaces digitais, evocando um ambiente de ciberespaço com um certo charme nostálgico. As personagens e inimigos têm um aspeto simples, mas funcional, e os efeitos visuais dos ataques criados pelo jogador destacam-se bem, ajudando a perceber o que se está a passar mesmo quando o ecrã fica caótico. Embora a variedade visual ainda seja algo limitada, devido ao estado de acesso antecipado do jogo, o estilo é suficientemente claro e apelativo para suportar longas sessões de jogo. A clareza visual é particularmente importante num jogo com tantas possibilidades personalizadas, e Net.Attack() faz um bom trabalho nesse sentido.
Som
A componente sonora do jogo cumpre o seu papel sem se destacar demasiado. A música segue uma linha eletrónica discreta que contribui para a atmosfera cibernética sem se tornar repetitiva ou cansativa. Os efeitos sonoros são funcionais, com feedback claro para cada tipo de ataque ou evento no ecrã, o que ajuda a reforçar o impacto das combinações de nós criadas pelo jogador. Não se trata de uma banda sonora memorável, mas também não compromete. Para um jogo que aposta mais no lado cerebral e estratégico, o som serve como pano de fundo eficaz, sem roubar o protagonismo à jogabilidade ou confundir o jogador com excessos.

Conclusão
Net.Attack() é uma proposta original dentro de um género saturado. Ao introduzir um sistema de armas baseado em lógica de programação, o jogo não só desafia os reflexos do jogador, como também a sua capacidade de pensar de forma estruturada e criativa. Esta abordagem vai, inevitavelmente, dividir o público. Quem tiver conhecimentos de programação, ou simplesmente gostar de experimentar e aprender, vai encontrar aqui um terreno fértil para horas de exploração e otimização. Por outro lado, quem procura ação imediata e acessível pode sentir-se rapidamente afastado pelo grau de complexidade envolvido.
Apesar de ainda estar em acesso antecipado e de carecer de maior variedade em níveis e personagens, o jogo já mostra um polimento notável e uma direção clara. É um daqueles projetos com uma identidade própria forte, que não tenta agradar a todos, mas que pode apaixonar profundamente um nicho específico de jogadores. Net.Attack() não é apenas um jogo sobre sobreviver a ondas de inimigos, é uma aula interativa sobre como transformar lógica em poder destrutivo dentro de um ciberespaço imaginado. Se a ideia de programar as tuas próprias armas dentro de um jogo te entusiasma, então esta é uma experiência que vale a pena acompanhar e apoiar.